Um dos maiores conglomerados empresariais do Brasil, o Grupo Edson Queiroz chega, em 2021, aos 70 anos de atuação, em um cenário de pleno dinamismo com a expansão dos negócios.
Fundado no Ceará sobre os alicerces de pioneirismo, versatilidade e ousadia, o Grupo sedimentou e aprimorou estes traços ao longo de sete décadas, e consolida o DNA de essencialidade com a forte presença nos lares do País em diversos segmentos.
O Grupo é liderado pelo presidente Carlos Rotella, que assumiu o cargo neste ano após transição da gestão, até então exclusivamente familiar.
Com vasta experiência no setor industrial, acumulando no currículo Votorantim Siderurgia, Armco e outras grandes empresas, o executivo lista como desafios à frente do Grupo Edson Queiroz a manutenção da liderança nos segmentos de atuação do conglomerado (energia, eletrodomésticos, alimentos e bebidas, comunicação, incorporação mobiliária e agronegócios), bem como a ampliação de mercado e a evolução dos processos internos.
Entrevistado desta semana no Diálogo Econômico, Rotella projeta, sobre o cenário pós-pandemia, que a retomada econômica do Brasil será importante, mas não homogênea; e traça um prognóstico otimista com o ciclo virtuoso no qual o País deve entrar, conforme antevê, amparado sobretudo na melhoria da confiança do consumidor e no excesso de capital no mercado.
Afirma ainda que o setor de gás GLP, um dos ramos de atuação do Grupo Edson Queiroz, passará nos próximos anos "por uma revisão e modernização no modelo de abastecimento", possibilitando a aquisição do insumo de outros fornecedores.
Nesta entrevista, o executivo também fala das lições deixadas pela pandemia no ambiente empresarial e destaca a relevância que o conceito ESG (Ambiental, Social e Governança, em português), a diversidade e a inclusão vêm ganhando no mundo corporativo, dentre outros temas.
Confira entrevista com Carlos Rotella na íntegra
O Grupo Edson Queiroz celebra, em 2021, 70 anos de atuação, em um novo momento da administração. Quais são os principais desafios da nova gestão?
Este é um momento marcante no que diz respeito ao posicionamento da família em relação à forma de conduzir o Grupo Edson Queiroz. Isso, tanto do ponto de vista de governança, quanto em relação às expectativas de resultados, pois este movimento faz com que cada integrante da nossa empresa assuma um papel de protagonismo nas transformações que estão ocorrendo.
Estamos vivendo um marco importante na história da empresa e, certamente, abrindo um novo capítulo de construção de um futuro ainda mais promissor.
Acredito que entre os desafios estão a manutenção da liderança em segmentos que atuamos, a ampliação de mercado e a evolução dos processos internos que nos garantirão segurança para dar passos maiores.
Como tem sido a missão de liderar um conglomerado que atua em segmentos produtivos tão diversos, cada um com suas particularidades mercadológicas?
Ao longo dos últimos seis meses, procurei conhecer cada negócio a fundo, entendendo suas especificidades, seus desafios e cada oportunidade que podemos aproveitar. Uma forte característica da empresa é o senso de pertencimento dos colaboradores, que fazem parte de um ecossistema que une todos os mais de 10.000 profissionais espalhados pelo Brasil.
Acho que essa diversificação é o grande atrativo para qualquer profissional. A oportunidade de estar todo o tempo em contato com diversos segmentos, com dinâmicas e realidades distintas, acaba ampliando a nossa visão estratégica. O que culmina em uma sinergia de gestão, reciclagem na forma de atuação, nos impondo uma velocidade na tomada de decisões, o que só é possível através de um sistema de gestão sólido.
O sr. tem ampla experiência em alta gestão de grandes empresas no setor industrial, mais recentemente no ramo da siderurgia, na Votorantim e na Armco. O que traz destas vivências para agregar ao Grupo Edson Queiroz?
Trago uma forma de gerir que leva em consideração conceitos muito sólidos de gestão. Acredito muito em uma liderança forte para guiar os passos do nosso time. Menos hierarquização e mais colaboração, em rotinas pautadas em processos muito bem definidos e que precisam ser seguidos à risca para o sucesso da operação.
Trouxe uma visão diferente para as áreas operacionais e comerciais, para que todos estejam em linha com a estratégia de portfólio do Grupo, a fim de atender aos resultados esperados.
São modelos de trabalho bastante atuais e que estão alinhados com o que grandes empresas têm feito. E, acima de tudo, acredito na força dos nossos 10 mil colaboradores. São eles que nos ajudam a construir marcas sólidas.
