Lord Hotel, imóvel em Fortaleza com ‘risco de desabamento’, hospedou famosos e já teve plano de implosão

O prédio, à época da construção, era considerado moderno e inovador. Nos anos 2000, na construção da Estação José de Alencar, foram constatados vários riscos na edificação

Escrito por
Thatiany Nascimento thatiany.nascimento@svm.com.br
(Atualizado às 10:52)
Legenda: Imagem do Lord Hotel em 1958
Foto: Fortaleza Nobre/Acervo Digital Fortaleza

Localizado no encontro das ruas 24 de Maio com Liberato Barroso, em uma das esquinas mais movimentadas pelo comércio popular no Centro de Fortaleza, o Edifício Philomeno Gomes, conhecido como Lord Hotel, vive, novamente, temores relacionados à sua estrutura.

O Diário do Nordeste mostrou que, no início de 2025, o Metrofor, após uma visita ao imóvel, constatou que o prédio tem risco de desabamento. A história da edificação, de quase 70 anos, tem altos e baixos, e o lugar, que chegou a hospedar famosos, também já teve planos de implosão.

O prédio, que hoje segue deteriorado, tem arquitetura moderna em estilo Art Déco e foi construído em 1956. Seu nascimento foi acompanhado por outros hotéis semelhantes em Fortaleza, como o Edifício São Pedro, na Praia de Iracema, inaugurado em 1951 como Iracema Plaza Hotel. O Lord Hotel foi fundado por Pedro Philomeno Gomes, com 8 andares e 120 apartamentos.

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Pedro Philomeno foi um empresário cearense, proprietário da Fábrica de Tecidos São José, que atuou em diversos ramos, entre eles, no setor imobiliário e turístico, construindo residências de luxo e prédios de apartamentos. No setor de hotelaria, além do Lord Hotel e também construiu o Edifício São Pedro - Iracema Plaza Hotel -, primeiro hotel fora do Centro.

Características do Lord Hotel

Registros em jornais e pesquisas acadêmicas apontam que, no auge entre os anos 1960 e 1970, o hotel recebeu personalidades ilustres, como Dercy Gonçalves, Martinho da Vila e Moreira da Silva.

O Lord Hotel tem outra característica diferenciada: está situado próximo a um conjunto arquitetônico relevante para Fortaleza, com imóveis como o Theatro José de Alencar e a Antiga Escola Normal, que também foi sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Legenda: Atual situação do Lord Hotel
Foto: Kid Jr

A dissertação "A modernidade arquitetônica dos hotéis em Fortaleza: uma análise sobre o reuso", da pesquisadora Thaís Silveira Soares, apresentada na Universidade Federal do Ceará (UFC), indica que o hotel modernista "recebeu a tipologia mista de comércio, hotelaria e habitação em Fortaleza", uma inovação para a época. Segundo a pesquisa, o projeto do edifício tem autoria desconhecida e utiliza linguagem e técnicas de construção pioneiras para o período.

O trabalho acrescenta, considerando o contexto da construção, que: "Com 120 apartamentos, era notável a inovação alcançada pelo novo empreendimento: além de incorporar novas técnicas construtivas, como o concreto armado, e a existência de elevadores e de banheiros privativos nos quartos, já demonstrava avanços sociais e uma busca por costumes em voga na Europa."

Legenda: Atual situação do Lord Hotel
Foto: Kid Jr

A estrutura funcionou como hotel até 1992, quando foi desativada e transformada em residência-hotel. Depois, virou pousada, chamada Fortaleza Centro Pousada. Àquela altura, a parte do prédio destinada aos hóspedes tinha entrada pela Rua 24 de Maio, e aos moradores, tinha acesso pela Rua Liberato Barroso.

Mas, em 1999, quando tiveram início as obras do metrô de Fortaleza, o Metrofor, a história do Lord Hotel teve outra reviravolta. A construção subterrânea da Estação José de Alencar, nas proximidades do antigo hotel, e das praças José de Alencar e da Lagoinha, geraria uma repercussão significativa.

Plano de implosão

À época, uma série de estudos apontou que a estrutura do antigo hotel, já precária naquela altura, teria riscos. A Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor) defendeu a demolição do prédio, como registram matérias do Diário do Nordeste nos anos 2000.

Legenda: Fac-símile de edição do Diário do Nordeste
Foto: Arquivo Centro de Documentação do Sistema Verdes Mares (Cedoc)

Naquele momento, a equação era de que seria melhor não arriscar que o prédio, de quase 50 anos, fosse comprometido pelas escavações, já que laudos, em certo grau, condenavam a estrutura e não seria viável a recuperação. Mas, em 2001, o Governo do Estado desapropriou o prédio para as obras do Metrofor; contudo, não houve adesão total dos residentes. O imbróglio continuou, indo parar na Justiça.

Nesse percurso, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) chegou a emitir alertas sobre as condições do prédio, mas parte dos moradores permaneceu no local. À época, o Metrofor mapeou todos os imóveis que poderiam ser afetados pelas escavações, e, no caso do Lord, um dos laudos do Metrofor apontou o risco de a estrutura ruir.

Legenda: O prédio, que hoje segue deteriorado, tem arquitetura moderna em estilo Art Déco e foi construído em 1956.
Foto: Kid Jr

Diversos órgãos, como o Corpo de Bombeiros, as defesas civis do Estado e do Município, e o Departamento de Edificações, Rodovias e Transportes (DERT) - órgão da época - produziram laudos próprios, registrando matéria do Diário do Nordeste, "comprovando a existência de muitas infiltrações, que comprometeram as estruturas de pilares, vigas e lajes".

Em 2002, o Metrofor informou que, assim que os moradores fossem retirados, o prédio seria demolido. E ali se cogitava o método de implosão para fazer o imóvel vir abaixo. Mas, um dos pontos considerados era o impacto nos imóveis no entorno, como o Theatro José de Alencar. O plano de demolição, ainda que o método não fosse a implosão, não prosperou. E, como a ação tramitava na Justiça, a demolição não poderia ser efetuada.

Legenda: Atual situação do Lord Hotel
Foto: Kid Jr

Já em 2006, a Prefeitura de Fortaleza aprovou o tombamento provisório da edificação. Logo, ela não poderia mais ser demolida. Em janeiro de 2010, outro capítulo da história teve início: o Governo do Estado começou a realizar serviços de reforço estrutural no Lord Hotel. Dentre os trabalhos, houve a concretagem de vigas e pilares. As intervenções desse tipo ocorreram em etapas e perduraram por alguns anos.

Em julho de 2013, a presidenta da República, Dilma Rousseff, inaugurou a Linha Sul do metrô de Fortaleza, dando início aos trabalhos nas estações José de Alencar e Chico da Silva. A primeira delas é justamente a estação em questão no processo do Lord Hotel.

Depois, veio o processo no qual o Governo do Estado cedeu a posse do bem para a Prefeitura em 2019, para que o local passasse a abrigar a Câmara Municipal de Fortaleza. Mas a ideia não prosperou e, em 2024, o prédio foi oficialmente devolvido ao Metrofor.

 

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