Após a quadra chuvosa, açudes do Ceará tiveram queda no volume de água maior do que tamanho do Orós
Quase metade do volume que saiu dos reservatórios evaporou, enquanto 51% foram de fato utilizados pela população
A quadra chuvosa histórica que o Ceará teve em 2024 gerou o maior aporte aos açudes do Estado em 15 anos: em junho, os 157 reservatórios estavam quase 57% cheios. Seis meses depois, o volume já reduziu em 2,43 bilhões de metros cúbicos – valor que supera o tamanho do Orós, o segundo maior açude do Estado, e que representa quase um terço do Castanhão.
Essa queda do volume de água armazenada nos últimos seis meses é a maior em, pelo menos, dez anos, conforme dados levantados pelo Diário do Nordeste no Portal Hidrológico da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).
Em 2024, de toda a água que saiu dos açudes no segundo semestre, cerca de 51% (ou 1,24 bilhões de m³) foram de fato utilizados para abastecimento da população, atividades agrícolas ou outros usos.
Por outro lado, 49% do líquido que deixou os reservatórios cearenses após a quadra chuvosa evaporaram, gerando uma perda de 1,18 bilhão de m³ de água – ou mais de 1 trilhão de litros. As informações são de Tércio Tavares, diretor de operações da Cogerh.
O gestor explica que “é uma média comum para a situação de reserva hídrica nossa”. Ele observa que “tivemos em 2023 um leve aumento fora da curva”, o que atribui em parte ao “aumento bastante significativo das temperaturas globais e no Nordeste”. Já 2024, segundo ele, “foi mais ameno”, o que manteve a redução das águas dentro do esperado.
Aquecimento global e maior evaporação
Tércio Tavares justifica que “quanto maior o armazenamento de água, maior será a retirada”, tanto para uso pela população como no próprio processo natural de evaporação. “Com maior reservação, o setor produtivo vai se sentir confortável pra pedir mais água. E maior também é a evaporação, devido à exposição do espelho d'água”, explica.
Isso quer dizer que, com os açudes mais cheios, a área atingida pela radiação solar – e, portanto, mais propensa a evaporar – é maior. “Somado a isso, temos também o aquecimento global, que tem causado maior índice de evaporação no mundo todo, e não é diferente no Ceará”, observa o gestor.
“Estamos, sim, tendo um aumento gradativo (do volume de água retirado dos açudes após a quadra chuvosa), não só por evaporação, mas por maior uso”, reforça.
da capacidade atual dos açudes cearenses estão cheios, neste início de 2025. O valor diminui todos os dias. Nos últimos 6 meses do ano passado, caiu quase 14 pontos percentuais.
Apesar de o Ceará iniciar o ano com boa reserva hídrica de modo geral, o diretor de operações da Cogerh destaca que algumas áreas do Estado, historicamente, exigem mais atenção, já que costumam receber aportes menores.
Dados da Cogerh mostram que, neste início de ano, as bacias dos Sertões de Crateús, Médio Jaguaribe e Banabuiú amargam os piores cenários: a primeira tem apenas 12,8% do volume preenchido; a segunda, 28,1%; e a terceira está cheia com 35,8% da capacidade total.
Juntas, elas somam 44 dos 157 açudes monitorados. “Isso demanda da gente um olhar especial e torcida para que a chuva consiga levar água pra esses pontos historicamente mais sensíveis”, complementa Tércio.
Quadra chuvosa de 2025
O prognóstico para a quadra chuvosa de 2025, que abrange os meses de fevereiro a maio, deve ser divulgado pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) ainda neste mês.
Em novembro do ano passado, porém, o órgão apontou, em Previsão Sazonal Climática, 45% de probabilidade de a pré-estação cearense ter precipitações abaixo da média, 35% de chance de acumulado dentro da média e apenas 20% de probabilidade de chuvas acima da normal meteorológica entre dezembro e fevereiro.
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As condições desfavoráveis para as chuvas em todo o território cearense se relacionam, principalmente, com a temperatura do Oceano Atlântico, que está mais alta no Hemisfério Norte e mais baixa no Sul, onde está o Ceará. Com o mar mais “frio” por aqui, os sistemas que favoreceriam chuvas no Estado devem se afastar.
Caso o Estado não tenha uma boa estação chuvosa, um grupo de contingência formado por órgãos ligados à situação hídrica cearense, capitaneado pela Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), deve propor ações emergenciais como construção de adutoras e perfuração de poços, segundo exemplifica Tércio Tavares, da Cogerh.
“Mas é lógico que contamos sempre que esse ano de 2025 venha uma chuva pelo menos dentro da média”, torce.