'Dança violenta': imagem histórica registra dois buracos negros orbitando um ao outro pela 1ª vez

Descobertas foram feitas usando uma rede de radiotelescópios que formou um "olho" do tamanho da Terra.

Escrito por
Ednardo Rodrigues producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 08:44)
Legenda: Simulação de dois buracos negros orbitando um ao outro.
Foto: Divulgação/Nasa.

O universo não é um lugar sereno e silencioso. É um palco de potência cósmica onde os atores principais são entidades tão densas que nem a luz consegue escapar de seu abraço gravitacional: os buracos negros. Estas "feridas" no tecido do espaço-tempo são o ponto final da matéria, estrelas colapsadas que se transformaram em monstros de gravidade.

E entre esses monstros posso citar o caso do M87* (lê-se M87 estrela), o gigante que habita o centro da galáxia Messier 87, cuja imagem histórica nos foi revelada em 2019. Da sua vizinhança, jorra um "jato relativístico" de plasma, um jato de partículas viajando a uma velocidade próxima à da luz, que atravessa o espaço por milhares de anos-luz.

Esses jatos ocorrem quando o buraco negro se alimenta. Eles não saem do buraco negro, nada pode sair dele. É apenas uma porção de matéria desviada em direção aos polos pelo campo magnético ao invés de cair no buraco negro.

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Quando um buraco negro é dezenas de milhares de vezes maior do que a massa do nosso Sol, dizemos que é um buraco negro supermassivo. Eles não são encontrados em qualquer lugar, mas geralmente nos centros das galáxias. Eles praticamente seguram todas as estrelas ao redor, mantendo a galáxia junta pela gravidade. 

Mas a natureza, em sua grandeza, supera a ficção. E para isso, precisamos falar de um sistema ainda mais extraordinário: OJ 287. Não se trata de apenas um, mas de dois buracos negros supermassivos presos em uma dança orbital violenta. Uma coreografia tão precisa que o menor deles, ao se aproximar do maior, atravessa o disco de gás quente que o circunda, causando erupções de luz que permitem aos astrônomos cronometrar sua órbita com precisão.

E a fúria deste casal cósmico não para por aí. Um artigo publicado no The Astrophysical Journal, intitulado "Identifying the Secondary Jet in the RadioAstron Image of OJ 287", trouxe uma descoberta curiosa neste mês de outubro de 2025. Usando uma rede de radiotelescópios que formou um "olho" do tamanho da Terra, os cientistas não apenas confirmaram a existência do jato do buraco negro principal, mas identificaram, pela primeira vez de forma clara, o jato do buraco negro secundário.

Imagem mostra dois buracos negros orbitando um ao outro.
Legenda: Imagem obtida de dois buracos negros orbitando um ao outro indicados por C1a e C1b.
Foto: Valtonen et. al. (2025).

Ou seja, são dois jatos relativísticos, um de cada gigante, entrelaçando-se e interagindo de maneiras que mal começamos a compreender.

Para visualizar essa dança caótica, a NASA, em 2021, produziu uma simulação hipnotizante (disponível em seu arquivo científico, SVS.gsfc.nasa.gov/13831). Ela mostra como a gravidade extrema desses dois corpos distorce o espaço-tempo e, consequentemente, a luz ao seu redor, criando anéis de plasma e sombras em movimento, uma coreografia de luz e escuridão.

O que o OJ 287 nos revela é interessante. Estamos testemunhando os estágios finais antes de uma colisão. Quando isso ocorrer, ele abalará o próprio universo, libertando ondas gravitacionais que ecoarão pela eternidade. Mas calma, esse abalo é muito sutil. Ele distorce o espaço no tamanho na escala de trilionésimos de milímetros, na ordem um núcleo atômico, e o tempo em frações trilionésimo de segundo, por isso dizemos que ele distorce o espaço e o tempo.

São necessários equipamentos extremamente grandes, com cerca de 3 a 4 km, como o Ligo nos EUA e o VIRGO na Itália. 

As ondas gravitacionais são comuns no universo, inclusive eu já escrevi aqui sobre a descoberta de uma grande quantidade delas. Se quiser saber mais, é só dar uma olhada neste link.

*Este texto reflete exclusivamente a opinião do autor.