Gasolina ficará mais barata com 30% de etanol, mas consumo deve aumentar; entenda
Governo Federal estima que o litro do combustível pode ficar até R$ 0,13 mais barato, mas especialistas não acreditam em impacto positivo para o consumidor
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Despesa com largo espaço no orçamento de muitas famílias brasileiras, a gasolina deve passar a ter 30% de etanol anidro em sua composição — atualmente o combustível conta com 27%. Com o novo percentual, o Governo Federal acredita que o litro do combustível pode ficar até R$ 0,13 mais barato, mas especialistas questionam os efeitos positivos no bolso do consumidor.
Isso porque, uma porcentagem maior de etanol na gasolina deve elevar o consumo, fazendo com que os motoristas precisem abastecer mais vezes, segundo avaliação do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos-CE).
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"Sempre que há mais álcool, há aumento de consumo. É uma situação que o governo está apresentando para melhorar a sua imagem, diminuindo os preços dos produtos, mas não há benefício nem dificuldade para o consumidor", afirma Antônio José, assessor de assuntos econômicos da entidade.
Ele pontua que os carros estão "preparados para essa nova composição, citando que veículos flex utilizam os dois combustíveis", mas reforça que não acredita em uma "compensação positiva para o consumidor" no quesito preço, "porque embora possa diminuir o custo do produto, o consumo vai aumentar", reforça.
"Talvez possa acontecer alguma dificuldade para aqueles carros que trabalham somente com gasolina, como importados e carros antigos", pondera Antônio José.
De acordo com os números mais recentes da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a gasolina é comercializada por, em média, R$ 6,08 o litro no Ceará. Já o etanol é vendido por, em média, R$ 5,03 no Estado.
O consultor na área de Petróleo e Gás, Bruno Iughetti, corrobora que a mudança não reduzirá o preço da gasolina ao consumidor final. "Me parece que isso é voltado para atender aos produtores de álcool no Brasil, que pressionaram o governo para que fosse implementada a mistura de 30%. Tecnicamente, é questionável quanto ao rendimento dos motores. Não acredito que baratearia o preço da gasolina", afirma.
Rafael Martins de Souza, pesquisador do FGV Ceri (Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura), também questiona o rendimento do combustível com a nova composição. "Quando há essa mistura com um combustível mais barato (etanol), a tendência é baratear. Do ponto de vista volumétrico, será mais barato, mas do ponto de vista de rendimento, o quanto essa nova mistura vai afetar?", pondera Rafael.
Luiz Lobato, professor de Engenharia Mecânica, também afirma que o custo de produção do etanol é mais baixo se comparado à gasolina e pontua que o consumo com a mistura tende a aumentar. "A menor autonomia do etanol, em relação à gasolina, pode levar ao aumento do consumo".
Lei do Combustível do Futuro
A mudança na composição da gasolina de 27% para 30% de etanol foi permitida ainda no ano passado, quando foi sancionada a Lei do Combustível do Futuro. Ainda conforme o Governo Federal, a transição do E27 para o E30 evitará a importação de 760 milhões de litros de gasolina por ano.
Na tarde da última segunda-feira (17), foram apresentados os resultados de testes com a gasolina E30, conduzidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT). Na ocasião, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, apontou a mudança como segura para a frota de duas e quatro rodas.
"Com ele, o Brasil deixará de ser refém do mercado internacional e da volatilidade dos preços externos. O preço da gasolina será determinado pela competitividade interna, e não pelo preço de paridade de importação”, destacou Silveira.
O pesquisador da FGV Ceri acredita que mais detalhes do estudo deveriam ser divulgados. Ele lembra que o motor flex chegou a Brasil em 2003. "Já temos uma frota bem significativa de motores flex, adaptados, mas nem todos estão. Carros anteriores não são flex e, mesmo depois de 2003, alguns são movidos somente a gasolina, então seria importante entender como esses motores reagem a essa mistura".
Lobato corrobora que os veículos flex serão os mais beneficiados com a mudança. "Há veículos que não são flexíveis, como os de motor à gasolina ou etanol puro, e podem ter dificuldade maior de desempenho".