Dinheiro para pedalar? Projeto vai testar bonificação para quem usar bicicleta em Fortaleza
Iniciativas de inovação querem ampliar a quantidade de usuários do modal na cidade
Fortaleza deve receber, neste mês, um projeto para testar um modelo de bonificação monetária para quem utilizar bicicleta. Na prática, quanto mais pedala, mais a pessoa acumula pontos. Além da remuneração por quilômetro pedalado, a expectativa é que um aplicativo credenciado possa oferecer prêmios, como brindes ou cupons de desconto de patrocinadores.
A ideia foi um dos três projetos selecionados pelo edital de inovação aberta do programa Pedala Mais, da Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação de Fortaleza (Citinova), com valor global de R$174,5 mil, conforme o Diário Oficial do Município (DOM).
O aplicativo de bonificação teria como objetivo incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte diário. Para isso, os usuários poderiam se cadastrar no app para registrar e validar viagens feitas tanto com bicicletas próprias quanto com o sistema Bicicletar.
Segundo o presidente da Citinova, Luiz Alberto Sabóia, o aplicativo terá um algoritmo para identificar se o usuário está se locomovendo a pé, de carro ou de bicicleta. “Ele registra aquela viagem e a partir daí se controla o quanto pedalou e se pode pensar em uma política de remuneração, de premiação, de bonificação, que algumas cidades já estão fazendo”, detalha.
Ele lembra que o projeto é um teste, e a possível remuneração pode ser implementada com recursos da parceria do programa internacional Iniciativa Bloomberg para Infraestrutura Ciclável (BICI).
“São testes piloto, não quer dizer que essas ideias serão expandidas como política pública. Se esses testes se revelarem exitosos, caberá à próxima gestão fazer o seu juízo e entender se ela quer expandir”, explica, referindo-se ao governo do novo prefeito eleito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT).
O conceito de inovação aberta que a Citinova faz é esse: lançar um problema e esperar que a sociedade, os seus inovadores, os seus pesquisadores, os seus estudiosos, os seus acadêmicos e suas startups proponham soluções.
Além do aplicativo de bonificação, o edital de inovação da Citinova escolheu mais duas iniciativas: a Safe Lane, da STW Brasil, e as Bicicletas elétricas para entregadores, da Serttel.
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Cruzamentos mais seguros
Entre 2015 e 2019, Fortaleza registrou 568 colisões entre bicicletas e outros veículos em interseções - ou cruzamentos, como são mais conhecidos. Para minimizar esses acidentes, os sensores do Safe Lane foram projetados para detectar a presença de ciclistas nas ciclofaixas e acionar luzes de LED para alertar motoristas que estão prestes a fazer conversões.
“Quando o sinal verde abre, muitas vezes o ciclista passa e tem algum carro que vai fazer uma conversão, aí o carro conflita com o ciclista. Então, esse projeto à noite, principalmente, cria mais um alerta visual para que o motorista preste atenção ao converter. É tudo automático”, garante Sabóia.
A reportagem questionou quais são os possíveis cruzamentos previstos para receber o Safe Lane; a Citinova informou apenas que está “estudando o melhor local para testes considerando fluxo de ciclistas e aplicabilidade do equipamento”.
Bicicletas para entregadores
Fortaleza tem, atualmente, 100 bicicletas elétricas incorporadas no sistema de compartilhamento. Com essa configuração, também está previsto o teste de um modelo de compartilhamento alternativo para entregadores de delivery a baixo custo, por meio de parcerias com empresas e o setor público.
“A proposta busca aprimorar o modelo já utilizado no Bicicletar, adaptando-o para as demandas dos entregadores em ergonomia, autonomia, velocidade, praticidade e usabilidade. As bicicletas serão compartilhadas em estações ou galpões e acessadas via aplicativo para smartphones ou pelo Bilhete Único”, sugere a Citinova.
Luiz Alberto Sabóia afirma que já existem experiências semelhantes em outros países, com o incremento de bicicletas cargueiras e adaptadas. “A ideia é que essas bicicletas sejam compartilhadas em estações específicas, através de um aplicativo, mas em um contexto de trabalho”, ressalta.
Crescimento da malha
Lançado em 2023, o Pedala Mais Fortaleza tem como meta dobrar o número de usuários de bicicleta em Fortaleza, passando de 5% para 10% nos próximos 10 anos.
Segundo o programa, isso também passa pelo crescimento da malha cicloviária. Nos últimos anos, ela chegou a um total de 478,8 km. Até o fim de 2024, a meta é alcançar os 490 km.
O Pedala Mais é impulsionado pela Iniciativa BICI, programa da Bloomberg Philanthropies gerenciado pela Global Designing Cities Initiative (GDCI) para a implementação de projetos relacionados à ciclomobilidade.
Encontro mundial
Para discutir essas e outras iniciativas, em dezembro, Fortaleza também sediará um encontro mundial de cidades comprometidas com o tema. O BICI Technical Meeting acontece de 3 a 5 de dezembro, com a presença de equipes técnicas das outras 9 cidades integrantes do programa:
- Adis Abeba (Etiópia)
- Bogotá (Colômbia)
- Lisboa (Portugal)
- Milão (Itália)
- Mombaça (Quênia)
- Pimpri-Chinchwad (Índia)
- Quelimane (Moçambique)
- Tirana (Albânia)
- Wellington (Austrália)