Estudante cearense conquista medalha de ouro em campeonato mundial de Matemática

Rayan Moreira da Costa participou da seletiva nacional da World Mathematics Team Championship, e agora busca apoio para participar da fase final, na Tailândia

Escrito por
Paulo Roberto Maciel* paulo.maciel@svm.com.br
Um jovem de óculos e camisa azul, no centro, segura um certificado de premiação dourado e usa duas medalhas douradas no pescoço. Ele sorri enquanto está no palco. À sua direita, uma jovem de cabelos escuros e blusa preta também segura um certificado e uma medalha dourada. Ao fundo, um telão mostra um mapa-múndi, e uma faixa com o símbolo do Pi e a palavra
Legenda: Competição aconteceu na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) durante o último fim de semana
Foto: Arquivo Pessoal

"Por ele, eu moveria céus e terras, se pudesse". É assim que Andreia Costa define o orgulho que sente pelo filho, Rayan Moreira da Costa. E motivos não faltam: com 16 anos, o jovem cearense conquistou, no último fim de semana, a medalha de ouro na edição de 2025 do Campeonato Mundial de Matemática por Equipe (World Mathematics Team Championship, em inglês). 

O evento foi sediado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo. Durante quatro dias, estudantes de todo o Brasil foram desafiados a responderem problemas matemáticos avançados em um curto espaço de tempo.

Além de Rayan, outros cinco estudantes também receberam a honraria máxima, em Campinas. Dos competidores brasileiros, ele foi o único cearense a participar e vencer a seletiva nacional, garantindo a vaga na edição final, que acontecerá em Bangkok, na Tailândia, em dezembro.

Três jovens sorrindo e segurando medalhas de ouro e prata. O da esquerda, com cabelo encaracolado e óculos, veste um terno cinza e segura uma medalha de prata. O do meio, com um chapéu vermelho, veste um uniforme formal com luvas brancas e mostra uma medalha de prata. O da direita, também de óculos, veste uma camisa polo azul e exibe uma medalha de ouro. Eles estão sentados em um auditório, em meio a uma plateia, e parecem estar em uma cerimônia de premiação.
Legenda: Rayan e outros colegas durante a premiação do World Mathematics Team Championship Brasil, em Campinas
Foto: Arquivo Pessoal

Ao Diário do Nordeste, Andreia conta que sentiu "uma emoção inexplicável" ao ver o filho recebendo essa conquista. "Fiquei muito feliz por ele. Rayan sempre foi um menino dedicado e focado no que ele quer", detalha.

E as ambições do jovem não são poucas. Segundo a mãe, ele pretende cursar Matemática fora do Brasil, mirando em instituições renomadas como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, e a Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Veja também

Mãe arcou viagem com dinheiro de seguro-desemprego

Todos os sonhos de Rayan vieram de uma origem simples. Morador do bairro Pavuna, no município de Pacatuba, o jovem cresceu com talento natural pela leitura. Aos sete anos, ficou conhecido entre os vizinhos por ter lido mais de 300 livros. "Ele dizia que queria ser escritor, pianista, já tinha uma postura de falante", diz a mãe.

Com o passar dos anos, o amor pelas palavras foi redirecionado aos números. Hoje, ele participa de uma turma especial em preparação ao vestibular do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), tira notas altas, mas estava em busca de novos desafios.

Foi então que uma postagem em uma rede social o apresentou à WMTC e à possibilidade de vivenciar uma experiência imperdível. A ideia foi repassada à mãe, que apoiou o plano imediatamente. E assim, Rayan passou a estudar e se preparar para a olimpíada.

Apesar da empolgação do filho, Andreia sentiu o peso de ter que arcar sozinha com os custos da viagem. "Na realidade, eu estava desempregada. Recebi o dinheiro da empresa, guardei e investi nesse sonho dele", afirmou.

Mas ela não deixou que as demandas de mãe abalassem Rayan, se é que isso é possível. "Ele é um bom aluno desde pequenininho. Ele sempre soube separar a disciplina dele. Ele tem um horário de estudo, da academia, da natação, ele é disciplinado em tudo o que faz", comentou Andreia.

