A verdadeira Estrela de Belém e a data do nascimento de Jesus reveladas pela Astronomia

Análises astronômicas revelam qual seria a data mais provável do nascimento de Jesus de Nazaré.

Escrito por
Ednardo Rodrigues producaodiario@svm.com.br
Legenda: Segundo os relatos bíblicos, uma estrela anunciou a chegada do messias (ou Cristo, em grego).
Foto: Shutterstock/Verte.

Segundo as escrituras, uma estrela guiou sábios vindos do Oriente até o recém-nascido rei dos judeus. Neste texto especial de Natal, discutirei essa estrela e qual seria a data mais provável do nascimento de Jesus de Nazaré, segundo análises astronômicas.

As escrituras bíblicas afirmam que Jesus nasceu no tempo de Herodes (Mt 2,1), identificado nas aulas de História como Herodes, o Grande, que viveu de 73 a.C. a 4 a.C. Isso limita o nascimento do menino a esse intervalo.

Outra referência mais precisa aparece em Lucas, que traz as seguintes informações: “No 15º ano do império de Tibério César” (Lc 3,1), e que “Jesus começou seu ministério, tendo cerca de 30 anos” (Lc 3,23). O texto não afirma que ele tinha exatamente 30 anos, mas sim “cerca de 30”, o que permite considerar 29 ou 31 anos como possibilidades.

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Com base nessas informações, podemos estimar um intervalo mínimo e máximo para o nascimento de Jesus.

Tibério César assumiu oficialmente o Império Romano no ano 14 d.C., embora alguns estudiosos defendam que ele iniciou seu governo em 13 d.C., durante a co-regência com seu pai, Augusto. A co-regência ocorre quando dois soberanos governam simultaneamente.

Considerando o início oficial em 14 d.C., o 15º ano de Tibério seria 14 + 15 = 29 d.C. Se Jesus tinha, no mínimo, 29 anos ao iniciar seu ministério, isso nos leva a 29 - 29 = 0. Como não existe o ano zero, esse cálculo aponta para o ano 1 da Era Comum (EC), que por muito tempo foi considerado o ano de seu nascimento. Inclusive, estamos atualmente no ano de 2025 d.C. em relação a essa contagem.

No entanto, essa estimativa apresenta um problema: ela não coincide com a data da morte de Herodes, o Grande, que teria ocorrido em 4 a.C. Para que o relato de Mateus seja compatível com os registros históricos, é necessário admitir uma margem de incerteza.

Vamos agora considerar o ano mínimo para o nascimento de Jesus.

Se Tibério César iniciou seu governo em 13 d.C., durante a co-regência, então o 15º ano de seu reinado seria 13 + 15 = 28 d.C. Se Jesus tinha cerca de 30 anos — no máximo 31, talvez incompletos — ao iniciar seu ministério, o cálculo seria 28 - 31 = - 3. Como não existe ano zero, esse número deve ser reduzido em uma unidade, apontando para o ano -3 - 1 = 4 a.C.

Esse é justamente o ano da morte de Herodes, o Grande, o que está em conformidade com o relato de Mateus. Por isso, a maioria dos historiadores e teólogos considera o ano 4 a.C. como a data mais provável para o nascimento de Jesus.

A verdadeira estrela de Belém

A estrela mencionada nos relatos bíblicos sempre despertou o imaginário popular. Há quem diga que se tratava de um cometa, uma conjunção planetária (o encontro de dois planetas), um objeto voador não identificado — ou até mesmo que nunca tenha ocorrido. Entretanto, hoje, a explicação astronômica mais plausível é que se tratava, de fato, de uma estrela.

Analisando de um ponto de vista especializado em astronomia, o fenômeno descrito na Bíblia tem características de uma estrela supernova. Ela ocorre quando uma estrela supergigante, muitas vezes maior e mais pesada do que o Sol, explode no final de sua vida, e pode brilhar mais do que uma galáxia inteira. Por isso, elas são bem notáveis e duram poucos dias como a estrela de Belém. 

