Preço do pão de coco aumenta 30% com inflação do coco na Semana Santa, mas procura segue em alta
Apesar da alta, comércio aposta na tradição para aumento de 5% das vendas em unidades

O pão de coco, iguaria tradicional no período da Quaresma (iniciada em 5 de março) e, principalmente, na Semana Santa — que este ano ocorre de 13 a 20 de abril, está pesando mais no bolso do cearense em 2025, com um aumento que pode chegar a 30%. O principal motivo é a lata de um dos insumos: o coco ralado in natura., que teve alta de 50% no preço médio.
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A pensionista Ivanilda Tomé afirma dar “o maior valor” para o pão de coco, mas que terá que comer menos este ano. “Já vi na padaria perto da minha casa que está R$ 10 o grande e R$ 5 o pequeno. Tá caro. Não fico sem porque gosto muito, mas vou ter que comer menos esse ano para poder caber no orçamento”, revela.
Evandro Gomes Costa, que há décadas vende pão de coco, na semana passada, pagou R$ 25 no quilo do coco natural. Há 12 anos trabalhando na rua Carlos Vasconcelos, no Bairro Aldeota, ele afirma que precisou aumentar o valor do pão, que ano passado estava em torno de R$ 10, para R$ 13, na média. Para tentar repassar o aumento do insumo, este ano, o valor do quilo do seu produto, está R$ 39.
O seu produto é tão conhecido, por ter esse diferencial de ter pedaços de coco misturado na massa, além do coco ralado por cima, que Evandro não está mais aceitando encomendas para a Semana Santa. Além disso, enquanto a reportagem estava na sua loja, ele tentava negociar 100 quilos de coco em pedaço e a mesma quantidade de coco ralado, para dar conta da produção dos próximos dias.

“(As encomendas) já bateram o recorde de todos os anos. Tenho mais de 16 mil unidades de pão de coco pedidos só para a Semana Santa. Tem empresa que encomendou 2 mil, outra 1,5 mil e fora as pessoas que já encomendam tradicionalmente para as suas famílias”, conta.
“Porém, no balcão, sempre vai ter. Tenho todo dia, de janeiro a janeiro, para quem quiser levar um, dois, três”, fala, orgulhoso.
Escassez do insumo pode comprometer a produção
Evandro afirma que não está mais aceitando os pedidos por não ter condições operacionais de produzir e, também, por conta do coco. “Não tem coco. Estou comprando coco lá em Horizonte e está caríssimo. Não sei como vou fazer se continuar assim”, diz Evandro, lembrando que ainda consegue comprar de fornecedores que já tem relação, com um preço ainda em conta, de R$ 15 a R$ 18 quando esses possuem o produto.
“Mas quando eles não têm preciso comprar de quem tem, porque vendo todos os dias uma média de 200 pães de coco e isso é o ano todo. Na Páscoa, esse número só faz aumentar.”
Para expandir a produção, Evandro passou de quatro padeiros que tinha em 2024, para 15 funcionários este ano. Assim, a expectativa é de vender 18 mil pães de coco só no período da quaresma.

“Ano passado eu tive que fracionar só dois por cliente, na Semana Santa e quando acabava, eu fechava a loja e me escondia, porque o pessoal briga que quer”.
Além dos pães para levar para casa, a padaria também serve lanches com o seu carro-chefe, como um sanduíche de pão de coco com carne de sol, requeijão e queijo coalho, que Evandro garante que é “um sucesso”.
Mercados querem vender 10% mais pães
A presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), Claudia Novais, diz que, com relação aos produtos tradicionais de Páscoa, onde está incluído o pão de coco, os supermercados estão bem abastecidos e atentos às movimentações do mercado. Assim, ela afirma que a expectativa é de aumento na venda em 10% no pão de coco e de 8% ao se somarem o pescado e os ovos de chocolate nesta lista de produtos.
“Esses números refletem a preparação do setor para atender à demanda dos consumidores.”
Sindipan-CE aposta na tradição para crescer as vendas
De acordo com Alex Martins, presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria no Estado do Ceará (Sindipan-CE), o insumo era comprado, nesta mesma época do ano passado, com um preço médio de R$ 12 e atualmente, está sendo vendido por R$ 18 (representando o aumento de 50%).
“O coco está em falta no mercado e está subindo muito preço. Então, estamos esperando as compras das padarias, estamos fechando essa quantidade de coco que será utilizado, para entender em quanto vai ficar o preço do pão de coco este ano”, diz Martins, ponderando que o setor trabalha com o valor médio, até agora, de R$ 25 o quilo.

Mesmo com o aumento dos valores do produto, o Sindipan-CE espera um aumento de 5% na venda em unidades de pão de coco em relação ao ano passado. Esse é o mesmo ocorrido nas vendas do produto em 2024, com relação ao ano anterior. Assim, a intenção é crescer o mesmo percentual.
Em 2024 foram vendidos, segundo a entidade, cerca de 3,1 milhões de unidades de pão de coco no Estado. Agora, a intenção é vender cerca de 3,3 milhões, somando as unidades das padarias e mercados.
“O ano passado já foi bom, foi expressivo, mas a gente quer tentar aumentar mais. Para isso, vai ter uma campanha que a gente vai fazer, como todo ano a gente faz, para a venda de pão de coco”.
Patrimônio cearense
Além disso, Martins comenta que o Sindipan-CE está trabalhando para que o pão de coco seja reconhecido pela Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), como uma “receita cultural do cearense”. “Estamos esperando que isso ocorra ainda antes da Semana Santa”, reforça.
O que está aumentando o preço do coco?
Reinaldo Ribeiro, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Coco (Aprococo), afirma que o aumento do preço do coco in natura se dá a escassez do produto. “Poucas áreas estão produzindo coco seco no Brasil, praticamente só o Ceará e Pará. A Bahia deixou de ser um grande produtor e está convertendo plantios de coco para outras culturas. Logo, os plantios dos estados do Ceará e Pará não dão conta da demanda do produto de alta qualidade”.
Ele afirma que em 2024, o Brasil importou 13,1 milhões de quilos de coco ralado. “Porém, esse produto não possui a qualidade exigida pelos fabricantes de produtos artesanais, pois, muito é oriundo da Ásia e destinado à ração animal”.