Fotógrafo Tim Oliveira celebra 10 anos de registros de cenas, palcos e histórias do teatro cearense
Projetos de exposição fotográfica e de publicação impressa estão entre os planos de comemoração do marco

Ao ouvir as histórias fantásticas contadas pela mãe ainda na infância e começar a criar imagens mentais das narrativas, o cearense Tim Oliveira já se deparava, pelo viés do lúdico, com a gênese do caminho que viria a seguir profissionalmente na vida adulta: a fotografia.
Em 2025, o artista completa 10 anos atuando como fotógrafo dedicado às artes cênicas, em especial ao teatro, feito em Fortaleza e no Ceará. Com projetos de reunir em exposição e publicação registros que contam não só a trajetória dele enquanto fotógrafo, mas da própria cena artística, Tim aponta as narrativas que ouvia antes de dormir como fonte de inspiração.
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Primeiras referências artísticas
“Eram contos incríveis, ricos em detalhes, creio que inventados ou adaptados por ela. Penso que foi aí que se iniciou meu processo de criação e imaginação de imagens, muito a partir das narrativas que ouvia”, compreende.
Ainda na infância, foi extravasando o que o inspirava para o desenho, a pintura e outras artes visuais, além de contar com a leitura como “grande companheira”. A fotografia veio, então, na adolescência, a partir da câmera analógica da irmã.
“O lance dos filmes e toda a expectativa na hora de revelar, de ver e ter as fotos em mãos mexiam bastante comigo. Amigos de escola também já tinham câmeras digitais, eu já me aventurava em fazer alguns cliques, mesmo que muito intuitivamente, sem nenhuma técnica ou conceito”, rememora.
Quando chegou a hora de decidir qual curso fazer no ensino superior, Tim não teve dúvidas: “Escolhi fazer faculdade de Comunicação Social, justamente pela possibilidade de estudar fotografia”.
Junto da graduação, apostou em cursos e oficinas ligadas à área em diferentes equipamentos culturais, como Dragão do Mar, Vila das Artes, Porto Iracema das Artes e Centro Cultural Banco do Nordeste.
Ao se formar, porém, enveredou como diretor de arte em agências de publicidade de Fortaleza, ainda que sempre atento às experiências de fotografia do trabalho e seguindo na busca por formações.
“Demorei um pouco pra ter minha primeira câmera fotográfica profissional. Fui adquirindo mais conhecimentos em edição, montagem e direção de arte pra só depois ter um equipamento e aprender mais sobre técnica e composição de imagens”, narra.
Paixão pelo teatro culminou no início da fotografia cênica
Um ponto de virada começou a ser esboçado quando, em 2014 e em busca de se desafiar, Tim entrou no Curso de Princípios Básicos de Teatro, tradicional formação do Theatro José de Alencar, em busca de se desinibir e trabalhar dicção e oratória. Foi o portal para se aproximar e apaixonar por aquela arte.
A montagem de um espetáculo marca a conclusão do CPBT e a experiência de Tim se deu em 2015. Nela, o cearense atuou não somente em cena, mas também na parte de comunicação e divulgação da obra, produzindo identidade visual e fotografias.
“Minha fotografia cênica surgia ali, timidamente, nas salas de ensaio do Theatro José de Alencar, sob as luzes amareladas e com uma câmera simples, com uma só lente, e um desejo imenso de contribuir com todo esse processo que marcou profundamente minha vida”, partilha o fotógrafo.
O sucesso de público do espetáculo comprovou para Tim que a divulgação pensada e executava havia dado certo, o que o levou a vislumbrar outra possibilidade de carreira.
“Eu estava muito feliz de estar em cena, de corpo e alma, mas muito mais contente por ver o teatro lotado, filas de espera e sessões extras. Tinha algo de muito especial aí, uma mensagem muito clara chegava pra mim. Eu senti que meu lugar era ali, talvez não nos palcos, como ator, mas no registro de tudo aquilo que acontecia”
O artista passou, então, a ser procurado por outros grupos e artistas de teatro e dança para fazer trabalhos como aquele — uma demanda que cresceu a ponto dele optar por deixar o mercado convencional de publicidade e seguir pelo caminho que se abria então.
