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Ceará é o maior produtor de camarão no Brasil e deve ser um dos mais beneficiados com possibilidade de exportação do produto para a Europa
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Divulgação
O camarão cearense deve voltar a ser exportado a partir de 2025, conforme prevê o secretário executivo do Agronegócio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), Silvio Carlos Ribeiro. Segundo ele, a pauta foi discutida com o Ministério da Agricultura, em um evento da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), na semana passada.
O mercado europeu encontra-se fechado para os camarões brasileiros desde 2018, após a identificação de inconformidades em um navio proveniente de outro estado. Desde então, o setor tem pressionado pelo retorno das exportações.
"O Ceará já é o maior vendedor de pescados no Brasil. Se abrir o mercado europeu, realmente, os números vão lá para cima, porque temos uma logística muito boa para a Europa", projetou, durante o evento Cresce Ceará, nessa sexta-feira (6), em Fortaleza.
Sozinho, o Ceará foi responsável por 57% da produção de camarão do Brasil. Ao todo, foram 72,7 mil toneladas do pescado criado em cativeiro em 2023, uma alta de 19,6% em relação ao ano anterior, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O valor de produção da carcinicultura cearense foi de R$ 1,3 bilhão, totalizando crescimento de 25%. A maioria dos camarões saiu de Aracati e Jaguaruana, os dois maiores produtores do Estado e do País.
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Legenda: Ceará atingiu recorde de produção na carcinicultura
Foto: Honório Barbosa/Agência Diário
Para o governador Elmano de Freitas (PT), o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, assinado na sexta-feira (6), ajudará a impulsionar ainda mais o setor, quando as exportações forem liberadas. O acordo foi comemorado por ele no palco do Cresce Ceará.
"Na manhã de hoje, assistindo à TV Verdes Mares, vi com alegria o anúncio do acordo da União Europeia com o Mercosul. Isso para nós é fundamental porque sabemos que hoje o pescado brasileiro não é exportado. (O acordo) aumenta a nossa condição de superar a barreira ainda existente de importação para a Europa de pescado. Para o Ceará, isso é decisivo porque nosso estado é o maior produtor de camarão do Brasil", disse.
Ele ainda lembrou que além de toda a infraestrutura já consolidada do Porto do Pecém, a Transnordestina será fundamental para essa logística e para o escoamento pelo porto. Para isso, o governador destacou que ambos os portos secos (Quixeramobim e Iguatu) possuem condições de receber contêineres com camarão e fazer o escoamento mais rápido para exportação.
Entenda o que trata o acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul
O tratado é um acordo comercial que a União Europeia deseja concluir com os países da América do Sul. As negociações começaram em 1999, e o tratado pretende eliminar a maioria das tarifas entre as duas regiões, criando um espaço de mais de 700 milhões de consumidores.
Criado em 1991, o Mercosul (Mercado Comum do Sul) reúne cinco países: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e, desde 2023, a Bolívia. A Venezuela está suspensa desde 2016. O tratado UE-Mercosul, no entanto, não inclui nem a Venezuela, nem a Bolívia.
Com a mudança, esses países sul-americanos poderão exportar carne, açúcar, arroz ou mel para a Europa. E a UE pode exportar veículos, máquinas ou produtos farmacêuticos.
Quem sai ganhando?
As empresas dos dois continentes, com acesso a 270 milhões de consumidores para os grupos europeus e 450 milhões para as empresas sul-americanas.
O setor agrícola sul-americano pode ser beneficiado pelo tratado, ainda mais levando em consideração que Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai exportaram produtos agrícolas e agroalimentares no valor de US$ 24 bilhões (R$ 144 bilhões) para a UE em 2023, em particular soja.
Por sua vez, a Comissão Europeia afirma que o acordo representa uma oportunidade para produtos europeus como vinho (que atualmente tem uma tarifa de até 27%), licores ou queijos, que podem ser beneficiados por uma "ascensão da classe média".
O governo espanhol, que apoia o acordo, destaca os benefícios que o tratado poderia proporcionar para o vinho ou o azeite de oliva. A Alemanha espera vender mais veículos.
Além disso, o desafio da transição climática empurra a Europa a uma aproximação com esta região do mundo, rica em lítio, cobre, ferro e cobalto, entre outros.
Quem sai perdendo?
Os criadores de gado franceses estão preocupados, assim como os sindicatos agrícolas espanhóis e de outros países europeus. "A pecuária francesa não conseguirá competir com a brasileira", disse o economista Maxime Combes, contrário ao tratado.
Em relação ao respeito às normas ambientais e de segurança alimentar, "há uma dificuldade real para acompanhar o rastreamento de cada animal, não conseguimos rastrear" porque vem de uma região do mundo com regras menos rígidas, acrescenta.
O acordo prevê cotas de exportação de 99 mil toneladas de carne bovina e o fim de todas as tarifas alfandegárias sobre 60 mil toneladas de carne importada do Mercosul.
A Comissão Europeia afirma que são "volumes pequenos" porque as cotas previstas representam apenas 1,6% da produção anual de carne bovina na UE.
Outro prejudicado pelo acordo pode ser o clima. A França pressiona para que o tratado inclua os dispositivos do Acordo de Paris sobre o Clima e que os compromissos assumidos na questão climática sejam vinculantes.
O Brasil pede proteção para indústrias que considera estratégicas, como a automotiva.
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