A importância dos ciclos para a vida
Em que momento da sua vida chega 2026? Em que ciclo?
O término de um ano nos confronta com os sentidos e a existência dos ciclos da vida. Somos seres de tempo e espaço. Encontramos ciclos na natureza e construímos sentidos e significados para as experiências do vivido.
Enquanto seres de cultura atribuímos palavras e representações ao que transcorre no tempo. Enquanto humanidade, temos um processo histórico e um existir norteado por ritmos e percursos que se repetem de forma diferente e nos transformam.
Temos a experiência do nascimento, do desenvolvimento, da finitude. Temos o tempo marcado por semanas, por dias, por meses, por anos. Os ciclos nos ajudam a repensar o vivido, elaborar a vida, olhar internamente, olhar externamente, reajustar rotas.
A noção cíclica do tempo e dos marcadores que iremos construir sobre isso, é uma dimensão humana muito importante que diz da forma de organizarmos a vida, organizar as relações, nos prepararmos para as primeiras vezes, para as perdas, para as rupturas, para os recomeços, para a esperança.
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Esses eventos que atravessam culturas, que absorvem elementos de uma determinada cultura e as ressignificam, nos fazem pensar sobre o encerramento de ano como momento para olhar internamente, poder pensar na existência, na esperança de que um novo dia virá e como são paradoxais e dialéticos os términos e recomeços.
Em que momento da sua vida chega 2026? Em que ciclo?
Essa ideia de que a cada dia é possível reinventar, de que é possível renascer, de que o sol, representando a possibilidade do nascimento, da fertilidade, da plantação, da fonte da vida, da esperança, que traz como simbologia essa ideia dos ciclos que se repetem, ou seja, dos ciclos que são necessários para a vida.
Nos lembra que cada encerramento de ano é uma bela metáfora sobre a vida, e instiga a cada um e a todos sobre a eterna possibilidade de renascer.
Essa ideia de que a todo dia alguma coisa muda, todo dia alguma coisa precisa ser renovada, todo dia a gente precisa se aperfeiçoar, de que tem algo que a gente se despede, tem algo que chega, encontra no Natal e no Réveillon uma certa síntese disso.
São ciclos que se complementam: o nascimento do menino Jesus e o nascimento de um ano novo.
Essas duas correlações de nascimento são fontes de esperança e reflexão. Sobre como é possível articular o tempo histórico com o tempo na natureza, como esses dois nascimentos podem nos fazer refletir sobre os encontros, as alegrias, a necessidade de acolher, de ver o outro, de entender a importância da simplicidade, do perdão, do diálogo, da amizade.
Um tempo que faz um entre, que cria um intervalo, para que as famílias possam se pensar no que precisa renascer, ser modificado, naquilo que precisa que abramos espaço nas nossas relações, no nosso afeto, nos nossos vínculos, para ser alegria de amor e vínculo todo dia, para ser diferente a nossa raiva, a nossa agressividade, para ser diversa a nossa forma de diálogo, a nossa forma de perdoar. Para que o ano nos encontre dispostos a aprender e evoluir.
Existem os que estão começando, os que já caminharam muito, os que precisam desfazer o caminho, os que estão em momento de ajudar no caminho dos outros, os que ainda irão descobrir e construir o caminho.
É momento de avaliar se cuidamos bem dos que precisam de nós; se damos atenção a quem amamos, se estamos cuidando bem de quem somos, se perdoamos, se fomos perdoados, aquilo que esse ano precisa fazer parte do nosso tempo e daquilo que precisa ir e não mais voltar.
O fim do ano é ao mesmo tempo um momento de celebrar o que foi conquistado, de celebrar a presença das pessoas que a gente tem na vida, de agradecer pela presença dos bons trabalhos, dos amigos, da família, daqueles que fazem fraternidade na vida da gente.
São também daqueles que estão próximos e nos oferecem colo, daqueles que nos ensinam, daqueles que cuidam da gente, daqueles que nos ajudam a lidar com os prazeres, com as dores e com os trabalhos, com as adversidades e com os problemas da vida.
Ao mesmo tempo, é uma festa de gratidão e de celebração de esperança. Comemoramos a possibilidade de plantar, de cuidar e de sermos capazes de colher e de semear coisas boas; que estamos vivos por mais um ciclo, que não estamos sozinhos e que o mundo é grande e que existem muitas possibilidades de interagir e conviver.
As festas coletivas são extremamente importantes, porque trazem essa dimensão da solidariedade, da fraternidade, da diversidade, da comunhão e da força do coletivo. O coletivo é fonte de vida, é fonte de esperança, de proteção, de saúde mental.
Além disso, traz a marca dessa dimensão do ciclo como uma possibilidade sempre aberta de um recomeço para estar com, para conviver.
Quando nos reunimos para uma celebração coletiva, o outro é visto como igual, irmanado no ritual, isso fortalece vínculo e pertença, pois estamos unidos na celebração por um ano que será para todos.
O ritual do ano novo, nos convoca a dialogar com o nosso tempo, com a nossa vida, com as nossas referências existenciais, nossos desejos.
A pensar sobre o que permanece, o que mudou e o que precisa mudar nas relações familiares, o que precisamos comemorar, quais ciclos precisamos encerrar, o que temos a agradecer, mas também o que necessitamos transformar, renovar, fortalecer.
Que possamos olhar internamente, para o que precisa manter-se vivo e o que precisa vir a ser: a dimensão da esperança, da criatividade, do amor, da fé, da caridade, da saúde, do cuidado, que são elementos muito importantes para sustentar a vida.
Que ainda tenhamos muitos ciclos, que possamos nos reinventar por muitos anos, que tome para si a responsabilidade do ano que lhe cabe, para ser e fazer luz e alegria no seu ciclo e no ciclo do outro.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.