De bairro a escolas, espaços públicos com nome de Edson Queiroz eternizam memória do industrial entre gerações no Ceará

As ruas de uma cidade são testemunhas da história. Datam fatos, registram lutas, costuram a biografia de um povo com a linha do tempo. Eternizam pelo nome as existências de figuras que, geração a geração, serão conhecidas. Lembradas. E assim, seguirão vivas em uma sociedade, não importa o endereço. É em pelo menos 15 desses espaços – dentre praças, escolas e construções – que, hoje, Edson Queiroz completa 100 anos.
Nascido em Cascavel, no Ceará, em 1925, Edson rompeu as fronteiras do município e transformou, por meio do empreendedorismo, os rumos de outros diversos lugares do Estado. Prova disso está em tudo, inclusive em espaços públicos que levam o nome dele em ao menos cinco cidades cearenses.
Um bairro, seis ruas e avenidas, duas escolas, duas praças, uma unidade de saúde, um memorial, um açude e até uma reserva ambiental no Ceará o homenageiam. Vivo.



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Na capital, o bairro Edson Queiroz dá endereço a múltiplos empreendimentos, inclusive a uma das melhores instituições de ensino superior da América Latina – a Universidade de Fortaleza (Unifor), que compõe o legado do próprio industrial – e o Centro de Eventos do Ceará, que recebe gente do mundo inteiro.
Além disso, uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), uma avenida no bairro Guararapes, uma rua na Barra do Ceará e uma praça no Dionísio Torres carregam no nome uma lembrança da figura que contribuiu para a cidade crescer e se desenhar como hoje é.
Fora de Fortaleza, no berço de Edson, Cascavel, é uma estátua do filho ilustre que recebe quem chega na cidade – erguida na praça com o nome dele. Na mesma avenida, a Chanceler Edson Queiroz, está encravado o prédio mais importante para o funcionamento do município: a Prefeitura de Cascavel.




Próximo dali, uma Escola Estadual de Ensino Profissionalizante também serve de lembrete diário às novas gerações sobre quem foi o industrial nascido há 100 anos. É também em Cascavel, aliás, que está erguido o Memorial Edson Queiroz, equipamento cultural que ocupa o casarão restaurado da antiga Cadeia Pública e Casa da Câmara dos Vereadores.
Já em Maracanaú – cidade com forte marca industrial, moldada pela presença de empreendimentos do Grupo Edson Queiroz –, duas ruas e uma avenida marcam a presença do empresário; e uma segunda instituição de ensino pública, uma Escola Municipal de Ensino Fundamental, também leva emprestado o nome do cascavelense.



Da urbe à natureza, a relevância do centenário preenche espaços: em Guaiúba, também na Região Metropolitana de Fortaleza, está a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Chanceler Edson Queiroz, registrada oficialmente junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia federal de gestão ambiental.
Uma das obras mais importantes para a população do semiárido cearense também marca “a importância de Edson Queiroz para o desenvolvimento do Estado”: o Açude Edson Queiroz, inaugurado em 1984 no município de Santa Quitéria, a 250 km de Fortaleza.


