Casos de leptospirose podem ser agravados e levarem a internações; veja sintomas e como prevenir
Doença bacteriana transmitida pela urina de roedores pode assumir formas mais graves e letais

O Ceará já registra, neste ano, 16 casos confirmados de leptospirose, a maioria deles em Fortaleza. Transmitida pela urina de roedores como ratos, ratazanas e camundongos, a doença bacteriana pode assumir formas graves e levar pacientes à morte. Além disso, 5 internações foram registrados no Estado.
De acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), 10 dos 16 casos de 2025 foram identificados na capital. Os demais ocorreram em Caucaia (2), Boa Viagem, Limoeiro do Norte, Pereiro e Massapê (um caso cada). Os números estão atualizados até 5 de abril.
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Além disso, pelo menos cinco pessoas foram hospitalizadas entre janeiro e fevereiro deste ano devido ao agravamento da doença, conforme o Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS), do Ministério da Saúde.
Dos pacientes, dois têm entre 20 e 29 anos, um tem de 40 a 49 anos, o quarto tem entre 50 e 59 anos, e o último é idoso. Não há registro de óbitos. As internações foram registradas em Fortaleza (2), Juazeiro do Norte (1), Limoeiro do Norte (1) e Sobral (1).
Como a leptospirose é transmitida
A transmissão ocorre, principalmente, pelo contato direto com água, lama ou solo contaminados pela urina de animais infectados, especialmente ratos, conforme explica Álvaro Madeira Neto, médico sanitarista e gestor em saúde.
Assim, caminhar descalço em áreas alagadas ou contaminadas é um dos fatores que favorecem a infecção. “A bactéria penetra no organismo humano por meio de pequenas lesões na pele ou por mucosas expostas, como olhos e boca”, cita.
Em contextos de enchentes e inundações, observa, “a disseminação pode se tornar endêmica, revelando a íntima ligação entre saúde pública e condições materiais de existência”.
“Questão de justiça social”
As condições que favorecem a proliferação da bactéria da leptospirose assolam, principalmente, as periferias, como observa Álvaro Madeira Neto.
“A leptospirose atinge de forma desproporcional as populações empobrecidas, residentes em áreas de risco, como favelas e zonas ribeirinhas, onde a precarização urbana é evidente. Trabalhadores informais, agentes de limpeza, operários da construção civil e aqueles que vivem em situação de rua estão entre os mais vulneráveis”, lista.
A falta de saneamento básico – com “precariedade no manejo dos resíduos sólidos, ausência de drenagem adequada de águas pluviais e esgotamento sanitário incompleto” –, associada ao período chuvoso, cria “ambientes ideais” para a proliferação dos roedores, principais vetores da bactéria Leptospira interrogans.
“Os riscos se intensificam. A água da chuva, ao se misturar com esgoto e lixo acumulado, transforma-se em veículo para a disseminação da bactéria. Enchentes e alagamentos expõem ainda mais comunidades periféricas. Trata-se, portanto, também de uma questão de justiça social e de defesa da vida”, pondera Álvaro.
Como prevenir a leptospirose
Além da medida central, que é não entrar em contato com água contaminada, a prevenção da leptospirose “exige uma abordagem intersetorial, reforçando o saneamento básico, o controle de roedores e a educação popular em saúde”, como destaca o médico.
Em áreas de risco, é indispensável o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), além de “campanhas educativas contínuas”, como acrescenta Álvaro Madeira.
O Ministério da Saúde também lista:
- Cuidados com a água para consumo, utilizando água potável, filtrada, fervida ou clorada;
- Em caso de enchente, retirar a lama com a proteção de luvas e botas de borracha, e desinfetar o local;
- Fazer o controle dos roedores, com acondicionamento e destino adequado do lixo, armazenamento apropriado de alimentos, desinfecção e vedação de caixas d’água e desratização.
Quais os sintomas da leptospirose
Nos quadros leves, aponta o médico Álvaro Madeira, os sintomas são similares aos de uma virose, com:
- Febre;
- Calafrios;
- Cefaleia;
- Dores musculares, principalmente nas panturrilhas;
- Náuseas e vômitos;
- Diarreia.
“Essa inespecificidade dificulta o diagnóstico precoce, podendo agravar. O agravamento se dá, sobretudo, quando ocorre a chamada ‘forma icterohemorrágica’ (Síndrome de Weil), caracterizada por insuficiência renal aguda, hemorragias e icterícia”, destaca o profissional de saúde.
Os sinais de alerta, então, incluem “febre alta persistente, vômitos, dor intensa nas panturrilhas e lombar, olhos amarelados, sangramentos e dificuldade respiratória”, sintomas diante dos quais “o paciente deve ser imediatamente encaminhado ao serviço de saúde”.
Como tratar leptospirose
O tratamento da leptospirose é feito com antibióticos específicos, que devem ser indicados e prescritos por médicos. Casos graves requerem internação hospitalar para suporte intensivo.
“Para os casos leves, o atendimento é ambulatorial, mas, nos casos graves, a hospitalização deve ser imediata, visando evitar complicações e diminuir a letalidade”, complementa o Ministério da Saúde.