Recordações em forma de carro

Há cinco anos, o forró perdia Dominguinhos. O Auto foi conhecer a Land Rover do cantor e as histórias a bordo dela

O herdeiro artístico do rei do baião teria 71 primaveras neste ano, porém há exatos 5 anos, no dia 23 de julho de 2013, despediu-se da terra dos homens. Daquele que mantém guardada a saudade no peito, está o pesquisador do forró e também bancário Paulo Vanderley.

Fora as lembranças e as fotografias em álbuns e penduradas também na parede de casa, Paulo preserva, mais precisamente em sua garagem, um bem que pertenceu a José Domingos de Morais, o Dominguinhos: é um Land Rover Discovery 3.

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"Uma vez nós estávamos vindo de Brasília até Fortaleza. E na estrada, perto de Goiás, lembro até como se fosse hoje, eu vinha dirigindo e disse: 'seu Domingos, no dia que você for vender este carro, por favor, me dê preferência que tenho interesse em comprar'. Ele olhou e disse: 'Paulo, esse veículo é novo, tem apenas um ano, não quero vender agora'. Mas, cinco minutos depois ele falou que, se eu quisesse, ele venderia", lembra.

A proposta foi repentina, tanto quanto à resposta. No entanto, a negociação não teve arrependimentos para nenhum dos lados. Paulo ajudou Dominguinhos a comprar uma Toyota Hilux nova e recebeu a Discovery. "Na época, ele estava em Natal, fazendo um show, eu sai de Recife com a Hilux e fui até o Rio Grande do Norte fazer a troca, e eu voltei com a Land Rover, que a gente mantém com muito carinho até hoje", destaca.

Inclusive, ela é seu único veículo, que reveza com uma motocicleta para sair para o trabalho e lazer. Não é artigo de coleção, apesar de ter feito uma promessa, olhando nos olhos de Dominguinhos, de que nunca venderia esse carro.

Curiosidade

O modelo é 2009, com fabricação 2008, e ainda exala conforto mesmo 10 anos após sair da linha de produção. Bancos em couro, câmbio automático, ar-condicionado de duas zonas e motor turbodiesel V6 2.7 com 190 cv de potência.

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Entre as novidades para este modelo na época estão conexão Bluetooth integrada ao sistema de áudio e as rodas aro 19 com sete raios. Muitos equipamentos atuais até aos tempos modernos e esse conforto a bordo era mais que requisitado por Dominguinhos. E isso não poderia ser diferente.

Por medo de avião, sempre optava por veículos bons para rodar muito na estrada. Revezando a direção, sempre cruzava o País para fazer show com mais uma outra pessoa no mínimo dentro do carro. E o mesmo jeito manso de falar, repetia ao volante. "Na hora que passava de 85 ou 90 km/h, ele já mandava reduzir a velocidade. Tinha que rodar o Brasil inteiro com 80km/h", ressalta.

Contato

Na infância, teve contato com o cantor Luiz Gonzaga devido a amizade com o seu pai, Paulo Marconi. Durante seu enterro, inclusive, o pai participou do funeral em cima do caminhão dos Bombeiros que levou o corpo do rei do baião. Nesse dia 2 de agosto de 1989, aos 9 anos, ele teve a sua primeira aproximação com "Seu Domingos", como gosta de chamá-lo. No entanto, foi na juventude, em torno de 15 anos depois do primeiro encontro, quando os laços se estreitaram.

E esse contato foi mantido praticamente até o último suspiro do cantor, quem o Paulo gosta de dizer que foi um anjo na terra. "A última vez que ele pegou na sanfona foi no centenário de Luiz Gonzaga, dia 13 de dezembro. Tocou quatro vezes. Depois, ainda ficou mais três dias em Exu e, nessa Land Rover, nós voltamos para Recife. Fizemos o mesmo trajeto que Gonzaga fez com meu pai anos antes, eu fiz com seu Domingos. Foi a última viagem dele, no outro dia ele foi para o hospital e não saiu mais. Foi muito duro tudo isso. São cinco anos agora sem ele", relembra emocionado.