Voos entre cidades do Nordeste têm a menor quantidade de assentos já registrada em 25 anos

Escrito por
Igor Pires igor.aer.ita@gmail.com
(Atualizado às 14:15)
Legenda: Fortaleza deixou de ter voos da Azul para Juazeiro do Norte e Campina Grande, e reduziu as frequências para Recife
Foto: Renato Bezerra

O primeiro trimestre de 2025 teve a menor quantidade de assentos comerciais em voos dentro do Nordeste desde o início desses registros pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), no ano 2000. Entre janeiro e março, foram 1.150.141 assentos, 27% a menos que no mesmo período de 2024, que movimentou 1.556.632 assentos.

O fraco resultado pode ser considerado o pior momento da aviação comercial nordestina nesses 25 anos, desconsiderando o 1º trimestre de 2021, altamente afetado pela pandemia de Covid-19.

Assentos intra-Nordeste no 1º trimestre de 2025

Foto: Fonte: Anac

No período, todas as três companhias aéreas voando no Brasil (mais a Voepass) tiveram reduções, algumas bem expressivas, sobretudo a Azul e a Voepass que teve sua autorização de realizar voos comerciais suspensas pela Anac.

Se em 2024, no 1º trimestre, a Voepass superou os 64 mil assentos intra-Nordeste, em 2025, praticamente todos desapareceram com a drástica redução de bases, após o triste acidente de agosto passado, permanecendo apenas voos entre Recife e Fernando de Noronha em Pernambuco. Com a suspensão nacional das operações, todos os assentos foram retirados.

Viagens intra-Nordeste são aquelas que têm como origem e destinos cidades nordestinas e dão uma mostra de como está a força da aviação comercial na região, ao refletir a queda na demanda interna ou a falta de assentos.

No seu auge recente ano passado, a Voepass chegou a voar para Fortaleza, Juazeiro do Norte, Mossoró, Campina Grande, Natal, Recife, Salvador e diversas cidades do interior baiano.

A Azul Linhas Aéreas também reduziu bastante o número de assentos na Região entre o 1º trimestre de 2024 (827.000) e 2025 (662.860) teve redução de 20% (quase 170.000 assentos a menos). 

A maior investidora da Região, a partir do hub de Recife, tem passado por sucessivas crises financeiras e a imprensa nacional menciona novamente a possibilidade de Recuperação Judicial, a única das companhias que não ingressou.

Antes mesmo de 2025, a Azul desmantelou seu mini-hub em Campina Grande alegando que os resultados não foram os esperados. Ademais, o ano iniciou com a companhia aérea reduzindo diversas bases e rotas na região, conforme mencionamos.

Veja também

Reduções em Fortaleza da Azul

Sentimos aqui também em Fortaleza com a saída dos voos entre Fortaleza e Juazeiro, e Fortaleza e Campina Grande, até a redução de frequências dos voos entre Fortaleza e Recife.

Como consequência, vejo com regularidade usuários reclamando de preços de passagens entre Fortaleza e Natal, e Fortaleza e Recife, por exemplo.

Ao longo do ano de 2025, vê-se até o ATR-72 turboélice escalado permanentemente entre Fortaleza e Recife, algo que nunca aconteceu. A aeronave tem metade do número de assentos de um jato Embraer E2, usado na rota.

Reduções de Gol e Latam

A Latam também reduziu bastante seus assentos entre cidades nordestinas no 1º trimestre de 2025. O corte foi superior a 120.000 assentos.

Desses as ligações de/para Fortaleza foram as grandes responsáveis: redução superior a 80 mil assentos. A Latam não manteve os voos (a cidades como Teresina, Recife, São Luiz) após o fim de janeiro, como fez o ano passado, tendo o segundo mês do ano de resultado fraquíssimo.

Apenas a partir de abril a Latam incrementou suas ligações de Fortaleza ao Nordeste com voos adicionais a Teresina e São Luiz (totalizando 1 voo semanal). 

Por fim, a partir do presente maio, antecipou a vinda de frequências adicionais a Recife, na esteira da redução da Azul.

A Gol também reduziu assentos entre o 1º trimestre de 2024 e 2025. Ano passado foram 264.284 assentos contra 242.767 assentos no presente 1º trimestre, a menor porcentagem de redução.

Longo histórico de redução de assentos intra-Nordeste

O número de assentos à disposição em viagens intra-Nordeste já foi muito maior. Em 2011, havia quantidade superior a 11 milhões de assentos disponíveis à região (ano todo). Em 2019, eram apenas 6,52 milhões de assentos.

Assentos intra-Nordeste

Foto: Foto: Anac

O grande ‘atentado’ às viagens na região aconteceu em 2016, período de crise financeira e política no País. Após a pandemia, como se esperaria, essas viagens só reduziram e parece terá seu ano mais fraco em 2025, quando são previstas da ordem de 4,6 a 4,7 milhões de assentos (segundo análise feita em cima de dados da Agência Nacional de Aviação Civil).

Companhias aéreas têm suas sedes longes do Nordeste

Como já escrevemos várias vezes, as companhias aéreas têm suas sedes longe da região Nordeste, (as 4 companhias têm suas sedes no estado de São Paulo) de forma que operar para os lados de cá é naturalmente mais caro, o que pode determinar que haja incremento de voos em regiões mais próximas do Sudeste.

Voos com mesma duração, custam mais caro por aqui que nas regiões mais ricas do Brasil. É muito desafiante voar nessas condições.

 

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