PIB do Ceará cresce acima da média nacional no 1º tri; previsão para o ano é de 5,7% de alta

Nova perspectiva tem como base resultados do Ceará durante a segunda onda da pandemia de Covid-19 e também do avanço do processo de vacinação

Escrito por Samuel Quintela , samuel.quintela@svm.com.br
Legenda: Setores de serviços e agropecuária foram destaque no resultado do PIB trimestral no Ceará
Foto: Helene Santos

A economia do Ceará teve um rendimento melhor que a média nacional no primeiro trimestre deste ano. Segundo dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado cresceu 1,14% na comparação com igual período do ano passado.

No mesmo período, o País registrou uma alta de 1%. Além do resultado trimestral, o órgão divulgou que a expectativa de crescimento do PIB para 2021 foi atualizada de 3,70% (estimada em dezembro de 2020) para 5,77% (junho de 2021).

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De acordo com Witalo Paiva, analista de políticas públicas do Ipece, a nova perspectiva está baseada nos resultados registrados pelo Ceará durante a segunda onda da pandemia de Covid-19 e também no processo de vacinação, que vem avançando nas últimas semanas. 

Veja o desempenho dos grandes setores

  • Indústria: Alta de 7,17%
  • Agropecuária: Alta de 1,8%
  • Serviços: Queda de 0,51%

"Essa alta da previsão vem de um momento de otimismo e tem explicações na pandemia, porque, apesar das restrições, que foram menos intensas (na segunda onda), tivemos uma retomada mais rápida, e isso contribui", explicou.

"Temos, também, um avanço da vacinação, e a há expectativa de vacinarmos toda a população com a primeira dose em agosto. E, além disso, devemos ter a prorrogação do auxílio emergencial, que deve beneficiar a economia".
Witalo Paiva
Analista de políticas públicas do Ipece

Paiva ainda comentou que a melhora das expectativas para a economia estadual também considera um cenário econômico nacional mais estável e a evolução do controle da pandemia no mercado internacional. 

"Do ponto de vista nacional, temos vários pontos que confirmam essa previsão. Temos a melhora do cenário internacional e uma mudança do quadro fiscal, que coloca o Brasil com um crescimento perto dos 5%. E temos de levar em conta a nossa base de comparação, que é muito deprimida em relação ao ano passado", afirmou. 

Resultados trimestrais

Já no acumulado dos últimos quatro trimestres, o Ceará também superou o resultado nacional, ainda que o Ipece tenha registrado um encolhimento da economia.

Considerados os últimos 12 meses, a atividade econômica do Estado registrou uma queda de 3,68%, enquanto o País teve uma redução de 3,8% no mesmo período. 

A única base de comparação em que o Ceará apresentou um resulto abaixo do Brasil foi na análise entre primeiro trimestre deste ano com o último trimestre de 2020. Neste parâmetro, o Estado teve um encolhimento de 1,4%, enquanto o Brasil registrou crescimento de 1,2%

Contudo, segundo Nicolino Trompieri Neto, coordenador de Contas Regionais do Ipece, o resultado é reflexo de uma maior recuperação do Estado no final de 2020, gerando uma base de comparação maior do que na análise nacional.

Conforme os dados do Ipece, o Ceará apresentou uma considerável evolução no terceiro trimestre de 2020, com alta de 17,10%, e bom resultado no quarto trimestre do ano passado (1,35%). Nos mesmos períodos de comparação, o Brasil registrou altas de 7,8% e 3,5%, respectivamente. 

"Tivemos uma retomada superior ao Brasil em 2020, por isso tivemos uma queda maior ante o 4º trimestre de 2020. Tínhamos uma base muito forte de recuperação, então é normal que tenhamos um resultado abaixo do País na comparação do 1º trimestre de 2021 com o 4º trimestre de 2020", disse Trompieri.

Crescimento na segunda onda

Um dos setores que apresentou o melhor desempenho no primeiro trimestre de 2021 na economia cearense foi a indústria, com alta de 7,17%.

Segundo Witalo Paiva, a evolução é reflexo de um bom desempenho do segmento de eletricidade, gás e água, que cresceu 21,32% na comparação com igual período do ano passado. 

