Diabetes assintomática é alerta para o combate à doença; veja como prevenir

Dia Mundial do Diabetes, celebrado em 14 de novembro, chama atenção para o diagnóstico e a prevenção às complicações da doença

Escrito por Gabriela Custódio , gabriela.custodio@svm.com.br
mulher medindo glicose
Legenda: Os tipos de diabetes são diferenciados pela forma como a hiperglicemia se desenvolve: por problemas na produção ou na ação da insulina
Foto: Freepik

O diabetes é caracterizado pela elevada quantidade de açúcar no sangue — a chamada hiperglicemia. Muitas vezes silenciosa, a doença pode causar diversas complicações, e a International Diabetes Federation (IDF) estima que aproximadamente metade das pessoas que têm a doença não sabem que convivem com ela. Por ser muitas vezes assintomática, gera muitos alertas. Para tentar combater a doença e seus efeitos, nesta terça (14), celebra-se o Dia Mundial do Diabetes.

Neste ano, a campanha traz o mote “Saiba seu risco, construa um futuro saudável” e tem o objetivo de alertar a população para a busca do diagnóstico e para a prevenção dos riscos relacionados à doença. Por muitas vezes não manifestar sintomas, é importante que ela seja rastreada, defende a endocrinologista Cristina Façanha, diretora-geral do Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH).

Você começa com a glicose normal em jejum, mas quando come ela sobe. Você não se sente nada, e aí ela vai piorando. E aí você se sente um pouquinho mal, mas acha que é da idade, do peso, do cansaço, e acaba não procurando o diagnóstico, não procurando o médico. Quando a gente vai ver, muitas vezes uma pessoa que tem diabetes tipo 2 faz o diagnóstico por uma complicação. Esse é o tipo de diabetes que a gente precisa muito rastrear para diagnosticar precocemente e ter condição de tratar cedo.
CRISTINA FAÇANHA
Endocrinologista e diretora-geral do Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH)

Mudanças no estilo de vida, com adoção de hábitos saudáveis, é a melhor forma de prevenir ou retardar o diabetes tipo 2, segundo o Ministério da Saúde. A recomendação é manter uma boa alimentação, praticar atividades físicas e evitar álcool, cigarro e outras drogas.

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EVENTOS PELO DIA MUNDIAL DO DIABETES

Nesta semana, entidades realizam eventos em Fortaleza para promover a conscientização sobre a doença. Nesta terça (14), a Associação Cearense de Diabéticos e Hipertensos irá promover uma campanha com aferição de glicemia e de pressão, atendimento nutricional e cálculo de índice de massa corporal (IMC), além do encaminhamento para o endocrinologista para os casos de alteração nos índices de saúde. A ação será realizada no Posto Dr. Luiz Costa, no bairro Benfica, das 8h às 12 horas.

À tarde, a Associação realiza a caminhada Azul na Praça do Jardim América, das 17h às 18h. Já nos dias 17 e 18, sexta e sábado, haverá encaminhamento de pacientes para exames oftalmológicos no mutirão da retinopatia diabética realizado pelo Hospital Geral de Fortaleza.

O Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH), por sua vez, realiza ações ao longo de toda a semana. Nesta terça (14), são realizadas as “Estações Educativas”, a partir das 8h30, nas quais serão abordados temas como prevenção do pé diabético, tipos de insulinas disponíveis para tratamento do diabetes, curativos para o pé diabético.

A partir das 16h do feriado, dia 15 de novembro, uma ação realizada em parceria com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e com universidades oferece verificação de glicemia, pressão arterial e avaliação de riscos na avenida Beira-Mar, em frente ao Náutico.

TIPOS DE DIABETES

O diabetes mellitus pode ter diferentes formas, como os tipos 1 e 2 e o diabetes gestacional. Eles são diferenciados pela maneira como a hiperglicemia se desenvolve: por problemas na produção ou na ação da insulina, o que leva ao aumento do nível de glicose no sangue. Produzida no pâncreas, a insulina é o hormônio que promove a entrada da glicose nas células do organismo para que ela seja utilizada como fonte de energia.

Diabetes tipo 1

O diabetes tipo 1 é uma doença crônica não transmissível, hereditária, que ocorre quando o próprio sistema imunológico ataca as células beta do pâncreas, responsáveis por produzir a insulina. Nesse caso, pouco ou nenhum hormônio é liberado. “É uma doença autoimune, quase como se fosse uma alergia, uma asma”, afirma a endocrinologista.

Esse tipo está concentrado entre 5 e 10% do total de pessoas com a doença e, em geral, é diagnosticado em crianças e adolescentes. Porém, pode ser desencadeado em qualquer idade. O tratamento é feito com insulina, medicamentos, planejamento alimentar e prática de atividades físicas.

Diabetes tipo 2

Já no diabetes tipo 2, a insulina é produzida, mas existe uma resistência à ação dela a nível de tecidos periféricos. Assim, o músculo, por exemplo, não “aproveita” a insulina produzida e há uma hiperglicemia mesmo com hormônio circulante. “É uma mistura entre resistência à ação de insulina e o déficit na sua produção”, informa a médica. Com o tempo, o pâncreas fica sobrecarregado e entra em falência.

A causa desse tipo está diretamente ligada a sobrepeso, sedentarismo, triglicerídeos elevados, hipertensão e hábitos alimentares inadequados. Com isso, deve-se manter acompanhamento médico para também tratar outras doenças associadas ao diabetes.

