Iran da Panelada entrega sabor e sustância em Fortaleza há 28 anos
Localizado na Paupina, recanto começou a partir da venda de caldo e tapioca; hoje, funciona durante a madrugada, prepara comidas no fogão à lenha e integra a realeza da gastronomia raiz da cidade
Antes, ponto de venda de caldo e tapioca; hoje, parte da realeza gastronômica raiz de Fortaleza. Localizado na Paupina, um dos bairros mais tradicionais da cidade – neste ano, celebrou 418 anos de história – o Iran da Panelada é ponto turístico querido da região. São 28 anos dedicados a reunir atributos capazes de agradar à cearensidade mais exigente.
O primeiro detalhe que salta aos olhos é a preparação no fogão à lenha. Nove panelões colossais preenchem o espaço com diferentes diamantes de nossa cozinha. Panelada, rabada, galinha, carneiro, sarrabulho, buchada, carne moída e caldo de mocotó estão sempre fumegando, fruto da preocupação de manter os pratos quentinhos para servir.
Outra bem-vinda característica do espaço é o fato de funcionar também pela madrugada. Aberto a partir das 6h de sexta-feira, permanece ativo até às 14h de domingo, sem parar. Dezessete funcionários se revezam para dar conta de tudo, com resultado surpreendente: clientela satisfeita do café da manhã ao almoço, passando pelo jantar e o pós-festa.
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Mas é mesmo o sabor o carro-chefe da casa, capaz de justificar a média de 600 pessoas a cada fim de semana no estabelecimento. Isso porque, embora densas, as comidas não pesam no estômago, fruto do trabalho todo esmerado do proprietário do estabelecimento, Iran Rodrigues da Silva. “O segredo da boa panelada é você deixá-la pegar tempero”, diz.
“A maioria das pessoas pega os insumos, lava tudo e joga logo no fogo. Como é que pega gosto? Aqui, pra cozinhar 10 quilos de panelada, só utilizo meio litro d’água. A panelada em si solta muita água; se você colocar mais, não dará certo. Tiro toda a gordura, e ela fica um prato que você come e não prega no lábio. É gostosa demais”.
Aos 65 anos, o carpinteiro por ofício e empresário por vocação é também cozinheiro e até hoje é responsável pelo tempero de cada prato servido no negócio. Além disso, supervisiona tudo para garantir que a qualidade permaneça intacta. Dentre tantas particularidades, Iran credita a fama do local sobretudo à inserção de delícias como a rabada.
Aos poucos, foi ela quem tomou a dianteira na preferência do público, e sai na frente quando a opção é por algo tão regional quanto primoroso. Para se ter ideia, toda semana são comercializados cerca de 300 quilos da iguaria, em consonância com alguns dos outros pratos ofertados na casa – a exemplo, claro, da própria panelada.
“A ‘nêgada’ chega aqui e diz que não tem sabor igual, que o tempero é muito bom, a comida é muito gostosa. Embora eu cobre um pouco mais caro, tenho que considerar o investimento no preparo – tem gente que tem pena em gastar com alho, pimenta-do-reino… Não penso assim. Apesar de cobrar mais caro, prefiro investir em algo que deixe a comida boa”.
Dito isto, todos os pratos do cardápio possuem preço único: R$ 25, seja Prato Feito ou quentinha. Há também possibilidade de levar para casa apenas a iguaria em si (R$ 60, a quentinha inteira) ou metade dela (no valor de R$ 30).
Sem delivery próprio, o negócio deixa tudo prontinho caso o cliente queira apenas descer para buscar o de comer ou enviar um transporte por aplicativo para esse fim. “Ninguém sai daqui de mãos abanando”, celebra Iran.
História do estabelecimento
Nem sempre o Iran da Panelada foi, de fato, da panelada. Cansado da carpintaria, o proprietário da casa um dia resolveu abrir uma banquinha, na segunda metade dos anos 1990, para vender tapioca junto à esposa, Francileide da Silva. O negócio deu tão certo que, por sugestão da clientela, o casal resolveu incrementar o menu com caldo.
Em seguida – igualmente por intermédio do público – veio, de fato, a panelada. “Na época comprei cinco quilos, fui levando e hoje estou aqui”. O “aqui” diz respeito ao mesmo lugar onde começou tudo, espécie de alpendre bastante amplo. Mas houve modificações.
Ao lado desse recinto onde funciona a cozinha e o caixa, passou a funcionar, com o tempo, um grande pátio, no qual dezenas de mesas e cadeiras comportam os aficionados pela culinária raiz. São pessoas que tanto trabalham nos arredores do negócio quanto moradores de bairros até distantes.
“Tem gente que vem da Beira-Mar, de Caucaia, do Maracanaú, do Icaraí… Virou ponto de referência. Muita gente, antes de ir pra praia, passa aqui primeiro pra levar comida. Quando não conseguem vir, mandam um motorista de aplicativo”.
Nascido e criado na Paupina, dá gosto ao homem ver a própria trajetória refletida em um empreendimento tão exitoso. Ao mesmo tempo, comemora o fato de testemunhar as mudanças no bairro por meio de quase três décadas de trabalho – e vê-lo ganhar reconhecimento na seara gastronômica de toda a cidade. “Deus abriu os caminhos pra gente continuar, e tudo melhorou muito. Hoje está do jeito que Ele quer”.
Para o futuro
Além de todo o sucesso na localidade, há outros fatos bonitos. A criação dos três filhos e, consequentemente, dos três netos, por meio do empreendimento, é digno de muita felicidade por parte de Iran. Na visão dele, não há luxo, mas foram muitas conquistas acumuladas ao longo dos anos.
“O que importa é todo dia a gente viver bem, comer bem e ajudar a quem precisa. Se chegar alguma pessoa aqui pedindo ajuda, eu ajudo. Por isso que não falta nada”, percebe. “Mesmo na pandemia, conseguimos manter o negócio. Deu uma baixa na clientela, claro, mas agora já estamos conseguindo reunir mais gente de novo”.
A ideia, para o futuro, é ampliar o serviço a partir da implantação de um self-service. Segundo Iran, uma vez os pratos na casa serem bem servidos – é facilmente possível duas pessoas dividirem a mesma porção de cada iguaria – ainda há muito desperdício. O fato de o público se servir por si só pode ser um ganho nesse sentido.
“Não penso em mexer na estrutura, quero manter o fogão a lenha e tudo o mais. É deixar o tempo passar, porque quem comanda é Deus”.
Serviço
Iran da Panelada
Rua Antero Quental, 1365 - Paupina. Funcionamento: das 6h de sexta-feira às 14h de domingo. Mais informações por meio do WhatsApp: (85) 98870-4513