34ª Cine Ceará exibe longas inéditos e destaca Estado em exibições e homenagens; veja programação
Principal festival de cinema do Estado traz 47 filmes em programação gratuita que se estende de 9 a 15 de novembro
“É um ano muito simbólico”, define Wolney Oliveira, cineasta e diretor do Cine Ceará - Festival Ibero-americano de Cinema. O festival, que chega em 2024 à 34ª edição seguida, traz exibições de obras brasileiras e estrangeiras inéditas no País, destaque para a produção cearense e homenagens para importantes figuras do Estado.
A programação — gratuita e aberta — se estende de 9 a 15 de novembro. Neste ano, o Cine Ceará ocupa o Cineteatro São Luiz — que acolhe as mostras principais, incluindo em 2024 a Olhar do Ceará, dedicada à produção do Estado — e a Caixa Cultural Fortaleza — com as exibições dos longas das mostras sociais "Acessibilidade", "O primeiro filme a gente nunca esquece" e "Melhor Idade".
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Mostra de longas destaca música e ineditismo
Na atual edição, a mostra competitiva de longas é formada por dois filmes brasileiros, um da República Dominicana, um da Argentina, uma coprodução Cuba-EUA e uma coprodução Uruguai-Argentina.
MOSTRA COMPETITIVA IBERO-AMERICANA DE LONGAS
- “A bachata de Biônico”, de Yoel Morales (República Dominicana)
- “Brasiliana: o musical negro que apresentou o Brasil ao mundo”, de Joel Zito Araújo (Brasil)
- “En la caliente – Contos de um Guerreiro do Reggaeton”, de Fabien Pisani (Cuba-EUA)
- “Linda”, de Mariana Wainstein (Argentina)
- “Milonga”, de Laura González (Uruguai-Argentina)
- “Um lobo entre os cisnes”, de Marcos Schechtman e Helena Varvaki (Brasil)
“É um conjunto de filmes nunca exibidos no Brasil que o pessoal vai ter o acesso pela primeira vez”, destaca Wolney. Bruno Carmelo, crítico de cinema e curador de longas em 2024, destaca que o recorte privilegia diversidades.
“Tinha uma preocupação muito grande de diversidade”, frisa. “Dos seis (longas selecionados), três tem direção de mulheres, temos dois diretores negros. Acabou sendo diverso porque a gente queria olhares diversos e isso, obviamente, vai vir de pessoas diversas”, atesta o curador.
A partir de um panorama da seleção deste ano, é possível perceber que a música é um elemento de ligação presente entre os seis longas da competição. “Não foi uma vontade prévia, mas a gente foi se interessando por esses filmes”, explica Bruno.
O documentário cubano “En La Caliente: Contos de um Guerreiro do Reggaeton”, a comédia dominicana “A bachata do Biônico” e o drama uruguaio “Milonga”, por exemplo, trazem ritmos nos títulos.
Apesar da aproximação, o curador destaca que os filmes não são necessariamente sobre música.
“Os filmes se se ligam à ela como ponto de partida, metáfora, mas a ideia é sempre pensar na música enquanto possibilidade de arte e como meio de inserção social. desenvolvem contextos políticos e sociais”
O curador reforça que os filmes selecionados são “representativos do panorama da diversidade do cinema ibero-americano”.
“A gente queria mostrar que ele tem suspenses, comédias populares excelentes, filmes minimalistas, grandiosos, comunicação entre países. Além do realismo social, que costuma dominar o imaginário em especial do cinema latino-americano, a gente tem muitas outras maneiras de filmar e mostrar a sociedade”, sustenta Bruno.
Participação brasileira e cearense
Os dois representantes brasileiros — o documentário “Brasiliana: o musical negro que apresentou o Brasil ao mundo”, de Joel Zito Araújo, e o drama “Um lobo entre cisnes”, de Marcos Schechtman e Helena Varvaki —, Bruno destaca, “dialogam com o cenário internacional e falam da percepção do Brasil mundo afora”.
Nenhuma das obras nacionais é cearense em 2024 — o segundo seguido em que obras do Estado não participam da mostra competitiva ibero-americana de longas. O número total de filmes no formato caiu de 12, em 2023, para cinco neste ano.
“A gente fica muito feliz que continuam tendo filmes cearenses excelentes, mas como eles tem projeção maior, podem mirar outros festivais, querer começar com trajetória internacional, em outros festivais brasileiros”, aponta Bruno sobre a ausência de cearenses na competição.
Já a produtora Layla Braz — que assina a curadoria da Mostra Olhar do Ceará — lembra: “A produção de longas-metragens é complexa em todo o país, tanto em seu desenvolvimento quanto na captação de recursos, que exige anos de trabalho e planejamento”.
“Esse cenário impacta diretamente a quantidade de filmes finalizados e lançados anualmente. Além disso, é importante considerar que muitos longas-metragens seguem trajetórias distintas: alguns são direcionados ao circuito comercial, outros para exibição na TV, e outros circulam principalmente em festivais de cinema”, aprofunda.
Apesar disso, a presença cearense, no entanto, segue central para o festival. Na mostra competitiva brasileira de curtas, curada pelo cineasta Vicente Ferraz, há 12 obras selecionadas, sendo duas do Ceará: “Fenda”, de Lis Paim, e “Tiramisú”, de Leônidas Oliveira.
