Vamos falar sobre acesso tecnológico para pessoas trans e travestis?
Oferecer formação sobre o uso de tecnologias pode empoderar pessoas trans e travestis, proporcionando habilidades que são cada vez mais necessárias no mercado de trabalho

Escrevo este texto em parceria com a minha irmã Dary Bezerra, que é presidenta do Grupo de Resistência Asa Branca e mestra em Antropologia no PPGA/UFC/UNILAB. Vamos falar um pouco sobre acesso tecnológico para pessoas trans e travestis.
É fato que as populações trans e travestis no Brasil, em geral, têm acesso dificultado a opções de geração de renda, empregabilidade e melhoria de sua qualidade de vida, situação econômica e social.
É importante destacar que tais vulnerabilidades não se referem apenas ao quadro da pobreza e extrema pobreza econômicas em que muitas estão expostas, mas, se entrelaçam em outras esferas estruturantes da sociedade que lhes negam educação de qualidade, cultura, moradia, alimentação, segurança pública, dentre outros marcadores que interferem diretamente na consolidação da cidadania plena e da garantia de direitos dessas populações.
No Ceará essa realidade se torna bastante acentuada, visto que, para além de tais vulnerabilidades as populações trans e travestis estão também inseridas num cenário de extrema violência, preconceito e discriminação, como já apontado em outras reflexões aqui na coluna, a exemplo dos dados de assassinatos que aponta o estado do Ceará como o terceiro no ranking de assassinatos no Brasil.
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Pensar alternativas para a melhoria de vida para tais populações é articular diversas estratégias e processos que venham transformar a dura realidade. Nesse sentido, vêm sendo pensadas pelo terceiro setor de acordo com os avanços tecnológicos mundiais a inserção da comunidade trans no mundo digital e na garantia de acesso às ferramentas disponíveis.
As tecnologias de acesso desempenham um papel fundamental na promoção da inclusão e da igualdade. Em um mundo cada vez mais digital, é essencial que essas tecnologias sejam projetadas e implementadas de forma a atender às necessidades específicas de populações específicas, garantindo que todas as pessoas tenham a oportunidade de participar plenamente da sociedade.
Além disso, iniciativas que promovem a educação digital são essenciais. Oferecer cursos e treinamentos sobre o uso de tecnologias pode empoderar pessoas trans e travestis, proporcionando-lhes habilidades que são cada vez mais necessárias no mercado de trabalho. Isso não apenas aumenta suas oportunidades de emprego, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Uma das áreas mais impactadas é a comunicação. Aplicativos de mensagens, redes sociais e plataformas de vídeo podem ser adaptados para oferecer oportunidades de acesso e inclusão.
Assim, o Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB) com patrocínio do Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO), lança o projeto TRAVES-TI: Tecnologias de Acesso para Travestis e Transexuais com o objetivo de realizar um Curso de Letramento Digital possibilitando uma melhoria da qualidade de vida de tais sujeitos, visto que, as políticas de empregabilidade para trans e travestis no Ceará ainda são bastante escassas, o que nos leva a acreditar que a sociedade em geral ainda precisa pensar e executar propostas que minimizem situações de vulnerabilidades em que estão inseridas populações historicamente minorizadas.
Em resumo, acreditamos que as tecnologias de acesso têm o potencial de transformar a vida de pessoas trans e travestis, promovendo inclusão, segurança e oportunidades. Ao focar na personalização, acessibilidade e educação, podemos construir um futuro mais equitativo.
O GRAB é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, reconhecida, de utilidade pública municipal que desenvolve diversas ações em favor da cidadania de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, nas áreas da Cultura, Saúde, Educação, Qualificação Profissional e Direitos Humanos.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.