Comércio e serviços devem puxar geração de empregos do Ceará no 2º semestre
Conforme especialistas, recuperação do mercado de trabalho vai depender do controle da pandemia
Após a economia estremecer novamente com a segunda onda de contaminação, o mercado de trabalho cearense pode ter uma recuperação mais sólida a partir do segundo semestre, sustentada pelo avanço da vacinação e a retomada plena da atividade econômica.
O presidente do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Vladyson Viana, lembra que o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado já cresceu 1,14% no primeiro trimestre, o que indica um cenário de continuidade de geração de vagas.
"A partir dos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), nós podemos perceber uma curva positiva na criação de novos postos de trabalho no Ceará. Só em abril, tivemos um saldo de mais de 3,2 mil novas vagas. Isso mostra uma clara recuperação da economia a partir dos decretos de flexibilização dos isolamentos sanitários", afirma.
Veja também
Setores
Para ele, a combinação desses dados gera um contexto que aponta para o desenho de condições que favorecem a recuperação do mercado de trabalho, em especial dos setores de comércio e serviços, que reagem mais rapidamente, assim como a indústria.
A diretora da Studart RH e diretora da CDL Jovem Fortaleza, Gisele Studart, ressalta que ainda há incertezas sobre uma possível terceira onda que retardaria o crescimento do mercado de trabalho.
Ainda assim, caso a pandemia permaneça estável, ela prevê aumento de vagas em todas as áreas. "Além das que tiveram um aumento considerável desde 2020, que são as áreas de marketing, propaganda, desenvolvimento, copyright, todas as áreas de tecnologia e inovação", indica.
Nesta segunda-feira (28), os cargos com mais oportunidades disponíveis a partir do Sine/IDT eram:
- Eletricista (169)
- Montado de calçados (150)
- Auxiliar de linha de produção (64)
- Atendente de telemarketing (54)
- Trabalhador polivalente de confecção de calçados (50)
- Vendedor pracista (48)
- Vendedor interno (40)
- Operador de telemarketing ativo e receptivo (29)
"À medida que há um aumento da imunização da população, uma queda da curva de contágio, uma maior garantia que podemos retomar as atividades econômicas, os empreendedores terão segurança para contratar novos trabalhadores"
Vagas temporárias
A segunda metade do ano também é marcada pela oferta de vagas temporárias para atender a demanda historicamente maior. Studart aponta que deverá haver uma primeira leva de contratações em julho para segmentos de turismo, alimentação, atendimento e vendas.
Viana, no entanto, ressalta que o maior volume de oportunidades deve começar a ser disponibilizado em setembro.
"Essas vagas temporárias que são criadas a partir da sazonalidade do setor de comércio e serviços. Os profissionais já podem começar a se preparar para essa oferta", aconselha o presidente do IDT.
PIB x Taxa de Desocupação
Apesar de a economia cearense ter alcançado leve alta de 1,14% entre janeiro e março deste ano, a taxa de desocupação, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), chegou a 15,1% da população, o pior resultado da série histórica iniciada em 2012.
Vitor Hugo Miro, coordenador do Laborátorio de Estudos da Pobreza (LEP) da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que a discrepância entre a retomada da atividade econômica e a piora dos índices de desemprego está ligada à procura por vagas.
"Com as medidas de distanciamento, muitas pessoas acabaram saindo do mercado de trabalho, e só estão retornando agora. Isso contribui para o aumento na taxa de desocupação, uma vez que, pela metodologia oficial adotada pelo IBGE, é considerado como desempregado todo indivíduo que não está trabalhando, mas que efetivamente buscou emprego", esclarece.
Dessa forma, pessoas que não estão buscando uma recolocação não entram na estatística. Com a maior busca por trabalho durante a retomada, a taxa de desocupação acaba se elevando.
Miro ainda lembra que, após uma crise econômica, o mercado de trabalho sempre demora mais a se recuperar.
"Na análise do mercado de trabalho também devemos considerar o que é conhecido na literatura econômica como histerese. O termo indica dificuldades do mercado de trabalho em retomar ao seu estado original após um choque econômico negativo. A economia brasileira já estava em um processo muito lento de recuperação antes da pandemia. O estado do mercado de trabalho no pós-pandemia é bastante incerto", avalia.
Mudanças no mercado
Studart pontua que uma das dificuldades durante essa retomada é a dúvida de como o mercado irá se comportar em suas modalidades de contratação, por exemplo.
"Oportunamente, falar sobre as mudanças da forma de contração. Os profissionais tenderão a trabalhar mais em regimes sob demanda, como contratos intermitentes, PJ, etc", indica a diretora da RH Studart.
O coordenador do LEP ressalta que a flexibilização do mercado de trabalho é uma tendência que foi acelerada com a pandemia e que, em momentos de crise, rigidez no mercado de trabalho também pode ter algum efeito negativo na recuperação.
"A redução de rigidez dos contratos de trabalho foi uma das medidas tomadas para evitar perdas maiores. Deve-se pensar em formas equilibradas para flexibilizar o mercado de trabalho, mas sem gerar postos de trabalho precários. Infelizmente, nossa força de trabalho ainda é pouco qualificada e insegura, e no curto prazo a flexibilização traz essa preocupação"
Foco dos empregadores
Além das competências técnicas necessárias ao exercício do cargo pretendido, os empregadores têm passado a olhar mais para as chamadas soft skills, habilidades interpessoais, como capacidade de resolutividade e de fazer multitarefas.
"O domínio de novas tecnologias, seja o e-commerce, as videoconferências, o ensino remoto, enfim, às novas plataformas e tecnologias que são agora inerentes, são presentes a nova lógica da economia também estão sendo requisitados", pontua Viana.
Studart reitera as exigências e alerta que tem sido necessário mais do que apenas vontade para conquistar a vaga.
"Empregadores estão buscando, além de experiências para somar as equipes, pessoas multicomponentes, generalistas, para atuar em multifunções e, assim, agregar valor e ter resultados tem múltiplas áreas nas empresas", acrescenta.