A escritora que nos instiga a escavar as personas que soterramos na memória

No livro “É perigoso deixar as mãos livres", a escritora Isabela Bosi nos convida a imaginar o que outros caminhos e outras decisões poderiam ter feito de nós

Escrito por
Beatriz Jucá producaodiario@svm.com.br
Legenda: Isabela Bosi lança novo livro em Fortaleza será dia 4 de abril, no CCBNB
Foto: Acervo Pessoal

“É perigoso deixar as mãos livres", avisa a jornalista e escritora Isabela Bosi na capa verde de seu mais recente livro de poemas. Nos versos, ela nos pega pela mão e nos induz a repensar as tantas bifurcações que surgem ao longo da nossa vida. A poesia de Isabela nos permite imaginar o que outros caminhos e outras decisões poderiam ter feito de nós, o que outros caminhos poderiam ter feito por nós.

“Você lembra do exato momento em que poderia ter se tornado outra pessoa? Em que tomar uma decisão diferente inventaria outra vida para você?”, questiona a publicação da carioca que viveu tantos anos no Ceará. Foi ela que, há alguns anos, reconstruiu com delicadeza as tantas histórias que cruzaram o Bar do Anísio, ponto ímpar da vida fortalezense. Com sensibilidade, trouxe cenas da boemia musical da capital cearense em um livro-reportagem de fôlego.

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Isabela Bosi agora vive em São Paulo, mas retorna a Fortaleza nesta semana para lançar o livro “É perigoso deixar as mãos livres". Estará no dia 4 de abril, às 19h, no Centro Cultural Banco do Nordeste para o lançamento e bater com papo com Alexandre Barbalho.

Ao trazer à tona as bifurcações que invariavelmente nos surgem durante a  vida, Isabela Bosi remonta um filme estrelado por todos aqueles que, de alguma maneira, decidimos não ser. E nos convida a mergulhar em versos calmos pelo “país em que estão nossos pés reais, a casa em que alguma brisa nos surpreende, a figuração que chamamos de eu".

Na poesia dela, imaginamos e convivemos com tudo o que poderia ter existido, com a pessoa que poderíamos ter sido caso as escolhas fossem outras. Ela diz que, se a vida arrasta o corpo para um caminho, a memória faz com que todos os outros caminhos continuem sendo parte da nossa vida: "O som da turbina naquela/ tarde era como o som da/ turbina em qualquer dia da/ memória não fosse meu corpo/ agora outro dentro dessas/ roupas".

Ler os versos de Isabela nos faz mirar a solidão de uma pessoa que não chegou a existir, mas também a sonhar com a possibilidade de descobrir uma imensidão de gente que habita dentro de nós.

De fato, há de ser perigoso deixar as mãos livres para escrever, a mente aberta para refletir e imaginar a nós mesmos em um outro corpo, uma outra cidade, um outro sonho. 

Os pequenos versos que li do livro dela têm cheiro de mar e de saudade, mas também de exploração e descoberta. Nas palavras dela, "os pelos do braço em contato/ com a saudade".

Isabela nos convida a viver outras vidas pela sua poesia. Seus versos escavam a memória para revelar os outros alguéns soterrados sob seu nome, porque não aceita que viver seja apenas ajustar-se à "vida condensada/ neste agora frágil".

“Você lembra do exato momento em que poderia ter se tornado outra pessoa?”, a pergunta persiste. Cabe a nós imaginar.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.