Suspense made in Ceará: série gravada no interior do Ceará explora fósseis e romarias em thriller

“Prazeres Insanos - Paleontologia do Medo” está em fase de produção e passará por cidades como Juazeiro do Norte, Barbalha, Crato, Santana do Cariri, Assaré e Aurora

Escrito por
Diego Barbosa diego.barbosa@svm.com.br
Na imagem, estátua de Padre Cícero em Juazeiro do Norte
Legenda: Religiosidade, musicalidade, reisado, penitentes e o próprio Padre Cícero serão contemplados de modo direto na série
Foto: Kid Júnior

E se o Ceará fosse palco para uma história de suspense com toda a riqueza de nossa cultura? É a proposta de “Prazeres Insanos - Paleontologia do Medo”, série em fase de pré-produção cujo desejo é imprimir a marca da terrinha num gênero ainda pouco explorado em produções daqui. O panorama da abordagem deve ser grande.

Religiosidade, musicalidade, reisado, penitentes e o próprio Padre Cícero serão contemplados de modo direto. Também o sítio arqueológico presente em solo cearense e tudo o que nele está ganharão evidência no enredo. 

A trama é objetiva, com cinco episódios na primeira temporada. Renato, um professor universitário, Doutor em Paleontologia, é solteiro e vive cercado por um universo próprio. Essa atmosfera particular envolve caçar mulheres, fazendo delas vítimas.

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O feminicídio, assim, emerge como um dos temas centrais da atração. “A cultura do Cariri estará fortemente apresentada no projeto ao lado das cenas, ilustrando as locações, e será personagem viva do processo, participando das elucidações dos fatos”, detalha Lamarck Dias, diretor da série. Segundo ele, a equipe já está prestes a entrar em set para rodar as cenas. 

No total, de 300 a 400 pessoas estão envolvidas no trabalho. Apenas a equipe técnica é composta por cerca de 60 profissionais, divididos entre direção, apoio e técnico. Serão nove cidades percorridas, todas do interior cearense, entre elas Juazeiro do Norte, Barbalha, Crato, Santana do Cariri, Assaré e Aurora.

Na imagem, equipe da série
Legenda: De 300 a 400 pessoas estão envolvidas no trabalho, com predominância de profissionais do Ceará
Foto: Arquivo pessoal

Os próximos passos envolvem seleção de elenco, direção de arte, desenvolvimento artístico, produção direta e toda uma estratégia de lançamento – este previsto para 2026. “Estivemos de 6 de abril a 4 de maio numa espécie de retiro artístico em Aurora. Na ocasião, pudemos verificar uma gama absurda de talentos do Cariri e do Ceará como um todo. Até novembro de 2025 deveremos finalizar a gravação da última locação”, prevê Lamarck.

Suspense made in Ceará

A ideia de “Prazeres Insanos - Paleontologia do Medo” surgiu em 2021 a partir de um núcleo de atores do Ceará. Nele, de acordo com Lamarck Dias, estavam presentes nomes de peso do cinema do Estado, a exemplo da roteirista Vaniele Oliveira e do professor Erlandson Luna – atual membro da equipe de produção executiva do trabalho.

A série já ganhou um piloto a fim de buscar apoios da iniciativa privada. “Podemos dizer que a fagulha para o projeto são os trabalhos já realizados pela mesma equipe, bem como o desejo de desenvolver iniciativas com identidade própria, valorizando o potencial dos interiores e do povo”. Questionado sobre o porquê do título da atração, Lamarck é direto: “Uma boa obra começa com um bom título, algo que seja provocante, instigante e que desperte curiosidade”.

Escolher o Ceará como palco para o projeto, por sua vez, alinha-se ao lugar onde os produtores cearenses entendem que podem ocupar, estar e se sentir bem. E, claro, ao fato de tentar quebrar tabus. “Acredito que ainda estamos muito presos à nossa zona de conforto. Não é porque temos o melhor humor do mundo que precisamos ficar colados a esse gênero – que não deixa de ser bom. Porém, tenho buscado caminhar por outras possibilidades”.

