De prédios históricos a grafites, projeto aponta 50 patrimônios em Fortaleza; veja locais
Foram catalogados 14 patrimônios na Parangaba, 11 na Jacarecanga, 10 na Sabiaguaba, 8 no Serviluz e 7 no Jangurussu. Em 2023, o projeto Patrimônio Para Todos já teve início e começou pelo Canindezinho
Olhar para elementos do cotidiano por outra perspectiva e encontrar no dia a dia pessoas, saberes, lugares ou costumes que merecem reconhecimento. É isso que o projeto Patrimônio Para Todos, realizado pela Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho, busca que jovens participantes façam ao proporcionar a eles uma nova forma de ver o ordinário, o comum.
Se no fluxo da política pública tradicional o patrimônio cultural chega à comunidade de forma “vertical”, regulamentada por um órgão, com as oficinas de educação patrimonial são os próprios participantes que identificam referências de relevância cultural e afetiva para o bairro onde vivem e as indicam como patrimônios. Em 2022, foram indicados 50 deles em cinco bairros: Parangaba, Jacarecanga, Sabiaguaba, Serviluz e Jangurussu.
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A educação patrimonial é trabalhada no projeto como uma forma de ampliar esse grupo que participa dessa discussão. “Não só no sentido de indicar, mas também de poder inventariar, reconhecer, pesquisar, estudar”, explica Hannah Mariah, coordenadora do projeto. “Entendemos que quem deve ser o protagonista são os sujeitos detentores dessas próprias referências culturais.”
A Educação Patrimonial é um instrumento de “alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. Este processo leva ao reforço da autoestima dos indivíduos e comunidades e à valorização da cultura brasileira, compreendida como múltipla e plural.
Também é por meio dessa metodologia que a Escola quer ensinar os jovens participantes a valorizar e a cuidar os bens materiais e imateriais. "A educação vem para dizer para esses jovens que isso (o patrimônio) é importante, que é importante registrar, guardar. É como se você guardasse um tesouro. Então, são os tesouros que temos que cuidar", diz Maninha Morais, gestora executiva da Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho.
Tudo pode ganhar status de patrimônio: um grupo de jovens que joga xadrez, uma cozinha comunitária, o pôr do sol visto do topo de uma duna, grafites em um muro, uma casa repleta de lembranças, o manguezal, pessoas que são verdadeiras guardiãs de memórias.
Em uma semana de oficina, os participantes do projeto têm contato com conhecimentos sobre produção textual, uso das novas tecnologias digitais, audiovisual e uso de redes sociais. “É um tempo muito curto, mas que muitas das vezes faz florescer algo nesse sentido de repensarmos o nosso bairro como um local que existe e que produz cultura”, afirma Hannah Mariah, que foi participante do Patrimônio Para Todos na edição de 2022.
O projeto existe há 15 anos. Em 2012, a iniciativa recebeu o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que reconhece nacionalmente ações de excelência para preservação e promoção do Patrimônio Cultural Brasileiro.
Patrimônios invisibilizados
Em 2023, pelo segundo ano consecutivo, o projeto tem o tema "Patrimônios (in)visíveis" e foca em bens, saberes e fazeres culturais referências para as comunidades locais. Podem entrar nessa lista tanto aqueles já reconhecidos e tombados pelo poder público quanto outros locais, costumes e pessoas que ainda não foram catalogados.
"Fazemos muito esse diálogo de entender que o patrimônio não é só aquilo que já foi registrado ou tombado. Entendemos que o patrimônio também é corriqueiro, ele também é ordinário, no sentido de estar ali sempre. E por isso também que ele é extraordinário", afirma Hannah Mariah.
No ano passado, foram indicados 14 patrimônios na Parangaba, 11 na Jacarecanga, 10 na Sabiaguaba, 8 no Serviluz e 7 no Jangurussu. Todo esse processo, segundo Maninha Morais, gestora executiva da Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho,é uma troca de informações. "Nós começamos com os conceitos e depois vamos para a prática, aí eles que vão dizer o que acham importante como patrimônio para aquela comunidade."
Neste ano, o projeto está percorrendo mais cinco bairros: Canindezinho, Mucuripe, Poço da Draga, Serrinha e Conjunto Ceará. Na última quinta-feira (31) os participantes foram a campo no Canindezinho, e o seu Centro Cultural foi o primeiro destino. A Igreja Matriz de Canindezinho foi cenário para entrevista com uma antiga moradora.
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Para Estênio da Silva, 32, o projeto mexe com a memória afetiva. "Realmente me envolveu porque mexe bastante com a memória da gente, a memória afetiva, do passado, de como era a dificuldade, como melhorou, o que trouxe de bom, o que afastou de ruim", conta.
Além disso, o projeto o tem feito ter novas experiências e perceber elemento que não conhecia, mesmo morando no bairro há tanto tempo. Ele destaca os patrimônios imateriais. "Todos têm noção, sabem que é um evento, mas não tem essa noção de que é um patrimônio da gente, do bairro. Um festejo, um evento que acontece num espaço como esse, é um patrimônio que é da gente, que a gente não vê, não toca, mas se torna, sim, um patrimônio cultural, memorial para todos nós moradores do Candidezinho", conta Estênio.