'Café fake' ainda não é comercializado em supermercados de Fortaleza

Café solúvel com a nomenclatura de pó para preparo de bebida à base de café não pode ser considerado 'fake'

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 10:42, em 20 de Fevereiro de 2025)
Consumidor COMPRANDO CAFÉ
Legenda: Preço do café disparou no Brasil e no Ceará
Foto: Bruna Damasceno / SVM

O ‘café fake’ ainda não chegou aos supermercados de Fortaleza. Na tarde dessa quarta-feira (12), a reportagem percorreu diversos estabelecimentos da Capital e a versão do 'café fake' não foi localizada.

ERRAMOS (Atualização feita no dia 19 de fevereiro de 2025 às 10h): Na primeira versão desta matéria, o Diário do Nordeste informou que supermercados de Fortaleza já comercializavam o 'café fake'. No entanto, o café solúvel encontrado não pode ser considerado 'fake'. A informação correta foi incluída no texto ainda nesta quarta-feira (19) após confirmação da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). 

Segundo a Abic, o café solúvel “Bom Jesus”, encontrado nos supermercados da Capital com a nomenclatura de pó para preparo de bebida à base de café, não deve ser confundido com os chamados “cafés fakes”.

"O produto em questão é composto por ingredientes permitidos e regulamentados pela legislação brasileira, quais sejam: café solúvel e açúcar. Portanto, não há violação aos direitos do consumidor nem às normas de defesa agropecuária e sanitárias. Pelo exposto, consideramos inadequado a designação do café solúvel adicionado de açúcar, sem impurezas, como “Café Fake”", diz em nota a Abic.

Café à base de café
Legenda: Pó de preparo à base de café da marca Bom Jesus não pode ser considerado fake
Foto: Bruna Damasceno/ SVM

De acordo com a entidade, os 'cafés fakes' são misturas ilegais e fraudadas de resíduos que não são café, como cascas, paus, folhas e outras impurezas que são resíduos agrícolas considerados impróprios para o consumo humano à luz da legislação (Vide Portaria SDA nº570/22). 

"Alguns destes produtos clandestinos podem conter outros vegetais e também aromatizantes artificiais para disfarçar o odor real da mistura. Ademais, os 'cafakes' geralmente também utilizam na rotulagem uma lista de ingredientes falsa ou que não possuem segurança de consumo comprovada pela legislação", explica.

Fenômeno de similares

Esse fenômeno de multiplicação de similares ocorre porque, em tempos de crise, a indústria rapidamente se adapta para manter sua receita, sendo uma das táticas utilizadas a oferta de produtos teoricamente de baixo custo.

No caso do ‘café fake’, a mistura de ingredientes e embalagens praticamente idênticas às dos originais induzem o consumidor a erro. Foi o que aconteceu com o leite, queijo, azeite e agora o café. 

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Do que é o 'café fake'

Recentemente, a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) alertou que essas bebidas similares podem conter impurezas como palha, pedaços de madeira e cascas. No caso deste produto encontrado pelo Diário do Nordeste, a indicação dos ingredientes no rótulo (ver foto abaixo), indica que há café e açúcar na composição do produto.

Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), na embalagem, deve conter as seguintes informações: denominação de venda, informação nutricional, rotulagem nutricional frontal, lista de ingredientes, identificação do país de origem, identificação do lote, entre outros. 

café fake em fortaleza
Legenda: Informações nutricionais do café
Foto: Bruna Damasceno / Diário do Nordeste

Em nota, a empresa informou que "o Solúvel Bom Jesus é composto unicamente por extrato aquoso desidratado de grãos torrados e moídos de café 100% conilon e açúcar residual de seu processo de torra, diferentemente dos produtos popularmente conhecidos como 'café fake', que podem conter impurezas como palha, pedaços de madeira, cascas e aromatizantes artificiais".

A Melitta citou ainda a Resolução RDC nº 716/2022 da Anvisa para dizer que "o termo 'café solúvel' refere-se ao produto resultante da desidratação do extrato aquoso de grãos do gênero Coffea, como o Coffea Canephora, obtido por métodos físicos e utilizando água como único agente extrator. No caso do Solúvel Bom Jesus, utiliza-se açúcar no processo de torra dos grãos".

"Com isso, dada a possibilidade de presença residual de açúcar no produto final, a Melitta optou por denominar o Solúvel Bom Jesus como 'Pó para preparo de bebida à base de café', em conformidade com a Resolução RDC nº 273/2005 da ANVISA", acrescentou.

