Com quase 100 anos, caixas d’água do Benfica têm desgaste acelerado à espera de restauração; veja fotos
Projeto de recuperação do bem tombado foi anunciado em 2022, mas obras nunca foram iniciadas

Monumentos imponentes, erguidos no cruzamento entre a rua Antônio Pompeu e a avenida General Sampaio, no Centro de Fortaleza, as populares “caixas d’água do Benfica” foram inauguradas há quase 100 anos, e hoje sucumbem ao desgaste pelo tempo. Sem data para restauro.
Além do mato que cresce ao redor das estruturas e da ferrugem que deteriora as grades centenárias, parte do revestimento metálico de um dos reservatórios está cedendo, evidenciando a necessidade de reparos.
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Em março de 2022, foi anunciado um projeto de restauro, com o intuito de transformar o entorno em espaço de visitação e convivência, integrado a um Museu da Água e à Praça da Bandeira, em frente à Faculdade de Direito da UFC (a ser também requalificada).
A iniciativa, à época do anúncio, foi orçada em R$ 25 milhões, e uma maquete eletrônica do espaço chegou a ser divulgada (veja imagens abaixo).
O projeto resulta de parceria entre o Governo do Ceará, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), a Prefeitura de Fortaleza e a Universidade Federal do Ceará (UFC), mas não tem prazo definido para ser executado.
Em nota de março deste ano, a Cagece informou que o plano para restauro “encontra-se em fase de liberação de cessão por parte do município”, e reforçou que “não detém responsabilidade sobre as caixas d’água tombadas, que não são utilizadas como reservatórios”.
As estruturas, que datam de 1911 e foram inauguradas em 1926, pertencem à Prefeitura de Fortaleza, foram tombadas provisoriamente em agosto de 2011, e ainda aguardam proteção definitiva.
A Secretaria Municipal da Cultura (Secultfor) informou, também em nota, que uma reunião coordenada pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento de Fortaleza (Ipplan) buscou, no início de março deste ano, “dar continuidade aos trabalhos de recuperação e de intervenção”.
“Como encaminhamento da reunião, a Defesa Civil foi acionada e realizou uma vistoria da área externa, cujo relatório foi enviado para a Cagece, que deve garantir a preservação e segurança do equipamento até a liberação do projeto completo de restauro”, complementa o comunicado.

A Pasta confirmou, ainda, que o processo de cessão de uso do local à Cagece “está em curso”, e descreve a proposta apresentada pela equipe técnica da empresa hídrica.
“Consiste, inicialmente, em fazer a contenção da estrutura existente e, em seguida, intervir no conjunto para a proposição de um equipamento voltado à educação ambiental e a um espaço gastronômico”, detalha a Secultfor.
Para isso, a Pasta explica que a Cagece precisa do Termo de Cessão, que já está sendo providenciado pela Secretaria Municipal do Planejamento, Orçamento e Gestão (Sepog)
“O primeiro passo é a regularização do imóvel junto ao Cartório de Registro de Imóveis, com definição de matrícula do terreno. Sem intercorrências, esse é um processo que pode levar cerca de dois meses para ser concluído”, complementa.
A partir daí, a Sepog elabora o Projeto de Lei que regulamenta a cessão e encaminha para aprovação na Câmara Municipal de Fortaleza.
Museu é pensado desde 1990

As caixas d’água do Benfica – que se popularizaram assim, embora estejam no Centro – marcaram, em 1911, o início das obras de saneamento em Fortaleza, que tinha a distribuição de água feita por cacimbas e chafarizes públicos.
“O presidente do Estado do Ceará, comendador Antônio Pinto Nogueira Accioly, iniciou em 1911 as obras de abastecimento de água e esgoto sanitário em Fortaleza, com a montagem de duas caixas d'água de ferro na Praça Visconde de Pelotas (depois Praça da Bandeira)”, resgata o historiador Miguel Ângelo Azevedo, o Nirez, em publicação.
De acordo com registros do Governo do Estado, a localização foi escolhida devido ao declive natural do terreno, o que facilitava a circulação da água pela gravidade.

Em 1912, contudo, Accioly foi deposto do cargo e as obras foram paralisadas. “Os trabalhos foram retomados com a reforma geral das caixas e a colocação de novos canos para a água e o esgoto. Em maio de 1926, acontece a inauguração”, recobra Nirez.
Hoje, as caixas estão em desuso.
A intenção pública de criar um espaço cultural e de resgate histórico no local não é inédita. Em dezembro de 1990, o Governo do Estado anunciou que os reservatórios seriam transformados no “Museu do Saneamento”, como registra a edição do Diário do Nordeste de 15 de dezembro daquele ano.
“A primeira providência foi restaurá-las, tendo o serviço sido iniciado. Dentro de 120 dias, estará concluído. A área será urbanizada. A decisão levou em consideração o valor histórico das velhas caixas d'água, ameaçadas de desmoronamento”, registra o texto. A obra nunca aconteceu.
Veja imagens antigas das caixas d’água do Benfica






