Outono inicia e La Niña enfraquece: como novo cenário impacta as chuvas no Ceará nos próximos meses?
Condições do oceano e da atmosfera têm se modificado ao longo do período mais chuvoso do Estado

O outono no Hemisfério Sul teve início no último dia 20 de março e deve prosseguir até o mês de junho. No Brasil, a estação é considerada uma transição entre o verão quente e úmido e o inverno frio e seco, e, na prática, deve ter pouco impacto no Ceará. A quadra chuvosa em andamento ainda deve enfrentar o enfraquecimento da La Niña, que costumeiramente favorece as precipitações no Estado.
O Prognóstico Climático de Outono, divulgado em nota técnica conjunta entre o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), descreve que as chuvas devem ser mais escassas no interior do país, especialmente no semiárido nordestino.
Contudo, sobre a porção norte da região, ainda são registrados volumes importantes de chuva, em associação a atividade convectiva tropical e atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal sistema indutor das precipitações.
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Neste mês, o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Inpe também divulgou a previsão sazonal para o período abril-maio-junho (AMJ), indicando maior probabilidade de chuvas acima da normal climatológica para a porção Norte do Ceará. Para o restante do Estado, há condições iguais para as três categorias (abaixo, dentro ou acima da normal).
Em entrevista ao Diário do Nordeste, a gerente de Meteorologia da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Meiry Sakamoto, explica que a transição do verão para o outono no Estado segue um ciclo natural, mas “aqui não vai ficar frio”.
“A gente muda para o outono, que na verdade não faz muita diferença aqui no Ceará, já que a gente fala basicamente de estação da chuva e estação sem chuva”, afirma.
Historicamente, o Estado tem precipitações iniciando na pré-estação, entre os meses de dezembro e janeiro, e mais concentradas na quadra chuvosa, que vai de fevereiro a maio de cada ano.
Em fevereiro, a Funceme divulgou prognóstico indicando probabilidade de 45% de chuvas em torno da média, 30% para precipitações abaixo da média e 25% para chuvas acima da normal climatológica no período. O padrão esperado traz maiores volumes na porção norte e condições menos favoráveis para o centro-sul do Estado.

La Niña mais fraca
O El Niño e a La Niña são partes de um mesmo fenômeno acoplado (atmosférico-oceânico) que ocorre no oceano Pacífico Equatorial. A fase El Niño se refere às situações em que o oceano está mais quente do que a condição média histórica. Fase contrária, a La Niña se consolida quando ele está mais frio do que o normal.
A mudança na temperatura do Pacífico Equatorial provoca efeitos globais nos padrões de circulação atmosférica, transporte de umidade, temperatura e precipitação. Por isso, os meteorologistas investigam a Temperatura da Superfície do Mar (TSM) para monitorá-lo.
Nos últimos levantamentos, as médias mensais tiveram valores de anomalias inferiores a -0,5°C em dezembro de 2024 e janeiro de 2025, indicando início das condições de La Niña. Em fevereiro, a anomalia permaneceu inferior a -0,5°C, caracterizando La Niña de fraca intensidade.
Contudo, entre fevereiro e o início de março, foi observado o enfraquecimento das anomalias de TSM na região do Pacífico central, sugerindo uma possível evolução em direção a condições de neutralidade do fenômeno.
A previsão do APEC Climate Center (APCC), centro de pesquisa sediado na Coreia do Sul, indica enfraquecimento gradual do fenômeno nos próximos meses, com 66% de probabilidade de transição de condições de La Niña para condições de neutralidade no trimestre março-abril-maio (MAM/2025).
Em boletim publicado em 13 de março, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) dos Estados Unidos confirma maior probabilidade de neutralidade a partir de abril. A entidade aponta 62% de chance de ela perdurar até o mês de agosto.
Apesar disso, Meiry Sakamoto explica que o clima no Ceará não é influenciado apenas pela atuação desse fenômeno, existindo outros fatores que devem ser considerados e que também interferem nas condições de tempo. Um deles é o Oceano Atlântico.
“O Atlântico hoje está tendendo à neutralidade e tem algumas áreas mais aquecidas aqui mais próximas da região Nordeste. É isso que está favorecendo que a Zona de Convergência Intertropical se aproxime”, afirma.
A especialista lembra que os modelos da Funceme já vinham notando uma La Niña mais curta e que a estação chuvosa, como um todo, “já aconteceria dentro de uma situação mais neutra”.
“Neutralidade dá toda a responsabilidade para o Oceano Atlântico, e o Oceano Atlântico tem contribuído favoravelmente. Ele é uma bacia menor e se altera com muito mais rapidez, então é por isso que vem tendo essas alterações. Para a previsão de fevereiro, a gente já percebeu um quadro um pouco mais favorável, que está se configurando com a proximidade da ZCIT”, analisa.
Prognóstico para a Região Nordeste
A previsão climática do Inmet/Inpe indica condições desfavoráveis para as chuvas na estação, até junho, com predomínio de condições de chuvas abaixo da média histórica (climatologia) no centro-sul da região.
São previstas chuvas mais regulares sobre a porção norte da região, devido à atuação da ZCIT mais ao sul de sua posição climatológica.
São previstos valores de temperatura do ar acima da média histórica em grande parte da região. Entretanto, temperaturas mais amenas podem ser registradas sobre a costa norte da região em relação ao interior, devido à ocorrência de dias consecutivos de chuva.