Hospital César Cals transfere e encerra ao menos 3 serviços do prédio; até julho terá só maternidade

Atendimentos funcionarão no Hospital Universitário do Ceará (HUC); secretária da Saúde, Tânia Mara, declarou que mudanças serão finalizadas até julho, enquanto profissionais cobram informações

Escrito por
Theyse Viana theyse.viana@svm.com.br
(Atualizado às 11:18)
Fachada do Hospital César Cals, com pessoas saindo do local e faixa com frase
Legenda: Hospital César Cals é o mais antigo da rede pública estadual do Ceará e tem mais de 90 anos
Foto: Thiago Gadelha

O funcionamento do Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), mais antiga unidade pública estadual do Ceará, com mais de 90 anos e localizada no Centro de Fortaleza, deve passar por modificações definitivas em breve. Com a abertura do Hospital Universitário do Ceará (HUC), no bairro Itaperi, os serviços do HGCC devem ser totalmente transferidos para o novo equipamento – exceto a maternidade e a neonatologia. No entanto, profissionais cobram informações sobre as mudanças. 

Até agora, segundo informações do Conselho Estadual de Saúde (Cesau) e do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Ceará (Sindsaúde/CE), ouvidos pela reportagem, ao menos três serviços – cirurgia vascular, oncologia e hematologia – que antes existiam no prédio do Hospital César Cals já não estão mais lá e foram transferidos para o HUC. Segundo eles, porém, não houve informações detalhadas sobre esse processo. 

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A lacuna de informações precisas sobre o cronograma de transferência dos serviços do César Cals para o HUC perpassa várias esferas. Adriano Duarte, presidente do Conselho Estadual de Saúde (Cesau), diz que a entidade não foi comunicada em documento, de forma oficial, sobre o processo.

“No dia 5 de maio, tivemos uma reunião sobre outro hospital, e a secretária falou, a título de informação, que a maternidade e a UTI neonatal continuariam no César Cals. Diferente de meses antes, numa reunião em janeiro, quando foi dito que o hospital seria desativado de forma gradual”, relembra.

Adriano pontua, ainda, que o conselho “soube” que quatro serviços do HGCC seriam transferidos ao HUC: cirurgia vascular, oncologia, laboratórios e clínicas. Os dois primeiros, ele acrescenta, “já estão no HUC”.

O Diário do Nordeste questionou à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) quais áreas serão retiradas do hospital, a partir de quando, quantos profissionais serão remanejados e o que será feito no prédio após a desocupação.

Em uma primeira nota enviada à redação, a Sesa informou que “a transferência de serviços do HGCC para o HUC está sendo avaliada e planejada”, e garantiu que “não haverá descontinuidade de serviços, o HGCC permanecerá funcionando com atendimentos de obstetrícia e maternidade”. Prazos não foram informados.

Numa nota seguinte, a secretaria acrescentou que houve reunião na última segunda-feira (12) sobre o assunto, e que "o diálogo entre Sesa e HGCC é feito por meio da gestão e compartilhado com os demais trabalhadores e trabalhadoras da unidade".

Em declaração ao podcast As Cunhãs, no último dia 7 de maio, porém, a secretária da Saúde, Tânia Mara Coelho, confirmou que o serviço materno-infantil permanecerá em funcionamento na sede do HGCC e que a transferência das demais especialidades deve ser feita entre junho e julho.

Os trabalhadores da rede apontam que “as informações são muito inconsistentes”, e que ainda “não há informação de quem irá (para o HUC) e de quem ficará no César Cals”. “Isso não está posto ainda”, informou José Quintino Neto, presidente do Sindsaúde.

Servidora do HGCC há 17 anos e integrante da diretoria do Sindsaúde, a técnica de enfermagem Valdenia Gurgel, controlista da UTI neonatal, confirma que não houve uma reunião ou comunicação geral dos funcionários sobre os rumos do hospital. “Principalmente quem é do plantão noturno, só ouve ‘na boca pequena’ o que vem acontecendo quando sai do plantão”, ilustra.

Recepção do Hospital Universitário do Ceará (HUC), com portas de vidro
Legenda: Hospital Universitário do Ceará (HUC) foi inagurado neste ano e está recebendo parte dos serviços do Hospital César Cals
Foto: Ismael Soares

Valdenia acrescenta, contudo, que o serviço de hematologia do HGCC já foi transferido para o novo hospital universitário – mas sem os profissionais. “Não foram convidados para ir. Estão atuando em outros setores”, pontua, reforçando a insatisfação dos trabalhadores.

Os serviços de exames de imagem, clínicas e laboratórios também devem migrar para a unidade do Itaperi. Segundo Valdenia, a movimentação de pacientes no César Cals já reduziu – e, ao fim da transição, a quantidade de leitos para atendimentos também deve cair. “Emergência vai ficar, mas reduzida. UTI adulto ficará com 10 leitos”, diz. Hoje, o HGCC possui 12 leitos de UTI, segundo a Sesa.

“O que sabemos é que ficarão 10 leitos da UTI adulto, 10 a 15 da neonatal, junto com a sala de parto, a clínica médica e parte do laboratório. O hospital vai permanecer, mas como um suporte do HUC. Deram o prazo até o meio do ano”, completa Valdenia.