Com um investimento em desenvolvimento pessoal, como já temos feito por meio da recém-lançada Academia GEQ, queremos elevar o nível profissional da nossa gente, para que eles cresçam junto conosco.
Quais marcas o sr. pretende imprimir na sua gestão à frente do Grupo?
Meu compromisso é a partir de um mandato estratégico, conseguir imprimir uma perspectiva de longo prazo para o Grupo, bem como gerar resultados que possam dar vazão à nossa ambição.
Para esta missão, vou evidentemente imprimir meu estilo de liderança, pautado na dinâmica e velocidade da gestão, que visa potencializar ao máximo uma equipe de alta performance.
O Grupo Edson Queiroz vem efetuando aquisições relevantes no mercado nacional, como a da Nestlé Waters em 2018, no ramo de águas; e da Liquigás, no segmento de distribuição de gás, em 2020. Qual a importância destas movimentações? Esta estratégia de aquisições deve se manter?
O Grupo sempre teve uma característica marcante no sentido de ampliar seus horizontes e aproveitar as oportunidades de negócio, e esta característica será mantida. Tais aquisições são fundamentais para as aspirações e objetivos de crescimento sustentável do Grupo.
Essas duas aquisições, em específico, contribuem para que sejamos players ainda mais relevantes em market share, pois hoje somos líder nacional no segmento de água mineral e líder no Nordeste no segmento de gás de cozinha, com uma participação muito relevante em todo o país.
Isso acaba gerando escala, produtividade, empregos e reforçando o ciclo virtuoso de um Grupo que amplia seus resultados para continuar investindo no Brasil.
Com esta aquisição, a Nacional Gás deve expandir o market-share no Sul e Sudeste. Como está o cenário de oportunidades hoje para o mercado de gás e quais são os gargalos do setor?
O segmento de distribuição de GLP vive uma nova dinâmica depois da compra da Liquigás pelo consórcio que participamos com a Copagaz e Itaúsa. Com a aquisição, alinhamos nossa estratégia com o desejo antigo de aumentar a participação da Nacional Gás no Sul e Sudeste.
O gás é um setor resiliente e com a pandemia tornou-se um item de consumo ainda mais fundamental para as famílias brasileiras. As grandes oportunidades estarão nas iniciativas que integrem a cadeia produtiva ao consumidor final de forma ágil e com menores custos logísticos.
O setor passará nos próximos anos por uma evolução no abastecimento do gás, uma vez que a Petrobras inicia o plano de desinvestimento em refinarias, nos possibilitando a aquisição do insumo de outras fornecedores.
Além disso, cabe a nós a constante necessidade de melhoria dos níveis de serviço ao cliente, aliado à inovação tecnológica de nossas revendas para, consequentemente, beneficiar o consumidor final.
Para 2021 e anos seguintes, as projeções são positivas para o setor, especialmente no segmento empresarial, com a retomada da economia e a possibilidade de novas aplicações do gás GLP.
Quais foram os reflexos da pandemia nos segmentos de atuação do Grupo Edson Queiroz e como a empresa se adaptou a este cenário anômalo?
Dentro dos nossos segmentos, mais do que nunca, ficou clara a essencialidade dos serviços que prestamos e dos produtos que produzimos. O gás de cozinha, a água mineral, a informação... Não podíamos parar totalmente e sabíamos que muitos contavam com o nosso trabalho. Então, apesar da surpresa inicial que a pandemia causou em nós, aos poucos fomos nos adaptando.
O Grupo reagiu de forma extremamente responsável. Colocou como prioridade a saúde das pessoas, adotando medidas rigorosas de segurança visando a integridade de todos os nossos colaboradores.
Com relação aos negócios, o Grupo mostrou-se muito ágil, tomando medidas de contenção de custos, adequando seus gastos e adaptando-se à nova realidade. No entanto, por sermos tão diversificados, os negócios reagiram de maneiras distintas. Mas, de um modo geral, estamos entregando resultados consistentes, conforme havíamos planejado.
O Grupo Edson Queiroz esteve e continua engajado no combate à pandemia. A Esmaltec, por exemplo, na produção do capacete Elmo, um dispositivo eficaz no tratamento contra a Covid; e a Nacional Gás, com a contribuição ao programa vale-gás a famílias vulneráveis no Ceará. Quais lições esta crise sanitária deixa para o mundo empresarial?
Nas nossas empresas, buscamos colaborar com soluções que pudessem somar neste momento tão delicado. Dentro da Esmaltec, além de confeccionarmos o capacete Elmo, um dispositivo que tem ajudado a salvar muitas vidas pelo Brasil, adaptamos uma zona fabril para a produção de “face-shield’s” para doação a profissionais da saúde.