Imagem astronômica de uma estrela central brilhante envolta por uma nebulosa amarela e alaranjada, cercada por diversas estrelas menores azuladas no espaço profundo.
Legenda: Anel de poeira ao redor da Magnetar SGR 1900+14, o que possivelmente restou da explosão de uma hipernova no ano 4 a.C na constelação de Águia.
Foto: Spitzer Space Telescope/NASA/JPL-Caltech/S. Wachter

Os registros delas ao longo da história são raros. Uma estrela dessa família foi registrada pelos chineses em abril do ano 4 a.C. Eles apelidaram de “postar”. O astro apareceu na direção onde hoje se encontra a constelação moderna da Águia. Essa estrela é, na verdade, uma hiper nova, uma categoria 10 ordens de magnitude mais brilhante do que uma supernova.

Ela brilhou durante aproximadamente um mês inteiro por volta de abril, segundo os registros chineses da antiguidade. Se essa estrela marca o nascimento do menino, ele teria vindo ao mundo próximo ao equinócio de primavera, que também é próximo da festa judaica da páscoa.

Reconstruindo o cenário da estrela de Belém

A seguir apresento uma dedução de como esse fenômeno da estrela de Belém pode ter ocorrido seguindo essa análise astronômica. Teria sido assim:

Uma estrela muito maior que o Sol, possivelmente uma supergigante vermelha, colapsou há 17.000 anos. Sua luz viajou por 15.000 anos até chegar até nós e ser observada pelos astrônomos chineses no ano 4 a.C.

Outros astrônomos, talvez da Arábia, Pérsia e/ou Babilônia, também viram o astro como se fosse uma estrela nova extremamente brilhante. Muito provavelmente eram da Babilônia, onde havia liberdade de culto religioso e onde residiam muitos descendentes judeus devido ao exílio, que aguardavam a vinda do messias (ou Cristo, em grego). 

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Guiados por ela, viajaram no sentido em que os astros se movem no céu, de leste para oeste, devido à rotação da Terra. Ou seja, vieram do Oriente. Era comum os viajantes se orientarem pelas estrelas. Não à toa, o melhor termo para se referir aos homens desta história não é “magos”, mas sim “sábios”

Eles devem ter viajado por pouco mais de um mês, o tempo que durou o brilho registrado pelos chineses e o tempo possível de viagem entre a Babilônia e Belém.

A estrela parou de brilhar quando chegaram em Belém e desapareceu completamente após pouco mais de um mês de viagem, por volta de abril, durante a primavera. Uma época adequada para os pastores levarem suas ovelhas ao pasto. Eles encontraram o recém-nascido e o resto da narrativa você já conhece.

Cometa com núcleo brilhante e um longo rastro em tons de roxo e violeta atravessando o espaço sideral estrelado.
Legenda: Para alguns astrônomos, a estrela de Belém seria muito maior que o Sol, possivelmente uma supergigante vermelha.
Foto: Shutterstock.

Há teólogos que deduzem o nascimento tendo ocorrido entre setembro e outubro, baseado em sucessões de relatos (turno da família de Abias, nascimento de João Batista, nove meses de gestação), mas a análise por eventos astronômicos costuma ser mais confiável.

O interessante é que ainda hoje podemos ver o que restou daquela explosão na constelação da Águia. Chamamos de remanescente de supernova. Seu núcleo virou uma estrela de nêutrons, uma massa tão concentrada que os núcleos dos átomos se tocam não existindo espaços vazios.

A densidade é tão grande que uma colher de chá desse material pesaria mais de 100 vezes o Monte Everest. Apesar de ser chamada de estrela de nêutrons, essa massa também possui prótons. Toda essa carga em rotação produz um campo magnético tão forte que pode ser medido da Terra.

Por isso também é classificada como uma magnetar. Seu nome técnico foi catalogado como SGR 1900+14.

Para concluir, com base nas Escrituras bíblicas de Lucas, chega-se a um intervalo para o nascimento de Jesus de Nazaré entre 4 a.C. e 1 d.C. O ano 4 a.C. é consistente com o relato de Mateus, que situa o evento no final da vida de Herodes, o Grande.

Além disso, registros astronômicos feitos por chineses reforçam que havia o sinal de uma brilhante estrela hipernova nesse mesmo ano, em abril, durante a primavera — época ideal para o pastoreio de ovelhas, como descreve a narrativa bíblica.

Apesar de existirem teólogos que deduzem que o nascimento de Jesus tenha ocorrido entre setembro e outubro, as análises astronômicas costumam ser mais confiáveis. 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.