A empresa disse ainda que "a lista de ingredientes está devidamente inserida na embalagem, conforme as normas aplicáveis" e "reafirma seu compromisso com a transparência e a qualidade de seus produtos, assegurando que todas as informações exigidas pela legislação, incluindo denominação de venda, informação nutricional, lista de ingredientes, identificação de país de origem e de lote, estão devidamente especificadas no rótulo do Solúvel Bom Jesus".

Uma arte digital da suposta embalagem foi enviada junto com a nota:

Também indagamos ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) se o órgão acompanha a segurança e a conformidade com os regulamentos técnicos dos 'cafés fakes', mas ainda não recebemos respostas. Quando as informações forem enviadas, esta matéria será atualizada. 

Direitos do consumidor 

Segundo Cláudia Santos, advogada e especialista em Direito do Consumidor e Presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB Ceará, os produtos similares confundem o consumidor por frequentemente omitirem informações, induzindo à compra de produtos não originais. 

“Fabricantes e comerciantes compartilham responsabilidade legal, pois induzem o consumidor ao erro por meio de publicidade, propaganda, omissão ou informações incorretas, infringindo os artigos 6º, 30, 31, 36 e 37 do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90)”, aponta.

Para ela, “agrava a situação o fato de se tratar de alimentos, potencialmente prejudiciais à saúde e à vida”. “Recomenda-se atenção à denominação de venda, lista de ingredientes, peso ou quantidade, origem, identificação do lote, validade, conservação e preparo”, destaca. 

Outro ponto, acrescenta, é que a proximidade de produtos similares em pontos de venda, como no caso de pó à base de café e café, é estratégia comum para enganar o consumidor.

Como denunciar

O Procon recebe denúncias pelo telefone 151, das 8h às 17h, de segunda a sexta-feira, bem como de forma virtual, em qualquer dia da semana, no portal da Prefeitura de Fortaleza (www.fortaleza.ce.gov.br); e ainda pelo aplicativo Procon Fortaleza.

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Por que o café está mais caro

O preço do café moído de 250 gramas, em supermercados de Fortaleza, apresentou um aumento de pelo menos R$ 2,00 nos últimos meses. Na tarde dessa quarta-feira (13), o produto foi encontrado pelo custo médio de R$ 14,00, enquanto em setembro do ano passado, o valor médio era de R$ 12,00, conforme pesquisa do Diário do Nordeste

Na Grande Fortaleza, a inflação do café subiu para 53,14% nos últimos 12 meses, até janeiro. Somente no último mês, o aumento foi de 9,86%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

O economista Alex Araújo explicou que a alta do custo desse produto, observada nos últimos dois anos, deve-se à quebra da safra devido ao clima, conjuntamente com o aumento da demanda global. A crise climática afetou as principais áreas produtoras, como o Brasil, Vietnã e Colômbia.

“Diversos países que não tinham uma cultura de consumo de café passaram a consumir, ainda que de forma modesta se comparado, por exemplo, com o consumo per capita brasileiro, o suficiente, contudo, para aumentar a procura pela bebida”, apontou. 

Um deles é a China, onde o consumo saltou de 300 mil sacas de 60 kg por ano para 6 milhões, conforme dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) referentes à comparação entre as safras 2019/2020 e 2024/2025.

Para o economista, a perspectiva de curto prazo é de preços ainda pressionados.

“Alguns especialistas sugerem um potencial de alta da ordem de 20% somente no primeiro semestre deste ano. Infelizmente os preços só devem se acomodar na safra 2025/26 que começa a ser colhida no segundo semestre”, analisou. 
 

5 dicas para economizar na hora de comprar o cafezinho

  1. Pesquise antes de comprar: utilize aplicativos de supermercados para facilitar sua pesquisa;
  2. Atacarejos: considere esse tipo de estabelecimento, que geralmente oferece itens da cesta básica a preços mais baixos; 
  3. Verifique cupons de desconto: consulte sites e aplicativos que oferecem cupons, incluindo opções de frete; algumas redes supermercadistas também têm clubes de desconto;
  4. Compare preços por quilo: uma promoção de café a R$ 4 pode parecer atraente, mas é importante calcular se a quantidade compensa e não sai mais cara;
  5. Avalie a troca por marcas mais econômicas, mantendo a qualidade. 

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