Lord Hotel, imóvel em Fortaleza com ‘risco de desabamento’, hospedou famosos e já teve plano de implosão
O prédio, à época da construção, era considerado moderno e inovador. Nos anos 2000, na construção da Estação José de Alencar, foram constatados vários riscos na edificação

Localizado no encontro das ruas 24 de Maio com Liberato Barroso, em uma das esquinas mais movimentadas pelo comércio popular no Centro de Fortaleza, o Edifício Philomeno Gomes, conhecido como Lord Hotel, vive, novamente, temores relacionados à sua estrutura.
O Diário do Nordeste mostrou que, no início de 2025, o Metrofor, após uma visita ao imóvel, constatou que o prédio tem risco de desabamento. A história da edificação, de quase 70 anos, tem altos e baixos, e o lugar, que chegou a hospedar famosos, também já teve planos de implosão.
O prédio, que hoje segue deteriorado, tem arquitetura moderna em estilo Art Déco e foi construído em 1956. Seu nascimento foi acompanhado por outros hotéis semelhantes em Fortaleza, como o Edifício São Pedro, na Praia de Iracema, inaugurado em 1951 como Iracema Plaza Hotel. O Lord Hotel foi fundado por Pedro Philomeno Gomes, com 8 andares e 120 apartamentos.
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Pedro Philomeno foi um empresário cearense, proprietário da Fábrica de Tecidos São José, que atuou em diversos ramos, entre eles, no setor imobiliário e turístico, construindo residências de luxo e prédios de apartamentos. No setor de hotelaria, além do Lord Hotel e também construiu o Edifício São Pedro - Iracema Plaza Hotel -, primeiro hotel fora do Centro.
Características do Lord Hotel
Registros em jornais e pesquisas acadêmicas apontam que, no auge entre os anos 1960 e 1970, o hotel recebeu personalidades ilustres, como Dercy Gonçalves, Martinho da Vila e Moreira da Silva.
O Lord Hotel tem outra característica diferenciada: está situado próximo a um conjunto arquitetônico relevante para Fortaleza, com imóveis como o Theatro José de Alencar e a Antiga Escola Normal, que também foi sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A dissertação "A modernidade arquitetônica dos hotéis em Fortaleza: uma análise sobre o reuso", da pesquisadora Thaís Silveira Soares, apresentada na Universidade Federal do Ceará (UFC), indica que o hotel modernista "recebeu a tipologia mista de comércio, hotelaria e habitação em Fortaleza", uma inovação para a época. Segundo a pesquisa, o projeto do edifício tem autoria desconhecida e utiliza linguagem e técnicas de construção pioneiras para o período.
O trabalho acrescenta, considerando o contexto da construção, que: "Com 120 apartamentos, era notável a inovação alcançada pelo novo empreendimento: além de incorporar novas técnicas construtivas, como o concreto armado, e a existência de elevadores e de banheiros privativos nos quartos, já demonstrava avanços sociais e uma busca por costumes em voga na Europa."

A estrutura funcionou como hotel até 1992, quando foi desativada e transformada em residência-hotel. Depois, virou pousada, chamada Fortaleza Centro Pousada. Àquela altura, a parte do prédio destinada aos hóspedes tinha entrada pela Rua 24 de Maio, e aos moradores, tinha acesso pela Rua Liberato Barroso.
Mas, em 1999, quando tiveram início as obras do metrô de Fortaleza, o Metrofor, a história do Lord Hotel teve outra reviravolta. A construção subterrânea da Estação José de Alencar, nas proximidades do antigo hotel, e das praças José de Alencar e da Lagoinha, geraria uma repercussão significativa.
Plano de implosão
À época, uma série de estudos apontou que a estrutura do antigo hotel, já precária naquela altura, teria riscos. A Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor) defendeu a demolição do prédio, como registram matérias do Diário do Nordeste nos anos 2000.

Naquele momento, a equação era de que seria melhor não arriscar que o prédio, de quase 50 anos, fosse comprometido pelas escavações, já que laudos, em certo grau, condenavam a estrutura e não seria viável a recuperação. Mas, em 2001, o Governo do Estado desapropriou o prédio para as obras do Metrofor; contudo, não houve adesão total dos residentes. O imbróglio continuou, indo parar na Justiça.
Nesse percurso, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) chegou a emitir alertas sobre as condições do prédio, mas parte dos moradores permaneceu no local. À época, o Metrofor mapeou todos os imóveis que poderiam ser afetados pelas escavações, e, no caso do Lord, um dos laudos do Metrofor apontou o risco de a estrutura ruir.

Diversos órgãos, como o Corpo de Bombeiros, as defesas civis do Estado e do Município, e o Departamento de Edificações, Rodovias e Transportes (DERT) - órgão da época - produziram laudos próprios, registrando matéria do Diário do Nordeste, "comprovando a existência de muitas infiltrações, que comprometeram as estruturas de pilares, vigas e lajes".
Em 2002, o Metrofor informou que, assim que os moradores fossem retirados, o prédio seria demolido. E ali se cogitava o método de implosão para fazer o imóvel vir abaixo. Mas, um dos pontos considerados era o impacto nos imóveis no entorno, como o Theatro José de Alencar. O plano de demolição, ainda que o método não fosse a implosão, não prosperou. E, como a ação tramitava na Justiça, a demolição não poderia ser efetuada.

Já em 2006, a Prefeitura de Fortaleza aprovou o tombamento provisório da edificação. Logo, ela não poderia mais ser demolida. Em janeiro de 2010, outro capítulo da história teve início: o Governo do Estado começou a realizar serviços de reforço estrutural no Lord Hotel. Dentre os trabalhos, houve a concretagem de vigas e pilares. As intervenções desse tipo ocorreram em etapas e perduraram por alguns anos.
Em julho de 2013, a presidenta da República, Dilma Rousseff, inaugurou a Linha Sul do metrô de Fortaleza, dando início aos trabalhos nas estações José de Alencar e Chico da Silva. A primeira delas é justamente a estação em questão no processo do Lord Hotel.
Depois, veio o processo no qual o Governo do Estado cedeu a posse do bem para a Prefeitura em 2019, para que o local passasse a abrigar a Câmara Municipal de Fortaleza. Mas a ideia não prosperou e, em 2024, o prédio foi oficialmente devolvido ao Metrofor.