Economia brasileira: o medo está expulsando a esperança

Juros nas alturas, dificultando o crédito; dólar supervalorizado, turbinando a inflação; mercado desconfiando da política fiscal de Lula; Trump chegando com seu discurso heterodoxo. É 2025 que se aproxima.

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(Atualizado às 06:53)
Legenda: O preço dos alimentos continua subindo, mantendo em aclive os índices da inflação.
Foto: Divulgação

Hoje, 30 de dezembro, é o último dia útil deste ano para o mercado financeiro, que já está de olhos postos em 2025 e em 2026, cujas projeções são ruins por força de causas externas e internas – e uma delas é a inflação renitente, aproximando-se dos 5%, o que preocupa porque ela não reage aos juros altos, que deveriam estar a atrair dólares, o que não acontece, obrigando o Banco Central a fazer leilões que já consumiram mais de US$ 30 bilhões nos últimos 15 dias.

Os investidores – isto é visível – deixaram de acreditar na promessa do governo de reduzir seus gastos, os quais, com a lamentável e incrível contribuição do Congresso Nacional, estão aumentando.

Assim, está esvaziada a esperança de equilíbrio das contas públicas em 2025 e em 2026. O que está mesmo chegando com o réveillon é o medo de que as coisas piorem. Infelizmente é o sentimento que se colhe de quem produz e trabalha na indústria, no comércio, no agro e no serviço.

Neste ano, segundo revela a Agência Estado, sete milhões de pequenas, médias e grandes empresas brasileiras não conseguiram pagar em dia os seus compromissos. Para 2025, o cenário será mais complicado por causa dos juros elevados e da alta cotação do dólar.

Amanhã, 31, e depois, 1º de janeiro, a celebração do fim do Ano Velho e da chegada do Ano Novo tomará conta de todos. No dia 2 de janeiro, a quinta-feira, quando o mercado voltará a operar, ter-se-á um sinal do caminho a ser percorrido pela economia brasileira nos próximos dois anos.

Hoje, às 8h30, o Banco Central, como o faz todas as segundas-feiras, divulgará o último Boletim Focus de 2024, com as previsões para inflação, juros, PIB, balança comercial e dívida.

E, para tornar mais cinzento o horizonte da economia, o eleito presidente Donald Trump, o mercurial, vem aí com a promessa de expulsar dos EUA milhões de imigrantes ilegais; taxar em 20% todos os produtos de origem chinesa; comprar a Groelândia;  tornar o Canadá, hoje uma nação independente, o 51º Estado norte-americano; retomar a gestão do Canal do Panamá; impor tributos extras aos produtos do agro brasileiro;  fechar o escritório da Organização Mundial do Comércio em Washington (OMS); e reduzir ao mínimo a ajuda financeira americana à Organização do Tratado do Atlântico Norte – a OTAN. Ele também promete interferir para acabar logo com a guerra na Ucrânia e com o conflito no Oriente Médio, mas ainda não disse como pretende fazer isso.

Mas não só a economia assusta os brasileiros, que, também, estão vendo prosperar o crime organizado, cujos tentáculos, por mais incrível que possa parecer, já alcançam as instituições do país. A Segurança Pública não era, havia até pouco tempo, motivo de grande preocupação da sociedade, mas agora lidera a lista dos graves problemas nacionais.

Nas grandes cidades – Fortaleza entre elas – há bairros em que a circulação de veículos, o funcionamento do comércio e a realização de festas depende de autorização das facções que dominam a área. E agora, com o consentimento do STF, as Polícias Militares estaduais terão de usar câmeras no seu fardamento, uma medida correta, mas só poderão utilizar arma de fogo em último caso. Uma boa notícia para os profissionais do crime.  

Os governos federal, estaduais e municipais parecem impotentes diante das dificuldades à sua frente. E a polarização da política – esquerda radical versus direita radical – estimulada pela grande mídia e pelas chamadas mídias sociais, só agrava a cena.

Mas, apesar de todo o quadro acima descrito, os cearenses em particular podemos celebrar algumas conquistas. De acordo com Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), a economia cearense cresceu 6,67% no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Foi o setor da agropecuária – com 18,56% de alta – que puxou esse crescimento.

A indústria teve, também, forte incremento, tendo fechado o trimestre julho-agosto-setembro com alta de 12,48%, ou seja, mais do que o triplo da performance da indústria nacional, que foi, no período, de 3,6%. Por sua vez, o comércio teve alta de 4,2%, levemente acima do patamar nacional, cujo crescimento foi de 4,1%. 

Conclusão: no que depender do setor produtivo, a economia do Ceará manter-se-á em aclive, mas ela dependerá das políticas fiscal e monetária que, neste momento, caminham em sentido oposto. É preciso dizer, porém, que, com juros tão elevados, o crédito torna-se difícil, quase proibitivo para quem pretende investir e, também, para os que pretendem comprar a prazo.

E para essa mixórdia, o governo da União contribui com gastos excessivos que mantêm deficitárias as contas públicas. E uma coisa puxa a outra, produzindo uma bola de neve – ou um círculo vicioso – que só faz crescer.

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