Prédio histórico Casarão dos Fabricantes começa a ser restaurado; veja projeto e como irá funcionar
Equipamento passou um incêndio há cerca de 3 anos; a previsão é de que ele esteja em pronto até julho de 2024
Quase três anos após ter sido atingido por um incêndio de grandes proporções, o Casarão dos Fabricantes, prédio histórico onde funcionava comércio têxtil, começa a ser restaurado. No local, oficialmente nomeado de Palacete da Avenida Central, será erguido um novo equipamento de três pavimentos, com boxes de vendas de roupas, setores administrativo e de serviços e praça de alimentação. A expectativa é que ele esteja em funcionamento até julho de 2024.
As obras tiveram início em julho deste ano e estão atualmente em fase estrutural, com a execução das fundações. Por tratar-se de um bem tombado pelo município de Fortaleza, foi necessário seguir uma série de etapas antes da reabilitação do imóvel. As informações são de Lucas Rozzoline, sócio de Lilian Vidal na Studio Rozzoline, empresa responsável pela obra.
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Segundo o arquiteto, todo o desenvolvimento foi acompanhado pela Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor) e aprovado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural de Fortaleza (Comphic).
A reunião do Conselho no qual o projeto foi aprovado ocorreu no dia 12 de janeiro de 2022, e a ata do encontro foi publicada no Diário Oficial do Município no dia 23 de junho seguinte. Na ocasião, o projeto de restauro foi votado e recebeu sete votos favoráveis. Dois conselheiros abstiveram-se por considerarem que “a mudança (no imóvel) foi muito brusca”.
Em maio de 2023, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) autorizou a obra no endereço do Palacete da Avenida Central. O alvará de construção tem validade até 29 de maio de 2028, conforme o relatório de processos deferidos naquele mês.
O que o projeto prevê
Do prédio original, o projeto prevê a preservação das fachadas externas da avenida Alberto Nepomuceno e da rua Rufino de Alencar. “As subdivisões internas infelizmente foram bastante comprometidas pelo sinistro, e recebemos, para elas, a orientação para demolição”, explica Rozzoline.
O arquiteto aponta que a construção terá elementos que remetem à estrutura prévia do Casarão dos Fabricantes, como uma soleira que se estenderá ao longo do percurso correspondente às paredes originais internas. “Está também em curso um estudo de prospecção histórica, para resgatar as cores originais da edificação”, complementa.
Alguns pontos, como pináculos (pontos mais altos de um local, edifício, etc.) presentes na fachada, serão recuperados. Outros, por sua vez, são propositalmente diferenciados. O objetivo é deixar claro o que faz parte da edificação prévia e o que é novo. “Há um trecho complementar de fachada, na rua Rufino de Alencar, que terá clara distinção material e visual”, afirma o arquiteto.
Em parecer técnico da Coordenação do Patrimônio Histórico-Cultural (CPHC) da Secultfor datado de dezembro de 2021, a pasta foi favorável ao projeto da Studio Rozzoline, desde que fossem cumpridas as premissas do projeto e das respostas aos questionamentos contidos no documento.
À época, foi apontada a falta de piso podotátil. Esse aspecto, segundo o arquiteto, já foi ajustado.
Por meio de nota, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) informou que vem acompanhando a situação do Casarão dos Fabricantes. “No dia 25 de agosto ocorrerá nova reunião do MP com a Secultfor e o proprietário do bem com o intuito de atualizar o órgão ministerial sobre a situação do Casarão”, afirma.
No comunicado, o Ministério afirma que apenas após o encontro poderá repassar informações mais atualizadas sobre o caso.
A reportagem entrou em contato com a Secultfor e com a Seuma, mas não recebeu retorno das pastas até o fechamento desta matéria. O proprietário do imóvel também foi contactado pelo Diário do Nordeste, mas não quis conceder entrevista.
Prédio foi destruído em incêndio
Na noite do sábado, 5 de setembro de 2020, o Casarão dos Fabricantes foi atingido por um incêndio de grandes proporções. O imóvel, que tombado provisoriamente pela Prefeitura de Fortaleza, ficou com a estrutura interna destruída, assim como as mercadorias que eram comercializadas nos boxes. O incêndio foi controlado ainda na noite de sábado, por volta das 23h20.
Localizado ao lado do Mercado Central e da Catedral Metropolitana de Fortaleza, o Palacete da Avenida Central foi construído na primeira metade do século XIX. Segundo o documento da Secultfor, o terreno no qual foi o Palacete foi edificado já apresentava ocupação por volta de 1810, quando Fortaleza ainda era uma vila.
Inicialmente, o Casarão dos Fabricantes foi residência de uma família abastada. À medida que o Centro de Fortaleza transformou-se em um bairro majoritariamente comercial, o uso do imóvel também mudou.
“É, sobretudo, no decorrer no século XX, quando as transformações em Fortaleza, no que tange ao uso de sua área central e à expansão da cidade, acontecem em ritmos cada vez mais acelerados, que o Palacete Central teve diversificada suas finalidades de uso, heterogêneos ao que havia sido atribuído até então”, narra o parecer técnico.
Ao longo de sua história, o Casarão teve uso “ora institucional, ora comercial, ora hoteleiro, ora burocrático”. Nele, funcionaram o Hotel Central e repartições como a sede da Comércio e Distribuição de Agroquímicos do Ceará (Codagro), o Departamento de Estatística, a Câmara dos Vereadores, a primeira sede do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e o Polo Central de Atendimento Social à Criança e ao Adolescente.
“Também faz parte da história deste edifício o funcionamento da sede administrativa da Prefeitura de Fortaleza entre as segunda e terceira décadas do século XX”, diz o documento.