UFC deve conceder título doutor honoris causa pela 1ª vez a uma personalidade morta; entenda

Homenagem póstuma pode ser feita para dar conhecimento sobre a história marcante de luta a favor da saúde pública em Fortaleza

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
UFC e Rodolfo Teófilo
Legenda: A homenagem deve relembrar a história de Rodolfo Teófilo e a importância da luta pela saúde pública
Foto: Reprodução/UFC/Secult

Pela primeira vez, a Universidade Federal do Ceará (UFC) deve conceder o título de Doutor Honoris Causa – uma honraria entregue para personalidades com contribuição social – de forma póstuma para Rodolfo Teófilo. Uma solenidade deve homenagear a história do farmacêutico radicado no Ceará que lutou pela saúde pública.

As informações foram repassadas pelo reitor da UFC, Custódio Almeida, ao Diário do Nordeste, durante o evento de expansão do novo hospital da instituição e da maternidade ampliada, nesta quinta-feira (24).

O título é atribuído para personalidades de projeção nacional ou internacional, que não sejam servidoras da UFC, com contribuição notável para o progresso das Ciências, das Letras, das Artes ou da Cultura.

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Os homenageados têm em comum contribuições excepcionais à humanidade e, no caso da Universidade Federal, são indicadas e justificadas pelo reitor ao Conselho Universitário.

“Uma das ideias foi homenagear alguém muito relevante para a saúde do Ceará, que não ganhou a mesma notoriedade que o Oswaldo Cruz, por exemplo, um cearense e que fez um trabalho individual de militância por vacina e por saúde pública”, explica Custódio.

A homenagem é preparada no contexto de celebração dos 70 anos da UFC e será avaliada no dia 1º de novembro pelo conselho da Instituição. “Logo depois vamos marcar uma solenidade de entrega simbólica do título já que ele não está mais vivo para receber”, acrescenta o reitor.

Rodolfo Teófilo, inclusive, é homenageado no nome do bairro onde está o Campus Porangabussu que concentra os cursos da área da Saúde da UFC, além do Hospital Universitário.

O reitor adiantou que é feita uma pesquisa para identificar se há alguma pessoa da família do homenageado, por exemplo, que possa participar da solenidade.

“Recentemente, nós vimos que a USP (Universidade de São Paulo) também fez uma homenagem para uma pessoa que já faleceu. Seguindo esse caminho, e como estamos celebrando os 70 anos da Universidade, esse título fará parte desse momento”, aponta.

Em 2021, a USP concedeu a outorga do título de Doutor Honoris Causa póstumo a Luiz Gonzaga Pinto da Gama que participou dos movimentos contra a escravidão, sendo reconhecido como um dos principais líderes abolicionistas do Brasil.

Quem foi Rodolfo Teófilo

Para Custódio Almeida, Rodolfo Teófilo representa “o combate ao negacionismo”. Se nos dias atuais são feitos esforços para combater desinformação e mentiras relacionadas às campanhas de vacinação, Teófilo já exercia esse trabalho na segunda metade do século XIX.

Rodolfo Teófilo nasceu na Bahia em 1863, mas veio para o Ceará com um mês e meio de vida, onde se tornou cientista, industrial, farmacêutico e divulgador científico. É reconhecido por enfrentar a epidemia de varíola que também acometeu Fortaleza no período.

Os detalhes da biografia do farmacêutico foram escritos no livro “O poder e a peste – A vida de Rodolfo Teófilo”, publicado em 1999, pelo jornalista cearense Lira Neto. Logo no início da obra, há a seguinte narração:

“Anos a fio, correu os quatro cantos de Fortaleza, batendo de porta em porta, aplicando as doses de vacina que fabricava em casa. Com dinheiro do próprio bolso, sem nenhum apoio das autoridades, montava a cavalo e, todas as manhãs, saía com novo carregamento de vacinas em direção às ‘areias’, como eram conhecidos os bairros pobres da cidade”. 

Filho e neto de médicos, Teófilo ficou órfão cedo e teve de trabalhar como caixeiro para o próprio sustento. Além disso, também atuou ativamente na campanha abolicionista e chegou a morar em Pacatuba onde abriu uma farmácia.

Algo curioso na história de vida, é o fato dele ser apontado como o criador da cajuína, conforme o artigo intitulado “Rodolpho Théophilo (O polivalente polêmico)”, de Ednilo Gomes de Soárez – membro do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará.

O autor menciona que, em 1908, Rodolfo ganhou a Medalha de Ouro numa exposição nacional do Rio de Janeiro pela excelente qualidade da iguaria líquida, por ele criada e produzida.

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