A essência do aprender e ensinar: uma jornada histórica, fisiológica e moral da humanidade
Por gerações, o modelo educacional seguiu uma tradição. Hoje, há novos paradigmas em campo
Parte 1: A história do ensino – mudanças conceituais ou apenas retórica?
Desde a aurora da civilização, o ser humano sempre se deparou com a necessidade de transmitir o conhecimento. Se voltarmos aos primeiros registros de ensino, encontramos o filósofo grego Sócrates, que preferia o método da maiêutica — uma forma de questionar até que o aluno, por si mesmo, encontrasse as respostas. Mas, apesar da evolução de nossa sociedade em tantos aspectos, a imagem do mestre à frente de seus discípulos ainda parece familiar.
O filósofo e sociólogo Émile Durkheim certa vez afirmou: “A sociedade é, em grande parte, uma imagem de si mesma que ela deseja preservar através da educação.” Essa “imagem” foi mantida intacta por séculos.
Karl Marx, em sua análise das estruturas sociais, observou que o processo educacional não apenas molda o indivíduo, mas também perpetua as dinâmicas de poder da sociedade: “A ideologia dominante é a ideologia da classe dominante”. Assim, a escola — tal como conhecemos — é um reflexo das necessidades sociais e econômicas, um mecanismo para preparar o aluno a servir ao sistema.
No entanto, mesmo com o advento de novas tecnologias, o formato clássico de uma pessoa à frente de um grupo, discursando e esperando absorção passiva de conteúdo, permanece. Ivan Illich, em sua obra “Sociedade sem Escolas”, sugeriu que a educação tradicional sufoca a curiosidade e a autonomia, chamando atenção para a necessidade de métodos alternativos que promovam um aprendizado mais ativo e autodirigido. Mas convenhamos, entre a teoria e a prática, o modelo do “ensinar ensinando” continua firme e forte, ainda que algumas tentativas de inovar surjam aqui e ali, como aquele quadro branco interativo que ninguém sabe direito como usar.
Parte 2: A fisiologia do aprendizado – como o corpo e a mente absorvem conhecimento
Agora, se queremos entender de fato como o ser humano aprende, não podemos ignorar o lado fisiológico do processo. Afinal, somos um bicho mais complexo do que apenas racionais. Phil Jackson, ex-técnico de basquete dos Chicago Bulls e do Los Angeles Lakers, é um exemplo de alguém que compreendeu essa complexidade. Ele acreditava que os atletas, assim como os estudantes, têm diferentes formas de absorver conhecimento: alguns aprendem ouvindo, outros observando, e muitos apenas compreendem plenamente quando praticam. “O jogo é um reflexo da vida”, dizia Jackson, sempre enfatizando a prática e a adaptação das estratégias de ensino a cada jogador.
A psicologia do aprendizado, exemplificada por teóricos como Howard Gardner e sua teoria das inteligências múltiplas, ressalta que cada ser humano processa informações de maneiras variadas. Gardner propôs que existem múltiplas formas de inteligência — lógico-matemática, linguística, espacial, entre outras — e cada uma exige abordagens diferentes para ensinar e aprender. Jerome Bruner, um dos mais influentes psicólogos da educação, também reforçou essa diversidade ao defender que “aprendemos melhor quando estamos engajados ativamente no processo.”
Parte 3: O poder do exemplo – A linguagem universal do aprendizado
E o exemplo, o tal “exemplo que arrasta”? Essa velha máxima de que as ações falam mais alto que palavras é talvez o ensinamento mais eficaz e antigo. O filósofo Friedrich Nietzsche escreveu: “Aquele que tem um por que para viver pode suportar quase qualquer como.” E o “como”, muitas vezes, é aprendido simplesmente ao observar os outros.
Durkheim observou que a moralidade de uma sociedade se constrói, em grande parte, a partir de exemplos cotidianos. Ele afirmava que a educação moral é “o meio pelo qual a sociedade perpetua a si mesma através de gerações.” Portanto, é na imitação e observação que moldamos nossas ações e nossos princípios.
Sociedades ancestrais, como as tribos indígenas, por exemplo, usavam o exemplo como sua principal ferramenta de ensino. As crianças aprendiam ao imitar os mais velhos em suas tarefas diárias, absorvendo ética, moral e técnica de uma vez só. Bronisław Malinowski, antropólogo polonês, descreveu essa forma de aprendizado como uma “pedagogia do fazer,” em que o exemplo é não só essencial, mas também parte de um processo cultural contínuo.
Parte 4: os desafios e as soluções modernas para o aprendizado
Se no passado o professor era a figura central, hoje competimos com uma avalanche de informações disponíveis a um simples toque na tela de um smartphone. Nunca a humanidade teve tanto acesso ao conhecimento, e, paradoxalmente, nunca foi tão difícil capturar a atenção dos alunos. O excesso de estímulos cria o que o neurocientista Daniel Levitin chama de “saturação informacional,” que nos impede de processar informações de maneira eficaz.
Métodos modernos, como a aprendizagem baseada em projetos (Project-Based Learning) ou a sala de aula invertida, surgem como tentativas de reformular o processo. O professor Salman Khan, fundador da Khan Academy, revolucionou o aprendizado ao propor que os alunos estudassem a teoria em casa, por meio de vídeos, e utilizassem o tempo de aula para resolver problemas práticos. “O futuro da educação não está no conteúdo, mas em como interagimos com ele,” afirmou Khan.
Esses modelos buscam, acima de tudo, despertar a curiosidade e a capacidade crítica do aluno, numa época em que a retenção de informações é curta e a concorrência por atenção é feroz. E, como sugeriu o pedagogo Paulo Freire, “educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante.” Se a educação moderna deseja sobreviver, ela deve significar algo mais profundo do que simples instrução.
Final: um futuro de mentes menores?
No entanto, uma triste realidade se desenha no horizonte: estudos indicam que o poder cognitivo da atual geração está em declínio. A chamada “geração digital” tem mostrado resultados preocupantes em testes de memória e raciocínio crítico. Segundo o neurocientista Michel Desmurget, estamos testemunhando pela primeira vez na história uma geração com menor capacidade cognitiva do que a anterior, algo impensável até então. E se “aquilo que não usamos, perdemos”, como diria Friedrich Engels, qual será o destino do aprendizado humano?
Assim, cabe a nós refletirmos: a educação, que sempre foi o alicerce da evolução humana, será também sua pedra de tropeço? Talvez estejamos em um ponto de inflexão. Seja como for, o que aprenderemos nas próximas décadas dirá muito sobre o que seremos como sociedade. E o grande desafio será manter o aprendizado vivo, em um mundo cada vez mais disperso, no qual o saber se perde na superficialidade. Dentro de tal necessidade humana, o professor continua sendo a máquina mais perfeito de se evoluir os ensinos para a sociedade e sua valorização é a base de crescimento de qualquer nação.