Qair diz que 'não é momento' para investimento de R$ 20 bi em planta de hidrogênio verde no Pecém

Empresa também tem planos de planta de R$ 20 bilhões no Ceará, mas avalia que momento do investimento não chegou

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br
turbina eólica da Qair Brasil
Legenda: Qair Brasil tem planos para duas usinas de hidrogênio verde no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará
Foto: Divulgação/Qair Brasil

A Qair Brasil, subsidiária da multinacional francesa de energias renováveis Qair, tem planos de construir uma usina de hidrogênio verde de grande porte no Pecém. A H2'Liberté deve ter investimento de R$ 20 bilhões e capacidade instalada de 2.240 megawatts. O projeto foi desenhado para o hub de hidrogênio verde do complexo portuário, com produção voltada para a exportação. 

Contudo, o projeto de larga escala ainda não é prioridade para a empresa. “Ainda não é o momento para esse tipo de projeto. Não há mercado para essa capacidade, nós estamos desenvolvendo o nosso projeto, mas para um próximo momento”, aponta.

Outros projetos de grande porte previstos para o Complexo do Pecém têm enfrentado percalços: o Operador Nacional do Sistema (ONS) negou acessos de quatro usinas à rede elétrica. Desde o começo de abril, o Diário do Nordeste aguarda resposta do ONS sobre os motivos que levaram às negativas e quantos seriam os projetos desaprovados pelo órgão. Contudo, não houve resposta. Quando houver pronunciamento, esta matéria será atualizada.

A previsão de ligação na rede elétrica, é um dos requisitos para os investimentos serem concretizados. As plantas de hidrogênio verde da Voltalia, Fortescue e Casa dos Ventos, todas avaliadas em mais de R$ 15 bilhões, tiveram a ligação da rede negada.

Gustavo Silva, diretor de operações da Qair Brasil, aponta que a Qair adota uma outra abordagem. “A conexão é uma coisa simples, onerosa, não faz sentido fazer um pedido formal para uma coisa que só planejo instalar na próxima década. Nós pedidos aquilo que a gente já uma ideia de quando quer implantar”, apontou durante entrevista na 5ª edição do InterSolar Summit Brasil, evento que discutiu a aplicação das energias renováveis no País.  

A Qair Brasil já fez pedido de ligação da H2'Fraternité, usina de médio porte, à rede. Como é uma conexão de menor complexidade e a Qair já produz energia no mesmo nível em que deve consumir, a empresa espera não enfrentar problemas.

Veja também

Com mercado imaturo, Qair Brasil foca em planta de hidrogênio de médio porte para o Pecém

Considerando que o mercado do hidrogênio verde ainda não está amadurecido, a Qair Brasil está trabalhando em seu projeto de médio porte para o Complexo do Pecém, no Ceará. A planta deve ter investimento de cerca de R$ 2 bilhões.

A decisão final de investimento deve ser tomada até 2026, para o projeto ser instalado ainda nesta década, explica Gustavo Silva.

A usina, batizada de H2'Fraternité, é oito vezes menor que a H2'Liberté e será instalada dentro da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) 2 do Complexo do Pecém. A capacidade de produção deve ser 42 mil toneladas de hidrogênio por ano. 

O projeto inclui dois prédios de eletrólise, cinco tanques de armazenamento e instalações de abastecimento e carregamento de caminhões. A produção da usina será destinada ao Brasil. 

Gustavo Silva destaca que o mercado interno precisa se desenvolver para absorver a produção do hidrogênio sustentável, assim como a indústria precisa amadurecer. 

A gente está falando em estruturar um projeto de investimentos na ordem de bilhões para um ambiente de negócios que não está preparado"
Gustavo Silva
Diretor de operações da Qair Brasil

ARTICULAÇÃO É NECESSÁRIA PARA AUMENTAR COMPETITIVIDADE

O setor aguarda a conclusão da regulamentação para produção do vetor energético no Brasil. O marco legal do hidrogênio verde foi aprovado em agosto de 2024, mas ainda é preciso definir regras para a utilização dos subsídios e outros detalhes.

Outro obstáculo é o custo benefício do hidrogênio, já que a produção ainda é significativamente mais cara que a do hidrogênio produzido a partir de fontes não renováveis. 

Durante sua participação no Intersolar Summit Brasil Nordeste, Gustavo Silva defendeu a necessidade de uma articulação federal que possibilite uma maior competitividade dos combustíveis renováveis. 

“Eu produzo limpo, vou ter que gastar mais, mas vou ter que concorrer da mesma forma com quem não produz limpo. Há uma ausência de estratégia integrada na esfera federal que causa problemas imensos, como insegurança jurídica”, defendeu. 

Um levantamento da Cela, empresa de consultoria em energias renováveis, aponta que o Brasil tem 108 iniciativas para produção de hidrogênio verde. Boa parte, 42, foram anunciadas desde 2024. 

O Ceará é o estado que concentra maior interesse das empresas. Há sete pré-contratos firmados para instalação de plantas no Complexo do Pecém, superando US$ 30 bilhões em investimentos — cerca de R$ 170 bi.

 

Newsletter

Escolha suas newsletters favoritas e mantenha-se informado
Este conteúdo é útil para você?
Assuntos Relacionados