Novo geoparque do Ceará deve ampliar proteção em áreas como a Pedra do ET e da Galinha Choca
A extensão abrange dois municípios cearenses: Quixadá e Quixeramobim; projeto busca reconhecimento pela Unesco como território de relevância mundial
O Ceará se prepara para ter um novo geoparque reconhecido. O equipamento, ainda em desenvolvimento, abrangerá 5.345 km² de área entre os municípios de Quixeramobim e Quixadá, onde há pinturas rupestres, “ilhas de pedras” e sítios arqueológicos de relevância mundial.
O prazo para o projeto ser finalizado, contudo, pode levar até 10 anos.
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O local possui 14 áreas de características geológicas singulares e de alto valor científico (chamadas de geossítios) e seis de importância regional educativa e turística (os sítios de geodiversidade), totalizando 20 pontos ao longo do território.
Alguns dos geossítios abrigados, na área, já são conhecidos pela população, como a “Pedra da Galinha Choca” e a "Pedra do ET", em Quixadá. O que mudará, portanto, será o status de geoparque, ampliando ações de conservação do patrimônio geológico e de desenvolvimento econômico sustentável na região.
A criação do grupo de trabalho para o “Geoparque Sertão Monumental" está prevista em portaria de nº 190/2022, publicada no Diário Oficial do Estado (DOE), no último dia 14, e assinada pelo secretário de Meio Ambiente do Ceará (Sema), Artur Bruno.
O texto prevê a oficialização desse grupo que já atua na área, incluindo docentes de instituições públicas federais e estaduais, os municípios e o Ministério Público do Estado. Com a publicação, agora esse escopo será ampliado para incluir entidades empresariais e demais setores da região.
Será definida, então, uma pessoa jurídica responsável pela gestão e para encaminhar a proposta para obter a concessão da chancela mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Geralmente, essa representação é feita por meio de um consórcio intermunicipal, mas esse detalhe ainda será definido.
Integrante do grupo, o doutorando em Geografia e professor Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Felipe Monteiro, acredita que a expertise adquirida com esse tipo de processo deve reduzir o prazo médio (de 10 anos), mas pondera, entretanto, ainda não ser possível estimar o período para a conclusão.
"O nosso carro chefe é nossa paisagem granítica semiárida, com destaque para o maior campo de inselbergue (ilhas de pedras) do mundo, conforme o nosso estudo. Não necessariamente são as maiores, mas é a maior concentração de paisagens graníticas", enfatiza.
Quais as vantagens da criação do geoparque?
Monteiro explica que a chancela consolida o “território como um livro aberto para entendermos a história da terra e, assim, protegê-la melhor”. '"Configura-se como um laboratório de desenvolvimento territorial, que promove o geopatrimônio, a geoconservação e o geoturismo local", destaca.
Ele pondera, todavia, não haver necessidade de desapropriação de terrenos e não se tratar de uma unidade de conservação.
“Segundo a Unesco, os geoparques áreas geográficas unificadas, onde sítios e paisagens de relevância geológica internacional são administrados com base em um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável”, define.
Além da conservação do patrimônio geológico, o reconhecimento viabiliza a promoção de pesquisa científica e novas oportunidades de negócios sustentáveis, gerando emprego e renda.
Atualmente, no Brasil, há apenas três geoparques reconhecidos mundialmente pela Unesco, sendo um deles já no Ceará, o Araripe. Os demais são o do Seridó (Rio Grande do Norte) e o Caminhos dos Cânions do Sul (Rio Grande do Sul).
Conheça o tripé que caracteriza um geoparque, conforme o estudo do professor Felipe Monteiro:
- Geoconservação: busca proteger o patrimônio geológico para as futuras gerações;
- Geoeducação: promove o estudo das geociências junto às escolas, universidade e centro de visitação, contemplando o público em geral;
- Geoturismo: estimula a criação de atividades econômicas tendo como base a geodiversidade e o patrimônio geológico do território, em cooperação com a comunidade local.
O que será encontrado no novo geoparque do Ceará?
Ao todo, o novo geoparque do Ceará abrangerá área com 16 geossítios, incluindo 11 "inselbergues" ou "monólitos", como são chamadas as grandes ilhas de pedras originadas no interior da terra há cerca de 585 milhões de anos.
Além disso, há escrituras rupestres milenares. O professor Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Felipe Monteiro, destaca, porém, que a relevância considerada é em relação à geologia e não pelas inscrições, que valorizam as rochas, mas não são foco.
Também há seis sítios de geodiversidades, áreas de importância educacional, cultural e turística.
Inselbergues em Quixadá:
- Pedra do Cruzeiro (relevância científica internacional);
- Pedra da Galinha (relevância científica internacional);
- Lagoa dos Monólitos (relevância científica nacional);
- Gruta São Francisco (relevância científica nacional);
- Gruta do Magé (relevância científica nacional);
- Pedra do ET (relevância científica regional/local).
Inselbergues em Quixeramobim:
- Lagoa do Fofô (relevância científica nacional);
- Inselbergues da Fazenda Salva Vidas (relevância científica regional/local);
- Pedra da Baleia (relevância científica regional/local);
Geologia e gravuras rupestres (todas em Quixeramobim):
- Poço da Serra;
- Letreiro Canhotinho;
- Serrote da Fortuna;
- Pedra Corisco;
- Pedra Letreiro;
- Serrote de Santa Maria.
Domínio Serrano (Quixadá)
- Serra do Urucum (relevância científica nacional);
- Pedra dos Ventos (relevância científica nacional).
Geologia e gemologia (Quixeramobim):
- Campo Pegmatítico de Berilândia.
Mirante (Quixadá):
- Mirante da Serra do Estevão.
Outros:
- Gnaisse Milonítico de Quixadá.