Diabetes gestacional

O diabetes gestacional pode ocorrer em qualquer mulher durante a gestação e, muitas vezes, esse quadro se normaliza após o nascimento do bebê. O problema ocorre porque, durante a gravidez, a placenta produz hormônios que reduzem a ação da insulina — e, em resposta, o pâncreas aumenta a produção. Porém, em algumas mulheres, esse processo não ocorre e o nível de glicose no sangue aumenta, o que prejudica o desenvolvimento do bebê.

O indicado pela Sociedade Brasileira de Diabetes é que, a partir da 24ª semana de gravidez (início do 6º mês), as gestantes pesquisem como está a glicose em jejum e a glicemia após estímulo da ingestão de glicose.

Os fatores de risco, segundo a entidade, são:

  • Idade materna mais avançada
  • Ganho de peso excessivo durante a gestação
  • Sobrepeso ou obesidade
  • Síndrome dos ovários policísticos
  • História prévia de bebês grandes (mais de 4 kg) ou de diabetes gestacional
  • História familiar de diabetes em parentes de 1º grau (pais e irmãos)
  • História de diabetes gestacional na mãe da gestante
  • Hipertensão arterial na gestação
  • Gestação múltipla (gravidez de gêmeos)

Pré-diabetes

Quando o nível de glicose está mais alto que o normal, mas ainda não atingiu o nível considerado para o diagnóstico de diabetes tipo 2, a pessoa tem pré-diabetes. Em muitos casos, a pessoa com essa condição vai desenvolver a doença, mas, no estágio “pré”, ainda é possível agir para reverter a situação ou retardar a evolução para diabetes.

“É aquela hora que eu consigo ver que o problema está chegando e me desviar dele. Por isso que a gente acha tão importante agir nessas pessoas que têm pré-diabetes, porque é como temos chance de mudar a vida delas pro futuro”, afirma Cristina Façanha. Os fatores de risco são: pressão alta; alto nível de LDL — o ‘mau’ colesterol — e triglicérides e/ou baixo nível de HDL  — ‘bom’ colesterol; sobrepeso.

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O QUE O DIABETES PODE CAUSAR?

Ao longo do tempo, a hiperglicemia (excesso de glicose) não controlada causa diversas complicações, como doenças renais, problemas nos olhos, problemas arteriais e doenças periodontais. O diabetes, por exemplo, é a principal causa de cegueira e de amputações não-traumáticas (quando não ocorre por fatores externos) de membros inferiores.

Um desses problemas causados pelo diabetes descompensado é a retinopatia diabética, que ocorre quando a doença atinge os vasos da retina, localizada na parte posterior do olho. Segundo o oftalmologista Felipe Carvalho, o principal sintoma é a baixa da visão. Porém, o profissional alerta que pessoas com diabetes precisam fazer exame de fundo de olho (oftalmoscopia) antes de qualquer sintoma, uma vez que, quando esse sinal surge, já existe muita alteração na retina.

“Acredita-se que, em 10 anos de doença, você já tenha algum nível de alteração da retina, mesmo que seja bem leve. É mais um motivo pra procurar o oftalmologista”, diz o médico. Ele também explica que o tratamento da doença é feito com laser ou com aplicação de antiangiogênicos. Nos casos mais graves, é feita uma cirurgia. “Quanto mais precocemente você fizer, melhor o tratamento da retinopatia diabética”, complementa.

Além disso, a médica Cristina Façanha destaca que a doença cardiovascular é a principal causa de óbitos em pessoas com diabetes.

Mesmo as pessoas que têm pré-diabetes já têm o risco aumentado de ter problemas no coração no futuro. Mulheres que um dia tiveram diabetes gestacional, mesmo sendo jovens, comparado com as outras mulheres da mesma idade, elas também têm o risco maior de desenvolver um dia, no futuro, doença cardiovascular. Então, é importante estarmos atentos. Diabetes não é só a glicose. É a glicose, é o peso, é o colesterol, é o coração, é a pressão.
CRISTINA FAÇANHA
Endocrinologista e diretora-geral do Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH)

COMO SABER SE TENHO DIABETES?

O diagnóstico do diabetes é feito por meio da dosagem da glicose no sangue. Em jejum, se a glicose estiver maior ou igual a 126 mg/dL ou o exame de hemoglobina glicada (HbA1c) for maior ou igual a 6,5%, há suspeita de diabetes.

De acordo com o Ministério da Saúde, os principais sintomas da doença são fome e sede excessiva e vontade de urinar várias vezes ao dia. O órgão também destaca sintomas dos tipos 1 e 2.

Tipo 1

  • Fome frequente
  • Sede constante
  • Vontade de urinar diversas vezes ao dia
  • Perda de peso
  • Fraqueza
  • Fadiga
  • Mudanças de humor
  • Náusea e vômito

Tipo 2

  • Fome frequente
  • Sede constante
  • Formigamento nos pés e mãos
  • Vontade de urinar diversas vezes
  • Infecções frequentes na bexiga, rins, pele e infecções de pele
  • Feridas que demoram para cicatrizar
  • Visão embaçada

Há alguns fatores de risco para o diabetes, além de fatores genéticos e a ausência de hábitos saudáveis. São eles:

  • Diagnóstico de pré-diabetes
  • Pressão alta
  • Colesterol alto ou alterações na taxa de triglicérides no sangue
  • Sobrepeso, principalmente se a gordura estiver concentrada em volta da cintura
  • Pais, irmãos ou parentes próximos com diabetes
  • Doenças renais crônicas
  • Mulher que deu à luz criança com mais de 4kg
  • Diabetes gestacional
  • Síndrome de ovários policísticos
  • Diagnóstico de distúrbios psiquiátricos - esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar
  • Apneia do sono
  • Uso de medicamentos da classe dos glicocorticoides
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