Na imagem, parte da equipe da série
Legenda: Seleção de elenco, desenvolvimento artístico e estratégia de lançamento estão entre os próximos passos do projeto
Foto: Arquivo pessoal

Para o realizador, avançamos de maneira fantástica no cinema cearense, mas “ainda falta entender um outro mundo de possibilidades que não seja só o humor”. Por isso mesmo, o jovem cineasta de 35 anos celebra o ineditismo da gravação de uma série desse gênero no Cariri com boa parte do elenco genuinamente nosso

Conforme conta, questões mais profundas e delicadas das cenas serão tratadas de maneira velada. A linguagem será muito crua a partir das características que o diretor elege como importantes, mas visando explorar de maneira não tão explícita os arcos mais sensíveis. “Minha maior inspiração é a linha de trabalho do cinema independente brasileiro”, diz.

Desafios da produção

Produtor executivo da série, Bruno Monteiro mensura que o ineditismo da atração carrega consigo uma linguagem de articulação e produção a fim de efetivar autorizações, licenças para locações e apoios. De imediato, o título da obra sugere subjetividades que, na maioria das vezes, são controversas à obra, o que coloca sob a responsabilidade do diretor de produção o desafio de explicar o enredo aos parceiros e investidores sem revelar as tramas.

“Outra questão de impacto é o alto custo de traslados, hospedagem e alimentação nos sets de filmagem tendo em vista a circulação da equipe por mais de seis cidades da região, compreendendo mais de 40 profissionais. Tudo isso requer um planejamento cuidadoso da assistência de direção nos planos de locações, núcleos de personagens e filmagens e respectivas minutagens”, detalha.

Na imagem, o diretor da série
Legenda: O diretor da série, Lamarck Dias
Foto: Divulgação

A recepção, contudo, tem sido positiva nessas atividades de pré-produção, incluindo desenvolvimento da direção de arte, cenografia, figurino e produção de elenco. “Ir adiante com esta proposta cinematográfica é, sem dúvida, a coragem de se desafiar, explorar aspectos profissionais e artísticos. É realmente atividade de desbravadores”.

Ele reitera a visão de Lamarck Dias ao defender que o objetivo principal do projeto é desenvolver uma história envolvente, que conecte o público à trama e dialogue com a identidade da cultura da região caririense. Segundo Bruno, existe nessa região uma verossimilhança com o tipo de problemática social que a obra aborda, o feminicídio.

“O assunto atravessa a série e é um ponto alto de discussão dentro e fora dela. Infelizmente, na vida real, o Estado do Ceará protagoniza números alarmantes referentes à morte de mulheres. Trazemos, então, uma obra cinematográfica que, mesmo ficcional, traz à tona os meandros desses crimes, dando atenção a cenas da vida real”.

Exibição da série

Há negociações de pré-licenciamento e até coprodução com grandes plataformas de streaming e canais de TV de âmbito nacional para exibição de “Prazeres Insanos - Paleontologia do Medo”. 

No entanto, por questões de sigilo contratuais e a busca de  plataforma e canais que possam dar a melhor ênfase e alcance à obra, maiores informações estão guardadas para o lançamento. De todo modo, Bruno adianta: “Propor a sequência da segunda temporada é a lógica natural desse produto”.

Na imagem, Lamarck Dias e Bruno Monteiro, parte da equipe da série
Legenda: Há negociações de pré-licenciamento e até coprodução com grandes plataformas de streaming e canais de TV de âmbito nacional para exibição da série
Foto: Divulgação

Ele também anuncia que está previsto, em agosto deste ano, o lançamento do filme “Uma Voz Chamada Francisca” – drama ficcional baseado em fatos reais que conta a história do cruel assassinato da santa popular de Aurora, Martin Francisca.

À frente de “Prazeres Insanos”, a Lamarck Promoções trabalha simultaneamente para produzir e lançar outras obras seriadas nos formatos de realities, documentários, lazer e entretenimento, bem como curtas, médias e longas-metragens com profissionais do audiovisual de todo o Brasil, em especial da região Nordeste.

É Lamarck Dias quem conclui: “Nossa meta é ocupar espaços a nível nacional. Fazer o dever de casa com atores e não-atores do Cariri, ter um produto identitário com tema sensível, que cause reflexão e empatia. Minha intenção é que a série reverbere no país e provoque no Ceará o desejo de trabalhar os mais variados gêneros do audiovisual e todas as possibilidades”.

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