Quarta onda de Covid? Entenda o cenário da pandemia no Ceará e no Brasil

Profissionais de saúde divergem sobre uma possível nova onda, mas cogitam retomada de medidas como uso de máscaras para conter novos casos

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Profissional faz teste de Covid em paciente
Legenda: Baixa procura por testagem e subnotificação de casos de Covid no Ceará preocupam especialistas
Foto: Thiago Gadelha

Faz 2 anos desde que o coronavírus causou o primeiro “boom” de casos e mortes no Ceará, no pico da 1ª onda. De lá para cá, as medidas preventivas nunca estiveram tão relaxadas como agora, momento em que a positividade dos testes tem aumentado e que exige cuidado, como alertam especialistas.

Desde março, a proporção de exames positivos cresce discretamente: naquele mês, 4,6% dos pacientes testados positivaram para Covid; em abril, 5,1%; já em maio, 7,7% da população que passou por testagem receberam diagnóstico da doença.

Por outro lado, a procura dos cearenses por fazer o exame de Covid é cada vez mais baixa, o que gera uma subnotificação preocupante, como analisa Lígia Kerr, médica epidemiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).

“Estamos iniciando uma 4ª onda. Ainda não sabemos até quando pode chegar ao topo, mas seguramente o Brasil todo está em crescimento da Covid. Estudos mostram que o número de pessoas com sintomas está muito acima dos casos suspeitos ou notificados”, frisa.

No Brasil como um todo, de cada 100 testes, 30 deram positivo, nas últimas semanas. A tendência é aumentar e seguir o padrão dos EUA, com enorme subnotificação.
Lígia Kerr
Epidemiologista e professora da UFC

Para o infectologista Keny Colares, “ainda não é possível falarmos em 4ª onda no Ceará”, uma vez que os principais indicadores, de casos e óbitos, estão “estáveis em níveis baixos”. Por outro lado, o aumento da positividade de testes nas redes pública e privada “preocupa mais”.

“Isso mostra que a doença está circulando. A vigilância dos esgotos também indica aumento da presença do coronavírus. O que preocupa é a possibilidade de os casos estarem acontecendo e não serem notificados”, pondera Keny, que atua no Hospital São José (HSJ), em Fortaleza.

Impacto da vacinação

A epidemiologista Lígia Kerr explica que na grande onda de casos de Covid vivenciada pelo Ceará em janeiro, a população havia tomado mais recentemente a 2ª dose ou o reforço da vacina contra a doença, o que conferia maior proteção.

Agora, ela frisa, o cenário é distinto. “A proteção para óbitos ou internações requer reforços, especialmente nos idosos. E essa proteção está caindo, por isso foi aprovada a 4ª dose, que poucas pessoas já foram tomar”, alerta.

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"Pessoas de 18 a 40 anos também devem estar com a imunidade mais baixa. Nessas faixas, o percentual de pessoas que não tomaram a 1ª dose de reforço é grande. Outra situação bastante séria são as crianças, é importantíssimo que sejam imunizadas", diz Lígia.

Uso de máscaras no Ceará deve voltar?

O comemorado fim do uso de máscaras no Ceará, em 15 de abril, foi uma “decisão errada” e que contribui para uma possível 4ª onda de Covid, como analisa a médica Lígia Kerr. Segundo a especialista, é preciso reverter essa liberação.

“Vários estados estão retornando o uso de máscaras em locais fechados. É importantíssima a vacinação completa e a volta às máscaras, que não deveriam ter sido retiradas, para evitar que a Ômicron se replique e volte com outras mutações”, destaca Kerr.

Estamos brincando com um vírus que ainda não conhecemos por completo. Devemos ser mais prudentes com uma doença que ainda pode ser letal. Até onde uma nova onda pode chegar depende das nossas atitudes.
Lígia Kerr
Epidemiologista e professora da UFC

O médico Keny Colares analisa que em estados como São Paulo e Rio Grande do Sul “já existe aumento de casos suficiente para discutir o retorno das máscaras”, o que mostra que são os indicadores epidemiológicos que continuarão a ditar a liberação ou retorno de medidas preventivas.

“Imagino que nos próximos meses ou anos a gente tenha maiores ou menores restrições, de acordo com as flutuações de casos. Precisamos permanecer vigilantes, mas tocar a vida adiante”, finaliza o infectologista.

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