Entre os fatores que garantiram a melhora estão os resultados da produção de energia solar e eólica e a uma mudança na composição da demanda feita pelos operadores nacionais.   

"Os principais setores apresentaram altas e isso nos ajuda a entender o comportamento do setor. O setor de energia, gás e água apresentou um alta considerável, sendo impulsionada pela alta da demanda", explicou. 

Outro setor destacado pelo analista foi a construção civil e a indústria de transformação, que não foram paralisadas durante a segunda onda da pandemia do novo coronavírus. 

Bom desempenho

Sobre a construção, Paiva destacou um bom resultado de números de contratações e o baixo impacto, até agora, do aumento da taxa básica de juros (Selic).

"A construção já vem apresentando bons números e as mudanças na taxa de juros e inflação parece não ter influenciado muito o setor, que vem conseguindo registrar bons números de contratações. Além disso, em 2020, o setor foi paralisado e teve a atividade interrompida, mas não tivemos essa paralisação em 2021 e isso contribuiu para a alta".

Para a indústria de transformação, além da continuidade das atividades, o analista apontou um movimento de recomposição de estoques na economia nacional, que ajudou a manter o nível de demanda para o segmento.

Enfraquecimento dos serviços 

Destacado como o mais impactado pelos reflexos da pandemia, o setor de serviços – que engloba turismo, comércio, transportes e outros – registrou uma queda de 0,51%, puxada por um encolhimento de 9,23% do segmento de alojamento e alimentação. 

Segundo o analista Alexsandre Lira Cavalcante, com o atraso no pagamento do auxílio emergencial e outros fatores que reduziram a renda da população, atrelado às restrições econômicas, o Ceará acabou registrando uma forte redução no segmento de alimentação fora do lar e no turismo, por exemplo. 

No primeiro trimestre foi registrado o fechamento de cerca de 1.400 postos de trabalho apenas no segmento de alimentação fora do lar. 

Notamos uma nítida deterioração no setor de serviços e isso pode gerar uma queda de participação na composição do PIB. Esse foi o setor que mais sofreu com a pandemia, por conter várias atividades com altos potenciais de aglomeração", disse. 
Alaxandre Lira Cavalvante
analista de políticas públicas do Ipece

De acordo com o analista, os impactos da pandemia do novo coronavírus podem acabar reduzindo a participação do setor de serviços na formação do PIB do Ceará no futuro. 

Atualmente, o setor representa 76,74% da economia do Estado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Agronegócio em recuperação 

Sobre o resultado do setor agropecuário, que apresentou alta de 1,8% no primeiro trimestre de 2021 ante igual período do ano passado, a analista Cristina Lima destacou um movimento de recuperação após o período de seca no Estado. 

Segundo ela, o desempenho do setor indica que o agronegócio cearense está se recuperando depois de um período de forte estiagem.

"É importante ressaltar que desde 2017, o primeiro trimestre na agropecuária vem apresentando crescimentos, o que mostra que estamos mostrando robustez e se recuperando nos últimos 5 anos da época da seca. A gente destaca setor de sequeiro, e arroz, além das frutas, que tivemos uma estimativa de leve alta ou uma pequena queda", disse Lima. 

O que é o PIB?

O produto interno bruto, ou PIB, de uma região representa a soma de geração de riquezas, considerando bens e serviços, durante um período determinado. 

O PIB é geralmente utilizado para medir o nível de atividade econômica de uma região, seja um país, um estado ou até uma cidade. 

O cálculo do PIB, que é representado em reais no Brasil, considera as riquezas geradas no país, mas desconsidera as etapas até chegar ao produto final, se for analisado a geração de um insumo. 

Por exemplo, se o País produziu R$ 100 de trigo em um ano, R$ 200 de farinha de trigo (feita a partir do trigo) e R$ 300 de pão (feito a partir da farinha), serão considerados apenas os R$ 300 reais de pão para o cálculo do PIB.

Para comparação com o mercado internacional, o PIB do Brasil também pode ser calculado em dólar, mas é preciso considerar a taxa de câmbio na avaliação.

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