O que aconteceu com o Vaqueirinho de Mauriti?
Menino de 12 anos foi encontrado morto no último dia 6 de maio
Era uma vez um menino chamado Thiago Martins, de 12 anos, que sonhava em ser vaqueiro.
“Ele começou a gostar de vaquejada ainda pequeno. Tinha um dom para domar cavalos, andava sem sela, e dizia que queria ser vaqueiro. Ele sonhava em ter um parque de vaquejada e ajudar a mim, tirar a mãe do trabalho. Tiraram esse sonho dele”, conta Josiele Martins, mãe do menino.
Desde 6 maio, ou seja, há mais de 5 meses, quando o corpo do menino foi encontrado, a família enfrenta com indignação e impotência dois sentimentos: o luto e o silêncio das autoridades.
“Eu não entendo por que não tenho uma resposta. Eu só quero justiça pelo amor do meu filho. Eu queria que a polícia me dissesse o que sabe, que outras pessoas maiores pudessem entrar nesse caso. Aqui ninguém faz nada”, diz a mãe.
O corpo do Vaqueirinho foi encontrado dentro de um precipício que fica perto do local onde foi realizada a vaquejada de Mauriti. Ele tinha saído de casa três dias antes. Apesar de menor de idade, a família deixou que o Vaqueirinho fosse trabalhar na vaquejada a convite de um vizinho que é corredor em pegas de boi e ganha dinheiro com isso.
"O corpo estava de bruços. Tinha um urubu em cima dele. E nós reconhecemos pelas roupas dele. Estava muito machucado", conta Sérgio Pereira, amigo da família que participou das buscas.
O laudo cadavérico aponta que o menino pode ter sido torturado e morto antes de ter o corpo arremessado no penhasco.
- Fraturas nas costelas, com laceração pulmonar e colapso do pulmão, compatíveis com causa direta do óbito;
- Perda de três dentes da frente (11, 12 e 22), com ferimentos nos lábios e mucosa, sugerindo golpe direto na face;
- Equimose extensa no braço esquerdo, indicando trauma enquanto o adolescente ainda estava vivo;
- Contusões nos cotovelos e tornozelos, compatíveis com tentativas de defesa ou resistência.
“O exame pericial diferencia com clareza as lesões que ocorreram antes da morte, caracterizadas por equimoses e sinais vitais de reação orgânica, das alterações post mortem decorrentes da ação do meio", afirma a advogada Lizandra Juca, que tem acompanhado a família.
Cobrados mais de uma vez pela imprensa, a Secretaria da Segurança Pública e o MPE não designaram delegado e promotor de justiça a falarem sobre o que está acontecendo. No caso da SSPDS, apenas informa que as investigações continuam e que foi pedido mais prazo para encerrar o inquérito. O MP segue em silêncio para este jornalista e outros da região.
No local do achado do corpo, foi erguida uma cruz sobre uma estrutura caiada. Fica num mirante e atrás é possível ver um mar de placas fotovoltaicas. Por causa do sol forte e do preço relativamente acessível de imóveis, parte da agricultura em Mauriti tem dado lugar a usinas solares, mudando a paisagem do Sertão.
É o desenvolvimento que chega, sem trazer consigo o avanço civilizatório. É a contradição de um país onde a infância e a adolescência das famílias pobres são desrespeitadas. Uma nação que naturaliza o extermínio do seu futuro. Um menino de 12 anos torturado até a morte teve o corpo arremessado num vão, e a família segue sem resposta.