De acordo com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), o reservatório é um dos maiores e mais estratégicos da região, com capacidade de acumular até 254 milhões de metros cúbicos de água. Ele, inclusive, é responsável pelo abastecimento da cidade onde fica e do distrito de Taperuaba, em Sobral.
Registros do Dnocs também lembram que a solenidade de inauguração da barragem teve presença de Paes Andrade, então presidente da República em exercício; de Tasso Jereissati, à época governador do Ceará; da primeira-dama e filha de Edson, Renata Jereissati; e de dona Yolanda Queiroz, viúva do empresário.
“Além da importância de Edson Queiroz para o desenvolvimento do Estado, a indicação do nome do empresário para batizar o reservatório se deu também pelo fato de a barragem ter sido construída nas terras da Fazenda Juá, de propriedade da família Queiroz”, sublinha o Dnocs.
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Eternizar a memória
O uso do nome de uma personalidade histórica relevante e “referência na sociedade” em ruas, avenidas, praças e outras construções é uma prática comum, denominada “topônimo”. É, ao mesmo tempo, uma homenagem e um reconhecimento, como aponta o geógrafo Alexandre Queiroz, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), membro da Rede Observatório das Metrópoles e colunista do Diário do Nordeste.
“O topônimo é uma homenagem que eterniza histórica e em termos de memória o nome daquela pessoa. É uma continuidade do legado de alguém que tenha relevo, importância. E isso entra no cotidiano das pessoas, a ponto de se tornar íntimo, se ligar ao sentimento de pertença por um lugar”, destaca.
No caso especial de Maracanaú – onde se localiza a sede da Esmaltec, uma das primeiras empresas do Grupo Edson Queiroz (GEQ) –, a ligação entre o nome do industrial, ruas e avenidas da cidade e o próprio povo que nasce e cresce lá se torna ainda mais umbilical, como observa Alexandre.
É uma questão até de superação do nome: o nome deixa de se revelar na pessoa em si e passa a se colar naquilo que ela representa.”
“Não é uma homenagem banal. É uma demonstração de conexão do nome com as atividades daquele lugar, pelo impacto na economia daquele município, pela maneira como o grupo interage com os colaboradores e como eles se sentem representados por essas condições”, sublinha o geógrafo, ao que acrescenta:
“Hoje o Edson Queiroz representa a universidade, o grupo, as empresas, as ruas e praças. É uma emancipação da lógica do nome, porque o nome nasce de uma pessoa, e fica nos seus feitos e naquilo que permanece mesmo depois de sua morte.”
Ditar os rumos da História

Constar no batismo de logradouros da cidade é só uma das dimensões atreladas aos topônimos: é ter provada a própria importância no passado, mas, sobretudo, no presente e no futuro, como reflete Paulo Airton Damasceno, professor, historiador e mestre em ensino de História.
“A reflexão sobre essas homenagens se dá na noção de posteridade, que práticas e valores culturais, políticos ou sociais a cidade reconhece e deseja enaltecer de forma a construir a identidade local. Os nomes nas vias e instituições ajudam a reforçar esses valores associados ao personagem que se deseja no futuro”, avalia o docente.
Para Paulo Airton, a presença do nome de Edson Queiroz nas vias públicas “demonstram geográfica e tematicamente a importância do industrial” para o Ceará. “A nomeação de logradouros e instituições não é apenas homenagem ao empresário, elementos do passado, mas influenciam como a história é contada e lembrada pela população no hoje.”

Ele foi mais do que um empresário: foi um agente de transformação que contribuiu diretamente para o progresso do Ceará."
Apesar disso, o professor ressalta a importância de se lembrar e se contar, geração a geração, quem foi e o que fez Edson Queiroz, a fim de “garantir a preservação da memória e a valorização das ações” do centenário – que foram centrais para os rumos da economia, da educação e da comunicação do Estado.
“Nossa colonização fez do Ceará uma região agrária e legada a abastecer a metrópole e outras áreas mais ricas, da colônia. Fomos pensados na lógica colonial como um anexo. Hoje, temos relevância tecnológica, educacional e econômica que nos põe em destaque no País, e isso se deve à ação de agentes empreendedores e transformadores, figuras como Edson Queiroz”, resgata o professor.
A formação de milhares de profissionais pela Unifor e a contribuição social prestada pelo Sistema Verdes Mares também são listados pelo docente como marcas indeléveis da presença, no presente, de Edson no cotidiano de Fortaleza e do Ceará.
“Esses e outros marcos de memória, sejam como pontos de referência geográficos ou de áreas de atuação, guardam como a identidade particular e social de Edson Queiroz está conectada à construção histórica de nossa terra”, finaliza.