IJF tem cerca de 350 técnicos de enfermagem a menos do que o ideal para funcionar, diz superintendente
Além da demanda ativa, hospital tem leitos fechados que exigem aumento de pessoal para reabrir

Para que o maior hospital de urgência e emergência de Fortaleza funcione, é preciso gente. Mas entre as deficiências enfrentadas pelo Instituto Dr. José Frota (IJF) está justamente essa: considerando só técnicos de enfermagem, a unidade tem cerca de 350 profissionais a menos que o necessário.
O déficit de mão de obra dessa categoria é “o maior problema” do equipamento de saúde, como reconheceu a superintendente do instituto, a médica Riane Azevedo, em entrevista ao Diário do Nordeste, terça-feira (9).
A gestora classificou a defasagem como “muito grande”, já que centenas de profissionais a mais contribuiriam não apenas para desafogar a assistência ativa, como também possibilitariam a reabertura de serviços fechados.
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“Neste número, estou considerando que temos 66 leitos fechados. Se eu for abri-los, com mais a necessidade que já temos, é mais ou menos essa quantidade aí, 350 pessoas. Pra abrir os setores, mais salas de cirurgias, e ajudar”, estima Riane.
Em março deste ano, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, adiantou ao Diário do Nordeste que a União faria aportes ao IJF para possibilitar a reabertura dos leitos sem funcionar, que incluem enfermarias e Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
Desafogar a assistência
A abertura dos 30 leitos de UTI é urgente no contexto de constante lotação de casos de emergência enfrentado pelo IJF, com setores operando “sempre no limite”, como analisa a gestora.
“Na nossa emergência, temos a sala laranja, como se fosse uma UTI dentro da emergência. Ficam lá pacientes de risco, que precisam de monitorização. E ela está o tempo inteiro lotada, no limite, com 15, 16 pacientes, a maioria entubado, com respirador”, relata.
Reforçar a estrutura física e de pessoal é indispensável para que o hospital atinja ainda outra meta: contribuir para a fila estadual de exames de imagem andar.
pessoas aguardam para realizar um exame de ressonância de lombar no Ceará, segundo Riane Azevedo. Outras 12 mil esperam por tomografia de crânio.
“Tínhamos uma máquina de ressonância que fazia 350 exames por mês, praticamente os do hospital e ambulatório. Passamos para 850 exames. Precisamos avançar, temos o compromisso com o Governo Federal de ajudar a diminuir essas filas”, pontua.
Para integrar a rede de hospitais que devem alcançar as metas, previstas pelo Ministério da Saúde no Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), o IJF ampliou os dias e horários de realização de exames e cirurgias.
“Funcionamos até 23h todo dia. Não funcionava sábado e domingo, agora funciona. Além disso, fazíamos uma média de 800 a 900 cirurgias, e nosso compromisso é fazer 1.500. Já estamos com 40 a 50 por dia”, contabiliza.
‘Solução rápida’

Conforme a superintendente, a ampliação do quadro de técnicos de enfermagem é um dos pleitos dela junto à Prefeitura de Fortaleza. Ela garante que “uma solução rápida para essa questão” deve ser anunciada pelo prefeito Evandro Leitão “nos próximos dias”.
Dos três concursos para o IJF que venceram em dezembro de 2024 – e tiveram validade prorrogada judicialmente –, um abriu 87 vagas para enfermeiros, dos quais 38 tomaram posse do cargo em março deste ano. “Já dá uma ajuda boa, mas nosso problema que impacta em serviço são os técnicos”, completa Riane.
“Os técnicos foram chamados todos, inclusive os reservas. E não temos cooperativa de enfermagem no hospital, todo mundo é concursado”, pontua.
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Questionada sobre a permanência da modalidade de contratação de profissionais da saúde por cooperativas, criticada por diversas categorias, a superintendente do IJF defendeu que é uma ferramenta de gestão importante.
“Há uma deficiência em algumas equipes de médicos por dia. Todo dia, temos 4 cirurgiões, 4 traumatologistas. Aí uma pessoa vai tirar férias ou adoece, contatamos a cooperativa e colocamos um substituto. Temos nos apoiado nelas. Mas é uma quantidade pequena, 10% a 20%, não substitui o servidor”, destaca.
Para Riane, uma “inversão de valores” não está em cogitação. “A cultura do hospital ficaria rotativa demais. As cooperativas são importantes pra reposição temporária, é mais rápido buscar os profissionais disponíveis. Mas deve ter prioridade pro concurso”, finaliza.
Crise em 2024

No cenário de caos vivido na unidade de saúde nos meses finais de 2024, uma das reclamações prevalentes vinha dos profissionais, que denunciaram atrasos salariais e adoecimento físico e mental pela sobrecarga.
À época, uma servidora ouvida pelo Diário do Nordeste apontou que a rotina hospitalar é prejudicada pela quantidade insuficiente de profissionais. O departamento de enfermagem do IJF estimou que o número ideal de trabalhadores é de 782 enfermeiros e 1.698 técnicos.
Na escala normal, contudo, atuavam 493 enfermeiros e 1.112 técnicos, quantidades respectivamente 37% e 7% menores do que as ideais. “Somos submetidos a cargas horárias excessivas, baixos salários e sobrecarga de serviço devido à escassez de recursos humanos”, reforçou a profissional.
Ainda em novembro passado, o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Ceará (Sindsaúde/CE), que representa os profissionais de níveis técnico e médio, confirmou que as maiores queixas envolvem o subdimensionamento das equipes.