Quais são as cidades cearenses campeãs do agro em 2024? Veja destaques

Estado mantém liderança em diversos segmentos do campo, e meta é ganhar destaque em áreas até então pouco exploradas

(Atualizado às 08:14)
Produtor segura camarão na mão
Legenda: Ceará atingiu recorde de produção na carcinicultura
Foto: Honório Barbosa

Na contramão dos resultados brasileiros, o setor agropecuário cearense acumula, em 2024, três altas sucessivas no Produto Interno Bruto (PIB).

A maior delas, no segundo trimestre, foi de 32,52% na comparação com igual período do ano passado. O destaque traz ainda bons resultados individuais para alguns produtos e cidades do Estado.

Pelo menos oito produtos foram destaques em 2024 no setor agropecuário cearense: caju, camarão, cera de carnaúba, coco, galinha, leite de vaca, mel de abelha e ovos de codorna.

Em comum, todos esses não compõem as commodities, mercadorias do campo comumente comercializadas com o exterior.

Esse segmento, na visão de especialistas, foi o responsável pelas sucessivas quedas, nacionalmente, da economia agropecuária. Justamente por esse motivo, o Ceará ganhou enfoque, por explorar demais produtos.

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Diversas cidades do Estado, principalmente de fora da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), são campeãs nacionais ou têm posição de destaque em pelo menos um dos oito produtos citados.

Os dados foram revelados pela Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) e pela Produção Agrícola Municipal (PAM) de 2023, ambos levantamentos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Diário do Nordeste elenca esses municípios.

Veja as cidades que se destacaram no agro

  • Beberibe: castanha e galinha
  • Cascavel: ovos de codorna
  • Morada Nova: leite
  • Santana do Cariri: mel
  • Aracati e Jaguaruana: camarão
  • Granja: cera de carnaúba e pó de carnaúba
  • Paraipaba: coco

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Beberibe: destaque em galinhas e em castanha-de-caju

O município do litoral leste do Estado não é o campeão nacional na quantidade produzida de nenhum dos dois produtos, mas aparece no top-5 tanto de castanha-de-caju como no rebanho de galinhas e produção de ovos.

Ao todo, Beberibe tem aproximadamente 4 milhões de galinhas, sendo ainda o segundo maior rebanho do Nordeste, atrás somente de São Bento do Una (PE), com 4,45 milhões de animais.

O segundo maior número de galinhas do Ceará está em Quixadá, com 10,5% do total. Horizonte apresentou 8,1%; Cascavel, 5,5%; e Acopiara, 4,8%, correspondendo ao terceiro, ao quarto e ao quinto maiores efetivos, nessa ordem. O Estado tem rebanho de 37,3 milhões de animais.

Em 2023, foi contabilizada a produção recorde de 290,3 milhões de dúzias de ovos de galinha, no Ceará. Em relação à produção pelos municípios, os cinco principais municípios do Estado alcançaram 67,2% do total do Estado. Beberibe também foi destaque nacional, ocupando a 5ª posição.

Galinhas e castanha-de-caju
Legenda: Galinhas e castanha-de-caju são destaques de produção em Beberibe
Foto: Fabiane de Paula

No que diz respeito à castanha-de-caju, o município é o segundo maior produtor do Brasil, atrás somente de Serra do Mel (RN). No ano passado, foram 9.626 toneladas produzidas. Vale lembrar que o Ceará é o líder nacional na produção de caju

Com exceção de Serra do Mel, Pio IX (PI) e Apodi (RN), a produção de castanha-de-caju no País é feita principalmente em sete municípios do Ceará.

Bela Cruz, Ocara, Alto Santo, Aracati, Cascavel e Fortim, respectivamente, são as cidades cearenses que, além de Beberibe, mais trabalham com o fruto.

O professor Francisco José Tabosa, do departamento de Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirmou em outubro que "existe uma tendência de crescimento anualmente, principalmente com o dólar desvalorizado, que incentiva a exportação. Fica mais fácil para os produtores de castanha venderem essa produção no mercado internacional".

Cascavel: relevância em ovos de codorna 

Vizinha de Beberibe e já na Região Metropolitana de Fortaleza, Cascavel é a maior produtora de ovos de codorna do Ceará, o segundo principal município do Nordeste e o quarto do Brasil. 

Somente no ano passado, o total de unidades de ovos de codorna fabricadas no Estado somou aproximadamente 143,5 milhões. Para efeitos comparativos, o maior município produtor do Nordeste, Carpina (PE), produziu 233,3 milhões de ovos.

O Ceará encerrou 2023 na sexta posição nacional, com aproximadamente 185 milhões gerados.

No Ceará, assim como no Brasil, predomina a criação de codornas para consumo de ovos (codornas japonesas).

A coturnicultura, como é conhecida a produção das aves, tem ainda animais direcionados para o abate (codornas europeias), presentes sobretudo em Santa Catarina. Esse segmento se destaca pelo alto valor agregado da matéria-prima.

Ovos de codorna
Legenda: Ceará é um dos principais produtores de ovinhos de codorna do País
Foto: Shutterstock

Morada Nova em vias de se tornar a capital do leite no Nordeste

Outro município, desta vez no Vale do Jaguaribe, que figura nas principais posições é Morada Nova.

Com um rebanho considerável de gado, a cidade é a segunda maior produtora do Nordeste de leite de vaca, atrás somente de Poço Redondo (SE) e com possibilidade de, no próximo levantamento, assumir a liderança.

Em 2023, o município cearense foi responsável por produzir 107,6 milhões de litros no Estado. Nacionalmente, Morada Nova fica na 11ª posição, ainda distante de municípios de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, líderes nacionais na produção de leite de vaca.