A profissional de enfermagem reconhece que o César Cals “não tem uma estrutura boa, precisa de uma boa reforma para dar continuidade”, e aponta que “falta material, manutenção e tem problema grande com respiradores, porque tudo que é novo foi pro HUC”.

A servidora destaca ainda que os pacientes do interior do Ceará antes encaminhados ao HGCC para procedimentos como cirurgia de vesícula, por exemplo, já têm sido direcionados para o HUC. Os servidores, contudo, têm resistido à ideia de mudar de unidade sob as condições colocadas pela Sesa.

“Não haverá fechamento”

Ao Diário do Nordeste, em março deste ano, secretária da saúde, Tânia Mara Coelho, negou que haverá um “fechamento” do HGCC ou descontinuidade de qualquer serviço na rede estadual, e garantiu que haverá comunicação sobre as mudanças, “para que a população não seja pega de surpresa”.

Tânia reforçou que o HGCC é o hospital mais antigo da rede Sesa, com quase 100 anos – e que, por isso, “já está com a estrutura bastante comprometida”, com alguns serviços “se tornando inviáveis por questão de segurança de trabalhadores e pacientes”.

Durante a mesma entrevista, a secretária mencionou que os servidores do HGCC seriam cedidos ao HUC, se assim desejassem. “Mas se eles não quiserem ir pra lá, vão pra outra unidade. Mas não estamos falando em fechamento do HGCC”, reiterou.

Além de atendimentos ligados à saúde gestacional, materna e de bebês, o hospital é habilitado, de acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), para ofertar os seguintes serviços:

  • Atenção à doença renal crônica;
  • Atenção às pessoas em situação de violência sexual;
  • Urologia;
  • Atenção psicossocial;
  • Cirurgia vascular;
  • Imunização;
  • Reabilitação;
  • Atenção à obesidade;
  • Atenção à saúde do trabalhador;
  • Atenção à saúde reprodutiva;
  • Atenção ao paciente com tuberculose;
  • Cardiologia;
  • Neurologia e neurocirurgia;
  • Transplante
  • Cirurgia torácica;
  • Cuidados intermediários;
  • Diagnóstico de laboratório clínico    ;
  • Diagnóstico por imagem;
  • Endocrinologia;
  • Endoscopia;    
  • Farmácia;
  • Fisioterapia;    
  • Oftalmologia;    
  • Oncologia;
  • Pneumologia;
  • Suporte nutricional;
  • Videolaparoscopia.

O Diário do Nordeste solicitou novo posicionamento da Sesa sobre, entre as outras lacunas, quais serviços já saíram do HGCC, quais de fato ficarão e quando isso deve ser feito. A Pasta enviou nova nota, mas não deu detalhes sobre os serviços que já foram transferidos. 

A Sesa relatou que "o Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC) permanecerá funcionando com atendimentos ambulatoriais e de emergência a gestantes de alto risco. Ou seja, os serviços de obstetrícia, neonatologia e maternidade continuam em pleno funcionamento no HGCC. Não haverá redução de atendimento".

A nota acrescentou que houve reunião no Hospital César Cals, com a presença do colegiado gestor da unidade e com a participação de gestores da Secretaria da Saúde e representante da Procuradoria Geral do Estado. "Nesta segunda-feira (12), foi realizada mais uma reunião do colegiado gestor do hospital sobre a transferências de serviços para o Hospital Universitário do Ceará (HUC). O diálogo entre Sesa e HGCC é feito por meio da gestão e compartilhado com os demais trabalhadores e trabalhadoras da unidade".

A reportagem também questionou o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) se tem acompanhado esse processo de mudanças no César Cals, se todos os serviços da unidade ainda estão disponíveis à população e se já foi dada alguma orientação à Sesa a este respeito. O órgão também não enviou resposta até esta publicação.

Confira notas da Sesa na íntegra:

Nota enviada em 9 de maio: 

A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informa que a transferência de serviços do Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC) para o Hospital Universitário do Ceará (HUC) está sendo avaliada e planejada. 

A pasta ressalta que não haverá descontinuidade de serviços e que o HGCC permanecerá funcionando com atendimentos de Obstetrícia e maternidade.

Nota enviada em 13 de maio:

A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informa que o Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC) permanecerá funcionando com atendimentos ambulatoriais e de emergência a gestantes de alto risco. Ou seja, os serviços de obstetrícia, neonatologia e maternidade continuam em pleno funcionamento no HGCC. Não haverá redução de atendimento.

A Sesa ratifica que houve reunião no Hospital César Cals, com a presença do colegiado gestor da unidade e com a participação de gestores da Secretaria da Saúde e representante da Procuradoria Geral do Estado. Nesta segunda-feira (12), foi realizada mais uma reunião do colegiado gestor do hospital sobre a transferências de serviços para o Hospital Universitário do Ceará (HUC). O diálogo entre Sesa e HGCC é feito por meio da gestão e compartilhado com os demais trabalhadores e trabalhadoras da unidade.

A Sesa ressalta que as medidas legais foram adotadas para amparar a cessão de servidores para o HUC, pertencente à estrutura da Rede Estadual de Saúde do Ceará. Os servidores cedidos não terão quaisquer prejuízos com relação ao vínculo de servidor público estadual, ou financeiro, como garante a Lei Complementar nº 347, datada de 5 de fevereiro de 2025. O Artigo 12 do referido texto autoriza a cessão dos trabalhadores e assegura a manutenção de todos os direitos como servidores públicos do Estado.

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