Obras para reabrir Mercados dos Pinhões e da Aerolândia custariam R$ 5 milhões
Os equipamentos costumavam ser um único e chegaram à cidade no final do século XIX.
Duas das construções mais antigas e conhecidas de Fortaleza, o Mercado dos Pinhões e o Mercado da Aerolândia enfrentam desgastes na estrutura e seguem fechados para a população. Para reabri-los, estudos técnicos da Prefeitura indicam ser preciso investir mais de R$5 milhões em reformas.
Os dois equipamentos, tombados pelo Município desde 2008, não têm previsão de reparos às vésperas dos 300 anos da cidade. Apesar disso, há interesse em revitalizar os dois históricos polos de cultura da cidade, segundo o Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Histórico-Cultural de Fortaleza (Comphic).
Em reunião no mês de outubro, cuja ata foi publicada no Diário Oficial do Município no dia 19 de novembro, os conselheiros foram informados pela gestão municipal que "já existe um orçamento para recuperação dos mercados".
Helena Barbosa, titular da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), explicou que "foi pactuado com o prefeito (Evandro Leitão) o que será prioridade para ser entregue no aniversário de 300 anos de Fortaleza, e uma delas é o restauro e reforma dos mercados".
Procurada pelo Diário do Nordeste, a Secultfor informou que a reforma dos dois equipamentos gira em torno de R$5,5 milhões. Contudo, sobre a execução de obras, a Pasta declarou apenas que "foram realizados estudos técnicos preliminares e o diálogo é permanente com a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf)".
Enquanto isso, o Mercado dos Pinhões está fechado desde a gestão anterior, "em virtude do seu estado de precariedade, assim como o Mercado Cultural a ele anexado". A situação foi atestada por laudo técnico da Coordenadoria de Patrimônio Histórico e Cultural (CPHC).
Por se tratar de um bem tombado, a Secretaria disse que ele requer um restauro técnico complexo e oneroso, com investimento estimado de R$ 2,8 milhões. Por conta do tombamento, também compete à Secultfor a aprovação do projeto de reforma e acompanhamento de qualquer obra.
Já o Mercado da Aerolândia - fechado desde 2020 -, embora não seja gerido pela Secultfor, também necessita de uma grande reforma, com custo previsto de R$ 2,7 milhões.
"A Secultfor prevê a inclusão de orçamento no seu Plano Plurianual (PPA) e segue em busca de outras fontes de financiamento, por meio de parcerias e captação de recursos externos, no sentido de viabilizar o restauro dos mercados ainda em 2026", finalizou a Pasta.
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A ‘Belle Époque’ dos mercados
Há 128 anos, a estrutura original dos dois equipamentos foi inaugurada na antiga Praça Carolina, atual Praça Waldemar Falcão, no coração de Fortaleza. Nascidos como um só, chamado de Mercado de Ferro, o ambiente funcionou 40 anos como um ponto comercial de carne fresca e verduras.
Em 1937, entretanto, a popularidade e proximidade do Mercado Central vinham trazendo concorrência para o outro polo. A decisão de desmembrá-lo em dois, em diferentes espaços, aconteceu no mesmo ano.
Nascem então, no ano seguinte, os descendentes dessa história. O Mercado da Aerolândia, localizado na BR-116, foi inaugurado dia 20 de março de 1938. Seu "irmão", o Mercado dos Pinhões, instalou-se na Praça Visconde de Pelotas (Pinhões) em 12 de julho do mesmo ano.
As peças utilizadas na realocação dos espaços foram obtidas da obra original. Com a influência francesa da famosa “Belle Époque” alencarina no século XIX, o material veio da Europa e configurou a primeira construção em ferro de Fortaleza.
Abandono da Aerolândia
Passados 70 anos, a então prefeita Luizianne Lins (PT) decretou, por seus valores simbólicos e histórico-culturais, o tombamento de ambos os imóveis.
Ao final de 2015, o Mercado da Aerolândia concluía um processo de revitalização que prometia, inclusive, transformar o ambiente em um polo de cultura semelhante ao dos Pinhões. Contudo, a estrutura foi fechada cinco anos depois, em 2020, na época da pandemia da Covid-19.
O espaço, assim como o original, também funcionava como um ponto de vendas, comercializando frutas e verduras, carne, peixe, cereais e, inclusive, almoço. Além de tudo, ele e o irmão compartilhavam a fama dos Pré-Carnavais.
Apesar do tombamento, a conservação do espaço não vingou. Em 2024, a Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf) propôs desmontar e transferir o equipamento, novamente, para o Centro de Fortaleza. O órgão pretendia reunir ambos os dois Mercados outra vez, em um novo espaço na Praça Visconde de Pelotas.
Entretanto, o governo municipal voltou atrás na decisão após moradores da região do Alto da Balança se manifestarem contrários à transferência do espaço.
Carnavais enferrujados
Famoso pela vida noturna e parte da história dos Carnavais alencarinos, o Mercado dos Pinhões construiu seu nome no limite entre Aldeota, Centro e Praia de Iracema. A gastronomia, os bares que o cercam e os shows no espaço configuram a estética que faz do equipamento um ambiente tão querido pelos fortalezenses.
O ressurgimento como um polo cultural, em contraste com o irmão comerciante, veio 60 anos após sua inauguração. Em 1998, o governo municipal realizou uma reforma que deu início à fama de boêmio.
Já em 2020, a pandemia também foi prejudicial ao espaço, que deixou de ter o mesmo fluxo de visitantes desde o período de lockdown.
Apesar de seu funcionamento permanecer até hoje, o Mercado compartilha algumas dores de conservação: a ferrugem em diversos pontos estruturais permanece danificando o equipamento.
*Estagiária sob supervisão da jornalista Dahiana Araújo.