Fortaleza teve média de 3 atropelamentos por dia em 2023; veja bairros com mais acidentes

Apesar do cenário, mortes por causa desse tipo de sinistro tiveram redução de 13% e especialistas apontam a necessidade de planejar as cidades para pessoas

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Legenda: Fortaleza aplica uma série de medidas para reduzir atropelamentos como a redução da velocidade
Foto: Kid Júnior

Um rápido instante de descuido no trânsito pode levar a danos irreparáveis para a vida inteira, principalmente para os pedestres. Em Fortaleza, por exemplo, foram registrados 1.110 atropelamentos ao longo de 2023 – uma média de 3 casos por dia – e 60 mortes nas colisões de veículos contra quem caminhava.

A maioria dos sinistros com mortes de pedestres foram ocasionados por automóveis de 4 rodas (44,2%) e por motocicletas (34,6%). Além de carros e motos, acidentes com caminhões e ônibus também foram fatais na capital cearense.

Os dados são do Relatório Anual de Segurança Viária 2023, analisado pela Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) durante o III Seminário de Preservação de Vidas no Trânsito, na terça-feira (28).

Os atropelamento são parte dos 10.637 sinistros com vítimas que aconteceram em Fortaleza, de diferentes formas, no último ano. Por causa dos acidentes, ao todo, 157 pessoas perderam a vida no trânsito.

No recorte dos atropelamentos, o principal veículo envolvido nos sinistros foi a motocicleta, presente em 46,8% dos casos.

A maioria dos casos aconteceu no Centro de Fortaleza, onde 69 pessoas foram atingidas por veículos no último ano, e na Messejana com 51 casos. O Bom Jardim (29), o Jangurussu (27), a Parangaba (27) e a Aldeota (26) aparecem na sequência. Alguns bairros, como Sabiaguaba, Parreão e Aracapé não possuem registros de atropelamentos.

Os registros não possuem a informação sobre a localização para 10 atropelamentos e outros 5 foram notificados com apenas a via onde ocorreram, sem o detalhamento do bairro.

O levantamento aponta que os meses com mais ocorrências foram dezembro e junho. Ao analisar os dias da semana, os atropelamentos são mais comuns na segunda-feira, na sexta-feira e no sábado, nesta ordem. Os horários com mais casos são de 17h às 20h e de 6h às 10h.

Apesar do cenário, Fortaleza registra avanço em relação a segurança dos pedestres. Em 2012, houve o maior número de mortes por atropelamentos em Fortaleza dentro do período analisado, de 2002 até o momento, com 165 casos.

Dante Rosado, especialista em segurança no trânsito e gerente na Vital Strategies, analisa que há uma mudança de paradigmas em Fortaleza, mas “vai demandar muito tempo e vamos demorar décadas para desenhar as cidades para as pessoas”, como refletiu durante o Seminário.

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Isso considerando adequações e estratégias voltadas para pedestres, idosos, ciclistas, crianças e pessoas com deficiência. Para isso, garantir a fluidez das vias e aumentar a segurança são 2 dos principais desafios.

"A adesão ao uso da motocicleta tem contribuído para o aumento das mortes no nosso trânsito e temos esse fenômeno da migração dos usuários que estamos observando cada vez mais: a troca do transporte coletivo pela moto", frisou.

O Sistema de Informação de Sinistros de Trânsito (SIST) reúne as informações a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), a Polícia Forense (Pefoce), o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o Instituto Doutor José Frota (IJF) e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Perfil das vítimas

As vítimas de atropelamentos são principalmente homens, sejam feridos (67,9%) ou mortos (57,3%). As mulheres representam 20,2% das mortes e 29,7% das vítimas feridas nesse tipo de acidente.

Em relação à faixa etária, 47,2% das pessoas que morreram por causa de atropelamentos no último ano tinham mais de 60 anos (47,2%). Na sequência, os adultos de 30 a 59 anos (45,3%) aparecem entre as principais vítimas.

O ortopedista Eduardo Vasconcelos explica que geralmente os membros inferiores são os mais atingidos em casos de atropelamentos. “Mas os superiores também são acometidos com certa frequência e isso depende muito do tipo de veículo, se uma moto, um carro ou um caminhão”, detalha.

