Fortaleza tem mais de 35 mil pacientes na fila para tomografia e 15 mil para ressonância, estima SMS
Nova secretária municipal de Saúde, Riane Azevedo, afirma que aumentar a quantidade mensal de exames é prioridade

São filas “invisíveis”, mas com o cansaço sentido no corpo e na mente de quem espera: Fortaleza tem, hoje, mais de 35 mil pessoas aguardando por um exame de tomografia, e outras cerca de 15 mil por uma ressonância magnética. A estimativa é da secretária municipal de Saúde, Riane Azevedo, que tem como tarefa “fazer a fila andar”.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, na manhã desta quarta-feira (21), a nova titular da SMS elencou o tripé de prioridades para a gestão. Além de resolver a falta de medicamentos e os problemas de infraestrutura das unidades municipais, Riane detalhou a urgência de reduzir as longas filas para realização de exames.
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Ainda tomando propriedade do cenário, menos de 48 horas após ser convidada à Pasta, a secretária se baseou, ao longo da entrevista, na bagagem que carrega dos anos de gestão do Instituto Dr. José Frota (IJF).
De lá, já enxergava e tentava dar vazão à demanda. O IJF é um dos equipamentos de saúde utilizados pela Prefeitura de Fortaleza para fazer as filas de exames andarem, gerenciadas pela Central de Regulação do Município.
“Ressonância tinha uma fila de 17 mil pessoas (no início do ano). Já baixamos em torno de 1.500 a 2 mil. Porque antes fazíamos cerca de 350 exames por mês, e aumentamos. No mês passado, foram marcados uns 830, e neste mês será também essa média”, contabiliza Riane.
Outro exame que acumula “de 35 mil a 40 mil pessoas” aguardando em Fortaleza é a tomografia. A demora para conseguir uma vaga foi agravada durante os 8 meses que o IJF passou com dois aparelhos quebrados. “Só tinha um funcionando”, aponta a ex-superintendente do hospital.
Segundo ela, os equipamentos estão em processo de conserto, e a expectativa é de que, quando ativos, realizem “uma média de 1.500 a 2 mil exames por mês”, para acelerar o atendimento e reduzir a demanda represada.
“As filas não vão acabar, porque se acabarem é sinal de que a saúde não está funcionando, os exames não estão sendo solicitados”, pondera a médica, reforçando que o IJF é apenas um dos hospitais da rede municipal que fazem a fila única andar em Fortaleza.
Agora eu vou olhar para essa fila de uma forma diferente, mais ampla. Fazer um planejamento pra deixá-la totalmente dominável, que o paciente tenha um prazo certo pra fazer o exame que precisa. Vou estudar os prazos ideais e estabelecer, pra trabalhar dentro da meta.
Além da espera por exames, pacientes que precisam de cirurgias eletivas também se acumulam na rede municipal de saúde, outro desafio a ser trabalhado pela nova gestora – que esbarra na falta de pessoal para multiplicar os procedimentos feitos.
“Temos material, equipamento, sala de cirurgia, cirurgião, falta mesmo rever a questão dos técnicos de enfermagem. É uma coisa já conversada, já batida, e o prefeito já disse que vai chamar o pessoal da Fagifor para fazer esse suporte e a equipe para realizar essas cirurgias”, frisa, sob o recorte da realidade do IJF.
“Aumentamos as cirurgias, tava fazendo uma média de 850 por mês, hoje fazemos quase 1.200. Foi um um aumento considerável, e a proposta é chegar a 1.500. Precisamos de mais pessoal mesmo”, reitera Riane.
Em março deste ano, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou o IJF como uma unidade estratégica para redução das filas do SUS. A União aportou, neste ano, R$ 180 milhões em verbas ao hospital – cobrando, em contrapartida, o aumento considerável no número de exames eletivos realizados.
“A orientação do presidente Lula foi: vamos fortalecer e transformar essa unidade aqui em Fortaleza num modelo para reduzir o tempo de espera para atendimento especializado e ser um modelo para a gente poder fazer no Brasil inteiro”, disse o ministro, na ocasião.
“Mostrar potencialidades”
Para conseguir atingir as metas e gerar mudanças na saúde de Fortaleza – área mais criticada pela população da cidade –, Riane reconhece que deverá pedir auxílio e recursos aos demais entes públicos, os Governos Estadual e Federal.
Questionada se pediria verbas para quitar os débitos da Prefeitura na saúde – que ao início de 2025 eram de R$ 500 milhões –, Riane foi categórica. “Nenhum gestor vai querer ver você falar de dívida, para eles não interessa. Se ele der dinheiro só pra pagar conta, o que é que o paciente de hoje, que está precisando hoje, vai ter?”, pondera.
A secretária projeta, contudo, que ao fazer o funcionamento dos serviços chegar ao estágio ideal, será possível sanar os problemas financeiros. “Minha ideia é trabalhar as potencialidades do que temos, mostrar (a Estado e União) e, com isso, pedir ajuda para o que vamos ofertar. Com isso, vamos tendo recursos, negociando com as empresas lá atrás, para que a gente possa ir pagando”, afirma.