‘Um colega cavou e encontrou a mãe’: cearense relata drama e mobiliza ajuda em Petrópolis

Chuvas intensas transformam cidade histórica em cenário de perdas imensuráveis com mobilização voluntária para amparo às famílias socorridas; saiba como contribuir

Escrito por Lucas Falconery e Isabella Campos , ceara@svm.com.br
Petrópolis
Legenda: Vivian mora há seis anos e nunca viu as cenas que presencia hoje
Foto: Acervo pessoal

Moradores caminham confusos por ruas cobertas de lama. Comerciantes descartam alimentos estragados enquanto pessoas procuram o que dá para aliviar a fome. Na oscilação da chuva forte, quem vive em Petrópolis, no Rio de Janeiro, tenta sobreviver aos estragos observados desde terça-feira (15). Força-tarefa comunitária busca ajuda.

“Eu tenho amigos que perderam tudo, tiveram pessoas que perderam a família toda. Vi a situação de um colega que cavou e encontrou a mãe dele. Muito chocante”, resume a cearense Vivian Bandeira, de 37 anos. São mais de 100 vidas levadas pela tragédia na cidade.

No Bairro Roseiral, onde mora com o esposo e outras quatro pessoas da família, a chuva não chegou com a mesma intensidade. Logo que entenderam a situação, os parentes começaram a percorrer as ruas em busca de ajudar os moradores.

“É uma coisa chocante, mas eu tenho que falar, porque infelizmente é o que acontece: quando a água está baixando, os corpos vão aparecendo, as mercadorias e comidas boiando em todos os lugares. Filme de terror”, define.

Foram necessárias apenas três ou quatro horas de chuva na terça para ver a cidade “extremamente alagada”, como conta. “Quando a água foi baixando as pessoas foram entendendo a proporção. A cidade é margeada por um rio que, quando tem chuvas muito fortes, em pouco tempo transborda”.

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Entre os locais em que a família conseguiu ir, foram mais afetados os bairros Caxambu, Centro, Alto da Serra e Morro da Oficina. “Tem lugares que até agora, no segundo dia, não conseguiram chegar. Essas pessoas estão praticamente sozinhas, porque ninguém consegue entrar ou sair”, frisa.

Vivian percebeu uma dificuldade inicial inclusive de agentes públicos para conseguir acessar trechos da cidade. “Não tem nada para comer, não tem roupa limpa, não tem água e nem luz. Agora que estão tentando abrir o acesso para levar as coisas”, acrescenta sobre a situação de locais mais afastados.

Dos seis anos em que a cearense vive na cidade, em nenhum momento houve contexto parecido com o que presencia hoje. “Meu sogro tem mais de 60 anos e disse que nunca viu isso. Em 2011, teve aquela tragédia do Vale do Cuiabá, que é aqui próximo, mas mesmo assim a proporção de estragos foi muito maior”, pondera.

Exatamente por observar o impacto da destruição e da fragilidade humana, o idoso deixou de lado as questões pessoais para colaborar com o coletivo. “Ele acabou de descobrir que está com câncer e está na rua ajudando, porque não ia conseguir ficar em casa”, reflete.

"Fazer o que estiver ao nosso alcance"

Essa força para sair pela cidade para contribuir com moradores de Petrópolis move Vivian Bandeira que, no momento da entrevista ao Diário do Nordeste, estava em um supermercado comprando suprimentos para distribuir.

“Tem várias pessoas se mobilizando, praticamente a cidade toda, os motoboys estão buscando mantimentos para deixar nos lugares de mais difícil acesso e a gente está fazendo uma força-tarefa”, explica.

Suprimentos
Legenda: Os suprimentos são comprados com ajuda voluntária e distribuídos pela cidade
Foto: Acervo pessoal

Além das instituições que arrecadam donativos e dinheiro para doação, a cearense destinou uma conta bancária para receber ajuda dos conterrâneos. “Eu e minha família disponibilizamos uma conta para arrecadar dinheiro, principalmente, dos meus amigos de Fortaleza para que a gente possa fazer alguma coisa”, destaca.

A gente olha na televisão e fica muito sentido, mas quando a gente está aqui é que vê mesmo a real necessidade de ajuda dessas pessoas
Vivian Bandeira
Artesã

São comprados alimentos, produtos de limpeza e de higiene pessoal e até suprimentos hospitalares para cobrir os prejuízos vindos com a chuva. “No final do dia, eu pego todos os cupons fiscais do que a gente comprou e publico nos meus stories como uma prestação de contas”.

A família busca pontos onde há maior necessidade também de água e cobertores, por exemplo, em estratégia diária de ajudar quem mais precisa.

“Hoje a gente está agindo nos bairros Caxambu e Correias, que infelizmente também foi muito atingido e as pessoas não estão dando muita atenção, porque é no sentido contrário de mais bairros atingidos”, detalha.

Como ajudar

As contribuições em dinheiro podem ser feitas por meio do PIX (CPF): 102.374.167.94, com titularidade de Ector Cataldo Motta.

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