“A fotografia de cena passou a ser um dos meus serviços mais procurados e um constante exercício de aprimoramento técnico e estético, dessa habilidade que de hobbie passou a ser minha principal fonte de renda como profissional autônomo”, ressalta.
Imagens que contam a história do teatro cearense
De lá para cá, o fotógrafo já trabalhou com inúmeros grupos cênicos de Fortaleza, como Os Pícaros Incorrigíveis, Cangaias, Cia. Prisma das Artes e Cia. Crisálida, e registrou espetáculos como "Cama de Baleias", "Co.Vil", “O Fantástico Circo do Artista da Fome”, “Maquinamário - Barroco Sonho-Cidade para um Descomunal Poeta”, “O Mundo Incompleto de Maria”, “Toró”, “Nossos Mortos” e “Das que ousaram desobedecer”, para citar alguns.
Na atuação, Tim se divide entre produzir imagens dos espetáculos em si e de divulgação, ramos que possuem necessidades e processos criativos distintos. Para as primeiras, ele procura assistir aos espetáculos antes, sem fotografar, para “entender como a cena se estabelece”.
“Costumo entender que eu devo ser ‘invisível’, fazer meu trabalho de forma silenciosa e discreta”, explica, citando a ausência de flash e a roupa de cor preta como elementos relevantes para o trabalho.
Já nas fotos de divulgação de espetáculos, com função de promover a obra, Tim destaca a “liberdade de propor e compor imagens que dialogam diretamente com a dramaturgia do espetáculo”. A intenção, diz, é “comunicar a experiência estética que a obra cênica busca propor ao público”.
Independentemente do tipo de imagem, é certo afirmar que as lentes de Tim captaram, ao longo dessa década, relevantes registros de produções e artistas da cena local. “Vim ter consciência disso há pouco tempo”, reconhece o fotógrafo, citando a pandemia como marco.
“A fotografia tem essa função, de documentar, registrar e servir de fonte de pesquisa histórica e estética de uma época ou de um acontecimento. Tudo isso para as artes cênicas é fundamental, uma vez que são espetáculos que são perecíveis, dão-se de forma presencial, acontecem, de fato, no aqui e agora. Além de, muitas vezes e infelizmente, não terem uma circulação muito extensa”
Criação em outras linguagens
A trajetória nas artes cênicas projetou o nome de Tim para outras áreas, como música e moda, e ele ainda tem explorado possibilidades de trabalho no audiovisual. “Para além da fotografia, porém a partir dela, sou designer também, crio identidades visuais e materiais publicitários para divulgação de espetáculos e projetos culturais”, acrescenta.
Entre alguns dos principais trabalhos em realização atualmente, Tim destaca, inclusive, a parceria com a cantora e compositora Regina Kinjo.“Estou na direção cênica e na comunicação do show 'Sertão Oriente'. Estamos trabalhando também na produção de um álbum visual, com a gravação de videoclipes para as sete faixas do disco”, explica.
Há, ainda, estreias previstas de espetáculos de teatro e dança ao longo do primeiro semestre. Para celebrar, os planos envolvem ações especiais. “Estou iniciando um projeto de exposição fotográfica para celebrar meus 10 anos de fotografia nas artes cênicas, e quero muito fazer uma publicação impressa com as imagens que fiz nessa década”, adianta.
“Em 2025, busco lançar um olhar sensível e celebrativo sobre o meu trabalho como criador de imagens, seja para as artes cênicas, a música ou o audiovisual, na compreensão de que está tudo conectado e que o teatro é sempre o ponto de partida para o meu trabalho, como uma fonte inesgotável de criatividade”, sustenta.
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