Na Minalba Brasil, firmamos parceria com uma empresa de cosméticos para a produção de álcool em gel, que também foi entregue como doação para diversas entidades filantrópicas e secretarias de saúde.
Na Nacional Gás, estabelecemos parceria com os governos do Ceará e do Maranhão para fornecer o benefício do “Vale Gás” para mais de 365 mil famílias.
No rol de serviços prestados pelo Grupo Edson Queiroz, a informação com credibilidade desempenhou papel social fundamental por meio dos veículos de comunicação do Sistema Verdes Mares (SVM), que - pelo jornalismo profissional - informam, relatam, ouvem especialistas e ajudam a esclarecer a população. Campanhas educativas e solidárias ganharam espaço na televisão, rádio e internet. Nesse contexto, o SVM ampliou o tempo de produção de conteúdo para atender as necessidades de informação da sociedade em tempo de isolamento e restrições.
Então, desde o início da pandemia, nós nos propusemos a ter constantemente este olhar solidário e empático, pois é um dos principais valores da família Queiroz e que se reflete no Grupo através da nossa atuação junto ao Governo, às comunidades e aos nossos colaboradores e suas famílias.
Acredito que a principal lição que as empresas tiveram neste momento foi a de que é preciso se adaptar e se reinventar, unindo forças para um propósito maior. E, nesta perspectiva, a melhor forma é retornar com produtos e ações sociais que minimizem o sofrimento de pessoas com maior nível de vulnerabilidade.
Como o Sr. vislumbra o cenário pós-pandemia para a indústria brasileira?
Acredito que o Brasil terá uma retomada econômica importante. Mas, talvez, não da forma homogênea como gostaríamos. Uma rota de crescimento que tende a se estabilizar em um patamar bem mais elevado com o passar do tempo.
A combinação de um sentimento de alívio da população, melhoria da confiança do consumidor em função da manutenção e geração de novos empregos, além do excesso de capital no mercado trará um ciclo próspero para os próximos anos. Basta ver os sinais do mercado de capitais com inúmeros M&A, IPO’s etc.
Estou bastante otimista com o futuro, pois tudo leva a crer que entraremos num ciclo virtuoso.
A questão do conceito ESG tem recebido cada vez mais atenção do empresariado no Brasil. Quão importantes são estas diretrizes no atual cenário?
Estas diretrizes são importantíssimas para qualquer negócio que queira se perpetuar e ter solidez no mercado. A agenda ESG propõe incentivar empresas a fazerem investimentos levando em consideração aspectos ambientais, sociais e de governança.
É como se fosse uma nova forma de comunicar a sustentabilidade empresarial. Sem dúvidas, esta é uma preocupação do Grupo Edson Queiroz. As ações que já temos neste sentido serão cada vez mais aprimoradas para que alcancemos estas exigências que, para nós, fazem todo sentido.
O mundo corporativo vem também buscando fomentar a diversidade e a inclusão nas empresas. Como o Sr. analisa esta questão?
Este é um tema atual e central da nossa sociedade, e as empresas devem acompanhar os movimentos e demandas com olhar atento. Vivemos em um país plural e cheio de desigualdades. Penso que nossa razão social exige que façamos algo para contrabalancear estas questões, buscando uma equidade em todos os aspectos.
Um time diverso gera empresas melhores, mais criativas, mais inovadoras e dinâmicas. Queremos proporcionar um ambiente cada vez mais favorável para que todos sintam-se representados e inspirados a construir suas histórias junto com a gente.
Recentemente, várias empresas nativas do Ceará abriram capital em Bolsa de Valores. Está nos planos o IPO do Grupo Edson Queiroz ou de alguma empresa do conglomerado?
Não está nos planos no curto prazo, mas se em algum momento fizer sentido para a estratégia do Grupo Edson Queiroz, será avaliada a possibilidade.
O chanceler Edson Queiroz é reconhecido como um empreendedor visionário. Como manter ativo o ímpeto de empreendedorismo e inovação que remete ao fundador do Grupo 70 anos depois?
Acho que manter estas características significa motivar nossas pessoas a terem cada vez mais essa postura empreendedora, visionária, inovadora e de senso de dono.
O Sr. Edson tinha a impressionante capacidade de prever cenários e inovar no mercado com muita coragem. São as competências e vivências da nossa gente, com foco no desenvolvimento de nossos talentos, que nos ajudarão a continuar tendo estas marcas registradas de nosso fundador.
Adiciono a isso a nova geração de acionistas, que trazem esta carga no DNA, além de um modelo de governança muito bem estruturado.