Legenda: Gravidade dos acidentes muda conforme o veículo
Foto: Helene Santos

Uma das principais recomendações para evitar acidentes graves é algo que deveria ser básico. Veículos atropelando um pedestre com maior velocidade tem um potencial energético muito maior e isso acaba fazendo uma lesão de partes moles maior e fraturas mais graves”, completa.

Saulo Oliveira, coordenador de Segurança Viária da AMC explica que o comitê interno de investigação de dados de mortalidade no trânsito aponta excesso de velocidade como um dos  principais fatores de risco associados aos atropelamentos.

"Eventualmente a imprudência ou atravessar em local inapropriado aparecem como fatores de risco. No entanto, em uma abordagem de sistema seguro, eventuais erros devem ser contemplados e ninguém deveria pagar com a vida ou lesão grave por um eventual erro ou falha de julgamento no momento de uma travessia. Nesse sentido, em última instância é a velocidade praticada pelo condutor que ditará se haverá ou não um atropelamento", frisa.

Historicamente nós como pedestres não assimilamos completamente os riscos associados a velocidade. Então isso também pode influenciar na tomada de decisão equivocada ao decidir realizar ou não uma travessia. Por isso mesmo, velocidades seguras são tão importantes para garantir a proteção de todos os usuários, principalmente os mais vulneráveis, que são os pedestres e ciclistas, e acomodar eventuais erros.
Saulo Oliveira
Coordenador de Segurança Viária da AMC

Medidas para redução dos atropelamentos

Investir na melhoria de infraestrutura associada a medidas moderadoras da velocidade são os pontos chaves para melhoria dos índices, como analisa Saulo. "Nesse sentido, a cidade tem adotado uma série de medidas para gestão de velocidade e melhoria das condições de circulação e travessias seguras de pedestres", aponta.

Dentre elas, o coordenador dá destaque à implantação sistemática de lombadas e travessias elevadas em projetos viários, de cruzamento em platôs, de áreas de trânsito calmo (zonas 30km/h) no entorno de áreas escolares e hospitalares, espalhadas em várias áreas da cidade.

"Implantação de novos semáforos exclusivos para pedestres com botoeiras sonoras, inclusão de estágios exclusivos para pedestres em semáforos existentes e extensões de calçadas feitas tanto de forma física, quanto utilizando-se do urbanismo tático, utilizando-se de elementos como tinta, balizadores e mobiliário urbano para devolver espaços, sub ou mal utilizados do leito viário, para circulação ou permanência de pessoas", acrescenta.

Intervenções em Fortaleza

O Relatório Anual de Segurança Viária 2023 indica uma estimativa de que os custos diretos e indiretos relacionados a sinistros de trânsito foram da ordem de R$ 665 milhões em Fortaleza.

A taxa de mortalidade na capital cearense foi de 6,4 mortes para cada 100 mil habitantes, o que representa uma diminuição de 58,4% quando comparado com o indicador de
2011, início da Primeira Década de Ações para Segurança Viária da ONU.

Tiago Braga, integrante do Observatório Nacional de Segurança Viária e professor na Universidade Federal do Paraná, ressalta a necessidade de formular intervenções para o trânsito considerando aspectos de áreas diferentes.

Legenda: Redução da velocidade diminui a chance de acidentes graves
Foto: Divulgação/Prefeitura

“A gente precisa resolver temas mais estratégicos e muitas vezes polêmicos, como a questão da fiscalização de velocidade, a inspeção veicular de segurança viária, auditorias de segurança", aponta.

Temos a necessidade de associar a segurança no trânsito com outras agendas, como a ambiental, a social. Quando a gente fala em transporte público, tarifa zero, estamos falando de segurança viária, meio ambiente e social. Juntas essas pautas ganham mais força
Tiago Braga
Integrante do Observatório Nacional de Segurança Viária

Fortaleza possui aproximadamente 4,4 mil km de extensão de malha viária e uma frota estimada em 1.254.656 veículos, em dezembro de 2023, conforme o Departamento de Trânsito do Estado do Ceará (Detran). Do total, 30% são motocicletas, ciclomotores e motonetas.

A Capital passou pela readequação de 181,6 km de vias com redução da velocidade máxima de 60 km/h para 50 km/h. No período, o Relatório registra uma queda de 30% nos atropelamentos.

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