MOSTRA COMPETITIVA BRASILEIRA DE CURTAS
- “Bolinho de Chuva”, de Cameni Silveira (PR)
- “Cavaram uma cova no meu coração”, de Ulisses Arthur (AL)
- “Dona Beatriz Ñsîmba Vita”, de Catapreta (MG)
- “Eu sou um pastor alemão”, de Angelo Defanti (RJ/SP)
- “Fenda”, de Lis Paim (CE)
- “Maputo”, de Lucas Abraão (SP)
- “Os mortos resistirão para sempre”, de Carlos Adriano (SP)
- “Quinze Quase Dezesseis”, de Thais Fujinaga (SP)
- “Salmo 23”, de Lucas Justiniano e José Menezes (SP)
- “Tiramisú”, de Leônidas Oliveira (CE)
- “Todas as memórias que você fez em mim”, de Pedro Fillipe (PE)
- “Você”, de Elisa Bessa (RJ)
Haverá, ainda, exibição especial do documentário cearense “Lampião, Governador do Sertão”, dirigido por Wolney, e os 20 curtas e três longas da Mostra Olhar do Ceará.
Documentários e animações na Olhar do Ceará
“Recebi o convite para curadoria com o intuito de trazer uma perspectiva externa às produções cearenses, ampliando as visões e promovendo discussões enriquecedoras sobre o que tem sido produzido no Ceará”, destaca Layla.
“Percebo o Ceará como uma referência crescente no ensino audiovisual, com iniciativas importantes como as da Vila das Artes, Universidade Federal do Ceará e Unifor”, avalia a curadora.
Entre as 23 produções selecionadas, a força do gênero documental e, entre os curtas, da animação é visível. Dos três longas em competição, todos são documentários. Já entre os curtas, há oito filmes do gênero e cinco animações.
“O documentário permite explorar múltiplas realidades, algo muito presente nas produções cearenses deste ano”, aponta Layla. A curadora ressalta, entre os temas, “questões ambientais que impactam o estado, homenagens a figuras importantes para o desenvolvimento local e, sobretudo, retratos de cidadãos e suas relações com os espaços que habitam”.
“Já as animações trazem uma variedade temática e mostram o potencial desse formato para além do público infantil, algo bem evidente nos filmes selecionados”, avança.
O acesso tanto aos longas e curtas exibidos no Cineteatro São Luiz se dá a partir de ingressos que serão disponibilizados de forma gratuita na plataforma Sympla, sempre a partir das 14 horas do dia anterior à exibição. É possível que cada pessoa retire até dois ingressos por sessão no site.
Cearenses homenageados
Para além das exibições, o Cine Ceará irá centrar as três homenagens da edição no Estado. Além de dois importantes artistas cearenses — os atores e cantores Gero Camilo e Rodger Rogério —, a Universidade Federal do Ceará também será homenageada.
Como Wolney defende, a escolha em destacar a UFC é “lógica” nesta edição porque a instituição — de onde se originou o Cine Ceará, em 1991, como Vídeo Mostra Fortaleza, criada por Eusélio Oliveira (1933-1991) e Francis Valle (1945-2017) — completa 70 anos em 2024.
Eusélio, pai de Wolney, é fundador ainda da Casa Amarela, equipamento de formação audiovisual vinculado à UFC. A instituição é, ainda, parceira institucional do Cine Ceará. “São 70 anos da Universidade e o festival tem quase metade dessa idade”, ressalta o diretor.
Além de reforçar a importância do Cine Ceará ter edições anuais sucessivas desde a criação, Wolney também evidencia a relevância do evento no histórico de conquistas do cinema cearense — que, em 2024, chega aos 100 anos com cenário inédito de produção e difusão.
“Você não faz cinema sem fazer política e o Cine Ceará, além de ser um festival que está focado e que tem como bandeira o tripé formação-produção-difusão, é um dos mais políticos”, atesta.
“A Ceará Filmes nasceu no Cine Ceará. A extinta Câmara Setorial do Audiovisual da Adece (Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará) também nasceu como uma proposta do Cine Ceará. Por ele, passaram grandes eventos políticos do cinema brasileiro, como a criação da Associação de Produtores e Cineastas do Norte e Nordeste e da Conexão Audiovisual Centro-Oeste, Norte e Nordeste”
“O resultado, a efervescência do cinema cearense, passa por alguns caminhos: Casa Amarela Eusélio Oliveira, Cine Ceará e, logicamente, por muita gente que está aí na estrada”, celebra Wolney.
Abertura do 34º Cine Ceará
Homenagem à Universidade Federal do Ceará - 70 anos e exibição do longa "Brasiliana: O musical negro que apresentou o Brasil ao mundo", de Joel Zito Araújo
- Quando: sábado, 9, às 19 horas
- Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500, Centro)
- Gratuito.
34º Cine Ceará
- Quando: de 9 a 15 de novembro
- Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500) e Caixa Cultural Fortaleza (Av. Pessoa Anta, 287 - Praia de Iracema)
- Gratuito, com ingressos disponíveis na plataforma Sympla às 14 horas do dia anterior à exibição; é possível retirar dois ingressos por sessão por CPF
- Mais informações e programação completa: no site e no Instagram @cineceara