Pesquisador revisita memórias dos últimos anos de vida de Dominguinhos; músico faria 80 anos hoje

Paulo Vanderley conheceu e reverenciou “Seu Domingos” ainda criança, mas foi na maturidade que a amizade dos dois aconteceu. Dominguinhos faria 80 anos nesta sexta (12)

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@svm.com.br
Legenda: Em sua casa em Fortaleza, Paulo coleciona várias referências da música nordestina e do legado de Dominguinhos
Foto: Paulo Marconi

Um sinal da intensidade do encontro entre o paraibano Paulo Vanderley e o pernambucano José Domingos de Moraes, o “Dominguinhos”, se deu pela cumplicidade. Fã do sanfoneiro desde criança, Paulo se aproximou muito do artista 12 anos antes deste falecer - em 23 de julho de 2013. Nesta sexta (12), Dominguinhos, natural de Garanhuns (PE), completaria 80 anos de idade.  

A admiração se desdobrou em amizade, ao ponto de “Seu Domingos”, como Paulo chama o ídolo carinhosamente, confiar ao pesquisador sua própria reputação. “Muitas vezes ele ia dar uma entrevista e não sabia de algo, e dizia: ‘olha, pergunta pro Paulinho, que ele sabe da minha vida’”, lembra o paraibano, que hoje mora em Fortaleza.  

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Também bancário, Paulo (41), desde muito cedo admirava a cultura nordestinachegou a filmar – aos 10 anos de idade - o sepultamento de Luiz Gonzaga, em Exu (PE). Radicado no interior pernambucano com a família, foi lá, inclusive, que o pesquisador teve o primeiro contato com “Seu Domingos”.   

“Foi na inauguração do Museu do Luiz Gonzaga em Exu, dia 13 de dezembro de 1989. Quem estava inaugurando esse museu era Gonzaguinha, com Seu Domingos, e eu era um meninozim que ficava olhando pra cara de um, e do outro. Meu pai trabalhou muito nesse projeto e filmou isso”, conta.  

De uma simplicidade notória, Dominguinhos, segundo a memória do pesquisador, não cedia às convenções sociais. “Tinha a sensação de que ele estava sempre sentado na mesa da cozinha da casa dele, de tão simples que ele era. Ele poderia estar no ‘melhor hotel’, no ‘melhor restaurante’, conversando com qualquer pessoa, mas realmente era muito simples”, confirma Paulo.  

O pesquisador foi um dos consultores da Globo Nordeste para a produção do especial em homenagem aos 70 anos de Dominguinhos. Entre 2008 e 2009, Paulo prestava o serviço à emissora para “assuntos da cultura nordestina” e acompanhou, de perto, várias filmagens para o programa.  

"Era revisor do roteiro, ajudei a montar a estrutura, indicar os convidados. E viajamos com ele para várias cidades do Nordeste: Natal, João Pessoa, Recife, Fortaleza. E foi muito especial. Eu já era amigo do Waldonys, do Fausto Nilo. Então, foi muito lindo o encontro que nós fizemos na casa do Fausto. Dois ídolos meus de infância conversando sobre música, cultura nordestina, a parceria deles. Incrível”, lembra Paulo Vanderley. 

Legado 

Fiel ao legado do sanfoneiro, Paulo não aponta uma fase ou um disco em particular, para sinalizar os destaques da obra de Dominguinhos. Para o pesquisador, o artista transitou bem por diversos gêneros da música popular brasileira, seja como músico, cantor, compositor. 

Lembra do sanfoneiro com Leny Andrade, da bossa nova; como parceiro de Gilberto Gil na reverência a Gonzaga e consolidação da música nordestina; além das parcerias com nomes como Gal Costa, Djavan, Chico Buarque, o cearense Fausto Nilo e até com Rita Lee.    

“Foi tanta gente da MPB. Ele sempre manteve a sua essência, que aprendeu com Luiz Gonzaga. Já pude presenciar, registrando com a câmera, ele fazendo algumas músicas e me pedia pra repassar pra alguns parceiros (como no vídeo abaixo, para o poeta cearense Xico Bezerra). O Fausto Nilo tem um acervo maravilhoso de músicas inéditas com Seu Domingos”, conta Paulo.   

Despedida 

O pesquisador chama atenção para a última vez que Dominguinhos pegou na sanfona. Sete meses antes da partida, o sanfoneiro fez seu último show em Exu (PE), o “chão sagrado” do forró, terra de Luiz Gonzaga. Era 13 de dezembro de 2012. No mesmo dia, Paulo recebeu o título de cidadão exuense e Dominguinhos se apresentou duas vezes - em homenagem a Gonzaga.
 

Paulo Vanderley lembra bem da viagem de retorno, de Exu para o Recife, quando “Seu Domingos” já dava sinais de debilidade e foi internado um dia depois de chegar à capital pernambucana. 

“Voltamos pro Recife no carro que comprei dele (uma Land Rover). Até hoje é o veículo que ando no meu dia a dia. E no outro dia, ele se internou. Essa viagem foi inesquecível. No caminho ligamos para (o humorista) João Cláudio Moreno, para o Fausto Nilo. Foi quase uma viagem de despedida”, recorda. 

“Talvez eu seja uma das últimas pessoas que o tenha visto, antes de ele ser sedado, entubado no dia 19 de dezembro (de 2012). Estive com ele pela manhã, entrei na UTI, e me emociono falando disso”, reflete.  

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