Legenda: Para o Centro de Inteligência da Embrapa Leite, o ano de 2024 é fonte de preocupação para produtores e industriais
Foto: Fabiane de Paula / Diário do Nordeste

Para especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste, no entanto, essa produção cada vez mais crescente — o Ceará já é o nono maior produtor do Brasil de leite de vaca — ainda é subaproveitada.

A indústria de transformação leiteira, representada por empresas que fabricam e usam o alimento para criar derivados, ainda precisa de maiores incentivos.

Amílcar Silveira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), defendeu em setembro que, apesar de produzir muito leite, o Ceará ainda depende de laticínios vindos de outros estados.

Falta mais investimento e liberações legais para investir no beneficiamento do leite, como transformá-lo em leite em pó.

Santana do Cariri lidera a produção de mel de abelha

Enquanto o Ceará é somente o quinto maior produtor do País, Santana do Cariri, no sul do Estado, é o município do Brasil que mais produziu mel de abelha em 2023.

Ao todo, foram quase 1,2 mil toneladas. Foi a única cidade nacional, ao lado de Arapoti (PR), a bater a barreira de mil toneladas geradas.

O Estado conta ainda com 50 mil apicultores, conforme balanço da Federação Cearense de Apicultores (Fecap).

Na região Nordeste, o Ceará, contudo, fica atrás do Piauí, segundo maior produtor do País. No ano passado, o território cearense foi responsável por 5,7 mil toneladas produzidas, número que poderia ser superior. A análise foi feita por Amílcar Silveira em outubro.

Mel de abelha Ceará
Legenda: Santana do Cariri foi, em 2022 e 2023, a maior produtora de mel de abelha do Brasil, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal do IBGE
Foto: Isanelle Nascimento/Diário do Nordeste

"Infelizmente tem uma saída de mel que vai para o Piauí, onde estão os maiores exportadores de mel e que, nas estatísticas, não somos colocados com esse mel que sai principalmente dos Inhamuns para o Piauí. A maioria do mel que as exportadoras compram vêm dos Inhamuns cearense, sai por ele como ponto de exportação do Piauí. É um erro, esse mel é produzido no Ceará", pontuou.

Aracati e Jaguaruana concentram produção de camarão do Brasil

O Ceará é responsável por quase 60% de toda a produção de camarão do País, com força para aumentar exponencialmente esses números nos próximos meses. Duas cidades da porção leste do Estado, contudo, polarizam a geração nacionalmente.

Aracati e Jaguaruana são, respectivamente, o primeiro e o segundo municípios que mais produzem camarão no Brasil, com 23,75 mil toneladas. 

O valor de produção da carcinicultura (como é chamada a criação do animal) cearense foi de R$ 1,3 bilhão, totalizando crescimento de 25% em relação ao ano anterior.

Após a suspensão da importação de camarão no Brasil, principalmente do Equador, e com o acordo entre o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União Europeia, a expectativa é que o animal brasileiro, sobretudo cearense, volte a ser exportado, aumentando ainda mais a produção local.

Liderança mundial de Granja

O maior destaque do agro cearense talvez seja um produto encontrado somente na caatinga, bioma no qual o Ceará está 100% inserido. Por esse motivo, é possível afirmar que Granja é o município que mais produz pó e cera de carnaúba do mundo e, consequentemente, do Brasil.

A carnaúba está distribuída ao longo do bioma da caatinga e, até hoje, mantém boa parte do seu aproveitamento econômico feito manualmente.

Em 2023, Granja foi responsável por 1,045 mil toneladas de pó de carnaúba, a matéria-prima para a cera, produto do qual o município também foi líder na produção no ano passado, com 220 toneladas.

Carnaúba
Legenda: Extração do pó da carnaúba: sozinho, Ceará é responsável por mais de 80% da produção nacional, conforme dados do IBGE
Foto: Helene Santos/Diário do Nordeste

Quando considerado o estado, o Ceará é o segundo maior produtor nacional de pó de carnaúba, atrás somente do Piauí. Juntas, as duas unidades federativas são responsáveis por mais de 96% de tudo o que é gerado no País.

Em março de 2024, completaram-se 20 anos desde que o então governador do Estado, Lúcio Alcântara, instituiu a carnaúba como árvore-símbolo do Ceará, sendo protegida por lei. Ela também consta no brasão e na bandeira cearenses, para preservar a planta.

Paraipaba é a 'rainha do coco' do Brasil

No litoral oeste do Ceará, na RMF, Paraipaba é, nos últimos quatro anos, destaque absoluto no levantamento do IBGE. O município é o maior produtor de coco-da-baía do Brasil.

No ano passado, foi responsável por produzir 171 milhões de frutos. O Ceará, líder nacional entre os estados, teve colheita total de quase 520 milhões de cocos. Os números elevados refletem o alto investimento no cultivo do alimento em Paraipaba.

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Segundo dados da Prefeitura de Paraipaba, o Produto Interno Bruto (PIB) da cidade, em 2023, foi de R$ 184,23 milhões, sendo que a cadeia produtiva do coco foi responsável por 20% (ou um quinto) de toda a produção econômica da cidade.

Embora os municípios do perímetro irrigado do Baixo Acaraú tenham produtividade superior à Paraipaba, conforme análise de especialistas, o município da Grande Fortaleza se destaca por ter centenas de agricultores trabalhando diretamente com o cultivo do coco.

Coqueiros Paraipaba
Legenda: Coqueiros em Paraipaba: produção é relacionada principalmente com pequenos produtores
Foto: Davi Rocha

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