Filme cearense “Pajeú” terá primeiras exibições nacionais na programação do festival Olhar de Cinema

Dirigido por Pedro Diógenes, longa-metragem aponta reflexões sobretudo para a memória e o esquecimento – de uma cidade, de um povo, dos afetos

Escrito por Diego Benevides , Especial para o Verso
Legenda: "Pajeú" questiona a naturalização da destruição e as formas de lidar com as mortes, reais ou metafóricas
Foto: Divulgação

A visão de um monstro com aparência marinha e suja passa a atormentar a rotina de Maristela, protagonista de “Pajeú”, filme cearense dirigido por Pedro Diógenes. Apesar de sua fisionomia deteriorada, a entidade esconde algo de sagrado que outrora fez sentido no mundo. 

O enredo parte dessa alegoria do assombro para revelar suas intenções enquanto obra fílmica e política, ao propor uma viagem de (re)descoberta do aprisionamento do riacho Pajeú.

Não cabe reduzir o roteiro a um simples gesto ambientalista ou à denúncia da especulação imobiliária, já que Diógenes aponta sua reflexão sobretudo para a memória e o esquecimento – da cidade, de um povo, dos afetos. A investigação iniciada por Maristela é uma jornada de redescobrimento historiográfico do chão onde pisa e um pensamento sobre a (des)configuração das paisagens urbanas.

Legenda: Estrutura narrativa do longa transita entre documentário e ficção, entre o passado pavimentado e o filme de monstro
Foto: Divulgação

“Pajeú” elabora essa espacialidade a partir de uma sensação constante de submersão, como se o riacho estivesse prestes a nos engolir. Entrevistas com autoridades e transeuntes surgem na dinâmica do filme para confrontar a encenação, estabelecendo uma estrutura narrativa que, entre documentário e ficção, entre o passado pavimentado e o filme de monstro, elabora um discurso inquietante e urgente de pertencimento.

Cabe a Maristela e à sua intérprete, Fátima Muniz, a mediação serena e cruel das entrevistas. Temos medo de desaparecer? “Pajeú” não se propõe a solucionar ou esgotar tais debates, mas questiona a naturalização da destruição e as formas de lidar com as mortes, reais ou metafóricas.

Com uma trajetória que nasceu no coletivo Alumbramento e hoje se liberta para as múltiplas possibilidades de cinema, Diógenes segue produzindo filmes com o coração e sempre seguro do poder das imagens que cria.

Legenda: Obra propõe uma viagem de (re)descoberta do aprisionamento do riacho Pajeú
Foto: Divulgação

Mais Ceará

A exibição de “Pajeú” acontece nos dias 10 e 14 de outubro, na programação do Olhar de Cinema. O evento também exibe “Cabeça de Nêgo”, de Déo Cardoso; “Canto dos Ossos” (CE/RJ), de Jorge Polo e Petrus de Bairros, e “Sertânia” (CE/BA), de Geraldo Sarno.

“Noite de Seresta”, de Muniz Filho e Sávio Fernandes, participa da competição de curtas; já “Nardjes A.”, de Karim Aïnouz, será exibido em caráter especial.

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