2025 será mais um ano sem picanha na mesa do brasileiro pobre
Previsão do economista Mansueto Almeida é de que os próximos dois anos serão muito difíceis para a economia do país
Chegamos ao fim de 2024, um ano que, do ponto de vista da economia, teve de tudo – da disparada da inflação à subida dos juros; da explosão do dólar à gastança do governo, causando a irritação do mercado, que agora desconfia de qualquer promessa do presidente da República e do seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad; da baixa taxa de desemprego à falta de mão de obra mais simples, que, acostumada ao ócio remunerado do Bolsa Família, recusa a oferta de emprego formal, ou seja, com Carteira assinada, o que castiga empresas do agro no litoral e no interior do Ceará, por exemplo.
Com tudo isto somado, as contas públicas de 2024 estão sendo fechadas com números que muito preocupam os que trabalham e produzem neste país bonito e rico por natureza: o serviço da dívida (os juros) aproxima-se de R$ 900 bilhões e não há hoje nem haverá amanhã superávit primário capaz de encarar essa despesa; o déficit orçamentário, que o governo prometeu zerar em 2004, permanecerá em 2025 e 2026 – dizem os analistas e repetem os consultores. E 2027 parece um grande mistério.
O economista Mansueto Almeida, secretário do Tesouro Nacional na época em que Paulo Guedes foi ministro da Fazenda no governo Bolsonaro e hoje é economista chefe do banco BTG Pactual, já advertiu que 2025 e 2026 serão anos difíceis. Porém, difícil mesmo será 2027 com possibilidade de recessão, ele prevê. Trata-se de um exercício de futurologia que exigiu dele o estudo de números atualizados e projeções críveis, as quais poderão ser desmentidas ou confirmadas pelo porvir.
Aqui na paróquia cearense, um conterrâneo de Mansueto Almeida, o também economista Raimundo Padilha, é curto e preciso na sua análise, que, no conteúdo, é mais ou menos semelhante à daquele. Padilha mandou mensagem a esta coluna, dizendo o seguinte:
“Sempre há um grande risco quando o Governo tem baixa profissionalização na sua equipe e o presidente procura exercer a função de ministro, principalmente da Economia. A figura do super-homem é falsa. Também, a história tem mostrado que na reeleição o segundo governo tem sido inferior ao primeiro. Torço para que 2025 seja melhor do que 2024, mas as variáveis não estão favoráveis.”
E não estão mesmo, porque da parte do Palácio do Planalto não se vê a explícita determinação de reduzir as despesas do governo. E do outro lado da Praça dos Três Poderes, na maravilhosa Brasília – também chamada de Ilha da Fantasia – o Congresso Nacional, lamentavelmente, foi atacado pelo mesmo vírus da gastança.
Há, contudo, uma inacreditável esperança: o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, parece decidido a pôr um termo à escandalosa questão das emendas parlamentares. Tanto é verdade que, por sua determinação, a Polícia Federal abriu inquérito para apurar graves irregularidades na liberação, na repartição e na destinação dessas emendas.
O STF poderia aproveitar sua atual temporada de decisões para, simplesmente, extinguir o que muita gente chama de excrescência -- as emendas parlamentares. Se o Brasil fosse mais sério, deveria dispor de um Orçamento Geral da União (OGU) subordinado a um Plano Nacional de Desenvolvimento, algo inexistente aqui. Só assim o governo teria recursos para investir em infraestrutura, segurança pública, saúde, educação, ciência, tecnologia e inovação. Do jeito que está hoje, o OGU é e seguirá sendo só uma peça de ficção, e a taxa de investimento é franciscana.
Neste último dia do ano, poderíamos estar aqui celebrando a boa expectativa de um Ano Novo com altas possibilidades nas áreas social e econômica. Mas o horizonte é cinzento pelas nuvens de incertezas que se avolumam.
No seu pronunciamento, feito por cadeia de rádio e televisão na véspera do Natal, o presidente Lula evitou falar sobre temas da economia.
Lula sabe – e a torcida do Flamengo, também – que o terceiro ano do seu terceiro mandato de presidente da República não entregará o que prometeu na sua campanha de 2022: uma peça de picanha Maturatta está custando mais de R$ 119 – no Google a oferta é enorme e os preços chegam até R$ 191 pela mesma peça, coisa de doido. Os brasileiros pobres, que sonharam com a promessa presidencial, terão de contentar-se com carne se terceira.
Para concluir: a todos os leitores desta coluna, a todos os teleouvintes do Bom Dia, Nordeste – que diariamente, às 5h30, pela Verdinha 92.5 e pela TV Diário acompanham os comentários ao vivo deste colunista – sinceros votos de um Feliz Ano Novo.
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