Cientistas captam sinais de rádio de cometa, e 'irmão' luminoso aparece no céu

Estudo dos objetos interestelares pode ajudar a definir sua composição e comportamento.

Escrito por
Ednardo Rodrigues ceara@svm.com.br
Legenda: Cometa C/2025 A6 (Lemmon), companheiro do cometa 3I/Atlas, registrado de Juazeiro do Norte, no Cariri cearense.
Foto: Jackson Torquato.

Astrônomos anunciaram a detecção de sinais de rádio provenientes do objeto interestelar 3I/Atlas, que segue sua trajetória pelo Sistema Solar. A descoberta reacendeu o interesse da comunidade científica, já que fenômenos desse tipo são raros e oferecem pistas sobre corpos vindos de fora da nossa vizinhança cósmica.  

Durante as análises do 3I/Atlas, os radiotelescópios identificaram emissões associadas à molécula de hidroxila (OH), típica em cometas quando a radiação solar interage com o gelo de água, quebrando-o em fragmentos menores.

Esse processo gera sinais de rádio característicos, que funcionam como uma assinatura química confirmando a presença de água congelada no núcleo. A detecção de OH reforça a classificação do 3I/Atlas como cometa, já que esse marcador é considerado um dos indícios mais confiáveis de atividade cometária em observações astronômicas.

O 3I/Atlas emitiu sinais de rádio captados por radiotelescópios em diferentes pontos do planeta.

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Cometa se torna mais visível

Outro acontecimento chamou atenção: a presença de um cometa companheiro, identificado como C/2025 A6 (Lemmon). Diferente do 3I/Atlas, que se destaca pela emissão incomum de rádio, o Lemmon vem se tornando cada vez mais visível nos céus, com brilho perceptível a olho nu em regiões de baixa poluição luminosa. 

O Lemmon surgiu como companheiro de observação, com cauda alongada e coloração esverdeada típica de emissões de carbono diatômico. A coincidência de ambos os corpos celestes no mesmo período cria uma rara oportunidade para estudos comparativos.  

A análise dos sinais pode ajudar a compreender a composição e o comportamento de objetos interestelares.  

O Lemmon segue uma órbita altamente excêntrica. Ele atingiu o periélio (ponto mais próximo do Sol) no dia 8 de novembro de 2025, quando passou a cerca de 75 milhões de quilômetros do astro.

Seu período orbital é longo, estimado entre 1.150 e 1.350 anos, o que significa que não retornará ao Sistema Solar interno antes de mais de um milênio. A inclinação de sua órbita, em torno de 143°, coloca o Lemmon em trajetória retrógrada, cruzando o plano das órbitas planetárias em sentido contrário ao movimento dos planetas.

Após a aproximação atual, o cometa seguirá para o afélio, afastando-se até mais de 200 UA, rumo às regiões externas do Sistema Solar.  

Com o avanço das observações, espera-se que novas informações surjam tanto sobre a natureza dos sinais de rádio do 3I/Atlas quanto sobre o brilho crescente do cometa Lemmon. Para quem gosta de acompanhar o céu, os próximos meses prometem ser de intensa atividade e descobertas.

Como ver os cometas? 

Os cometas 3I/ATLAS e C/2025 A6 (Lemmon) podem ser observados nas madrugadas em Fortaleza, entre 3h e 5h.

O 3I/ATLAS está na constelação de Virgem, com magnitude fraca (10–11), visível apenas com telescópios de 80–150 mm ou maiores.

Já o cometa Lemmon encontra-se na região de Ofiúco, ainda relativamente brilhante (magnitude 5,5–6,5), podendo ser observado com binóculos 10×50 ou 15×70, especialmente longe da poluição luminosa.

Também dá pra encontrar a olho nu, mas é só um pontinho. Então, pelo menos, um binóculo é necessário.

Ambos os cometas ficam melhor posicionados no céu a leste, antes do amanhecer. Para otimizar a observação, recomenda-se buscar locais mais escuros, permitir que os olhos se adaptem cerca de 20 minutos ao escuro e usar aplicativos como Stellarium ou TheSkyLive para localizar com precisão.

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