Um selfie tirado por uma mulher sorridente com cabelos castanhos escuros e brincos de argola, que segura uma grande medalha de bronze. Ao lado dela, um jovem de óculos e aparelho nos dentes, vestindo uma camisa polo azul, sorri para a câmera. Ele usa a mesma fita de pescoço, indicando que também participou do evento.
Legenda: Andreia acompanhou Rayan durante todo o processo, desde os estudos até os dias de evento
Foto: Arquivo Pessoal

Conquistando o prêmio

Após muito estudo e dedicação, Rayan voou para Campinas e deu início aos quatro dias de WMTC na última sexta-feira (15). Conforme a mãe, ele estava tranquilo porque "sabia que tinha dado o seu melhor".

Durante a olimpíada, os estudantes são divididos em três categorias: Junior (4ª ao 6º ano), intermediário (7º ao 9º ano) e avançado (1º ao 3º ano do Ensino Médio). Por estar no 2º ano do nível médio, Rayan ficou na turma avançada junto de outros quatro estudantes. Juntos, eles formaram a equipe que, ao final do evento, ganharia o prêmio máximo.

Segundo as regras do evento, as provas são separadas da seguinte maneira:

  • Uma prova individual com dois rounds, em que o estudante precisa resolver, em 4 minutos totais, 15 questões de múltipla escolha e oito com respostas objetivas;
  • Revezamento de três grupos com duas pessoas, em que os estudantes resolvem duas questões em três rounds de sete minutos;
  • Prova final em equipe, em que os estudantes resolvem 14 questões objetivas em 40 minutos;
  • Ao final, a equipe que fizer 200 pontos leva o prêmio.

Cálculos feitos pelos responsáveis pela olimpíada apontam que penas 10% dos alunos inscritos poderiam ter ganhado a medalha de ouro. E Rayan foi um deles.

Veja também

Planos futuros 

A entrega das medalhas aconteceu no último domingo (17). Foi a primeira vez que Rayan subiu ao palco de uma olimpíada de peso para receber o mérito pelo esforço dele. O coração da mãe, claro, se encheu de orgulho. "Essa conquista é resultado de todo o investimento que fizemos. Sou muito grata a Deus por tudo isso", celebrou Andreia.

Um jovem de óculos e camisa polo azul está abraçando uma mulher com cabelos escuros, que está de costas para a câmera. Eles estão em um evento, com outras pessoas ao redor, e banners ao fundo indicam que se trata de uma competição de matemática.
Legenda: Andreia também é recém divorciada, e afirmou que escolheu ficar com o filho porque acredia no futuro dele
Foto: Arquivo Pessoal

Com a vitória, competir na Tailândia no fim do ano se tornou um sonho palpável, mas ainda distante. É que, segundo Andreia, os custos da viagem ficariam em torno de R$ 20 mil, um dinheiro que ela não tem.

Para poder realizar o sonho do filho, Andreia pensa até em se mudar para São Paulo em busca de melhores oportunidades de trabalho, além de ser um local mais acessível para Rayan participar de outras olimpíadas. "Eu quero ver ele lá, brilhando. Mas enquanto isso, tenho que me esforçar", observa.

Andreia também cita que procura incentivos da Prefeitura de Pacatuba, de projetos sociais, ou de qualquer pessoa que acredite no potencial de Rayan.

Ela não quer repetir um episódio de maio desse ano, quando o jovem conseguiu a oportunidade de estudar duas semanas em Oxford, mas não conseguiu juntar dinheiro o suficiente para arcar com tudo. "Na época, eu fiz uma vaquinha, mas ninguém ajudou. Ninguém quer ajudar. Infelizmente, o cearense é assim. O governo é assim. Espero que dessa vez seja diferente", desabafou.

*Estagiário sob supervisão do jornalista Felipe Mesquita

Newsletter

Escolha suas newsletters favoritas e mantenha-se informado
Assuntos Relacionados