Quem anda pelo Sertão costuma apreciar ao longe as formações rochosas. As mais conhecidas são os monólitos de Quixadá, imponentes e cinematográficos, como é o caso da pedra da galinha choca.
Mas há também as rochas menores espalhadas pela paisagem da caatinga. Algumas foram esculpidas pelo tempo de tal forma que se destacam nos lajeiros. E há aquelas que, de tão suspensas, parecem que vão cair a qualquer momento. É uma beleza cênica que desperta o afeto no povo.
Os namorados escalam para mirar o horizonte. As famílias se reúnem para tirar foto. Os estudantes visitam para aprender geografia e história. Era assim com a Pedra do Urubu, que fica no bairro Bela Vista, em Brejo Santo. Até que um dia chegaram os funcionários da concessionária de energia elétrica.
Eles instalaram um poste bem em frente às rochas - daqueles de alta tensão, metros de concreto que eliminaram a paisagem e despertaram a mobilização dos moradores. Imediatamente a população começou uma campanha pela retirada do intruso e a defesa do ponto turístico.
O esforço teve resultado na semana passada. Em poucos dias, o poste foi extirpado. A Pedra do Urubu era devolvida aos moradores e aos turistas de Brejo Santo.
E essa foi só uma das ameaças ao monumento. A maior delas talvez tenha sido a que aconteceu entre o final da década de 1990 e o começo dos anos 2000, quando queriam dinamitar as rochas. Mobilizados, os moradores conseguiram barrar o projeto.
A área agora tem até um museu comunitário. Virou um complexo de turismo. Está bem diferente daquele ponto que ganhou o nome por ter sido local de abate de animais, o que atraía as aves.
Por trás da preservação da Pedra do Urubu está o trabalho de pessoas como o funcionário público Tony Santos, que vai ao local quase todos os dias. E, reparando no formato das rochas, foi ele quem descobriu um rosto humano naquela que aponta para a igreja matriz. Eis a Face de Cristo!
"Até a lágrima de Jesus é possível enxergar", conta Tony, que fica feliz em ver visitantes todo dia aproveitando o espaço gratuito. A luta do povo da Pedra do Urubu lembra as palavras do poeta Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. Afinal, há largos e caudalosos rios pelo mundo, mas apenas um me é especial, porque é o que cruza a minha aldeia.