O impressionante projeto do Data Center da Casa dos Ventos

O empreendimento será localizado no Pecém, absorverá investimento de US$ 5 bilhões e quase dobrará o consumo de energia do Ceará

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 09:04)
Legenda: Foto do Data Center da Angola Cables, na Praia do Futuro em Fortaleza. O Data Center da Casa dos Ventos será maior do que este.
Foto: José Leomar / SVM

Se o ministério de Minas e Energia executar o que lhe compete – ou seja, criar todas as condições para a instalação, no Ceará, de novas Linhas de Transmissão de energia necessárias à operação das empresas do futuro Hub do Hidrogênio Verde do Pecém e do gigantesco Data Center que a Casa dos Ventos e sua parceira asiática ByteDance, dona do Tik Tok, querem instalar na ZPE – a economia cearense dará um salto extraordinário, capaz de catapultá-la dos atuais e longevos 2,1% para 3% do PIB nacional. Será uma façanha!

Sobre o Hub do H2V, esta coluna já escreveu em demasia. Em resumo, foi dito aqui que, nos últimos três anos, o Governo do Ceará celebrou cerca de 30 Memorandos de Entendimento com grandes empresas nacionais e estrangeiras que se mostraram e ainda se mostram dispostas a construir na ZPE do Pecém unidades industriais de produção do hidrogênio, que será verde porque produzido com energias renováveis – eólica, solar e hidráulica. Só dois desses memorandos – o da australiana Fortescue e o da brasileira Casa dos Ventos – envolvem projetos que, juntos, indicam o investimento de US$ 10 bilhões (perto de R$ 60 bilhões ao câmbio de hoje).

Mas conhece-se muito pouco sobre um Data Center que, na verdade, é um grande espaço físico projetado para armazenar, processar e gerenciar dados e aplicações. Ele abriga servidores, redes, equipamentos de armazenamento e outros componentes de TI (Tecnologia da Informação), que são essenciais para a operação de negócios e serviços online. É ele que fornece a infraestrutura física e tecnológica para a computação, como bem explica o Google.

O maior Data Center da América Latina foi instalado e opera desde 2019 no município paulista de Vinhedo, cujo nome batiza também o empreendimento. Hoje, lá operam o Vinhedo 1 – que tem 3.300 racks, ocupa área de 21 mil m² e consumiu investimentos de R$ 500 milhões – e o Vinhedo 2, que opera desde 2020 e ocupa área de 25 mil m² e dispõe de 4 mil racks (o rack é uma estrutura metálica padronizada, geralmente de aço, que abriga servidores, equipamentos de rede e outros componentes de hardware). Os dois Data Centers consomem 40 MW de energia.

O projeto do Data Center da Casa dos Ventos no Pecém é várias vezes maior do que o de Vinhedo. Para começar, o investimento programado é de US$ 5 bilhões. E mais: ele quase dobrará o consumo de energia elétrica limpa e renovável do Ceará. Sozinho, o empreendimento da Casa dos Ventos consumirá 876 mil MW, isto é, quase 1 gigawatt de energia eólica ou solar fotovoltaica – nada de origem fóssil como o gás natural, o óleo combustível ou o carvão mineral. Trata-se de um projeto sustentável do ponto de vista econômico, financeiro e ambiental. O consumo de energia de todo o estado do Ceará é menor do que 1,5 GW.

Esta coluna, em janeiro deste ano, revelou com exclusividade algumas informações a respeito do projeto da Casa dos Ventos de Mário Araripe. Por exemplo: na primeira fase de sua execução, serão investidos R$ 12 bilhões; nas obras civis de sua construção, trabalharão 3 mil pessoas; quando o Data Center estiver em operação, 2.800 pessoas – todas de nível superior, todas com especialização em Tecnologia da Informação (TI) e todas ganhando bons salários – comporão o seu quadro de colaboradores.

Essa mão de obra será preparada pelos campi do IFCE – que é o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – e pelo Senai-Ceará. E pela futura unidade do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o ITA, de São José dos Campos, em São Paulo.

Como a coluna informou ontem, o projeto da Casa dos Ventos com sua parceira ByteDance virou, por causa de sua dimensão econômica, social e tecnológica, um assunto de interesse nacional, a tal ponto que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está ele mesmo encaminhando com seu ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, uma solução rápida para a instalação das Linhas de Transmissão que, no Ceará, serão necessárias para a oferta segura e permanente da energia elétrica de que o extraordinário empreendimento necessitará.

Não é uma tarefa fácil. Construir uma Linha de Transmissão (LT) é, dependendo do seu porte e de sua extensão, trabalho de alguns anos. A ideia da Casa dos Ventos é de que o seu Data Center esteja em operação até 2028. Assim, as novas LTs terão de estar prontas dentro de três anos, se suas obras começarem neste ano de 2025.

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