Após 9 anos em queda, mortes no trânsito de Fortaleza voltaram a subir em 2024, mostra relatório

Número foi puxado por ocorrências envolvendo ocupantes de motocicletas

Escrito por
Nícolas Paulino nicolas.paulino@svm.com.br
Dois motociclistas trafegam lado a lado em rua de Fortaleza; fundo é borrado em alusão à alta velocidade
Legenda: Agentes da AMC supõem que maior número de ocorrências com motos está aliado à alta velocidade
Foto: Thiago Gadelha

Após nove anos consecutivos de redução, as mortes de usuários do trânsito em Fortaleza, de pedestres a ocupantes de veículos maiores, voltaram a crescer em 2024. Em todo o ano passado, foram 184 óbitos, puxados principalmente por sinistros envolvendo motociclistas. Esse foi o maior valor desde 2021.

Os dados detalhados foram apresentados pela Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), no último sábado (28), durante um workshop promovido pela BICI, Global Designing Cities Initiative e a Prefeitura de Fortaleza. O Relatório Anual de Segurança Viária de Fortaleza 2025, que reúne todas essas informações, ainda será publicado.

O número mais atual representa um aumento de 17% em relação a 2023, quando foram contabilizados 157 óbitos. Já em 2022, foram 158.

Entre os dois anos, houve aumento de 33% no número de mortes entre os usuários de motocicletas, fossem pilotos ou garupeiros. Em 2023, foram 82 óbitos nesse grupo, número que disparou para 101, no ano passado.

Os ocupantes de motos continuam sendo as principais vítimas, representando 55% do total de mortes. Em seguida, aparecem os pedestres (32%), ciclistas (8%) e ocupantes de veículos de quatro ou mais rodas (5%).

Apesar dos números, entre pedestres e ciclistas, houve estabilidade nos dois anos.

Ainda segundo a AMC, as vítimas fatais são, em sua maioria, do sexo masculino (80%). A faixa etária mais afetada é a de 30 a 59 anos, que corresponde a 56% dos casos, seguida por pessoas com 18 a 29 anos (21%), acima de 60 anos (19%) e até 17 anos (4%). 

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Motociclistas também são os mais feridos

Em todo o ano passado, 13.881 pessoas ficaram feridas após sinistros no trânsito da capital cearense. Desse total, 78% também eram ocupantes de moto, seguidos por 12% de ocupantes de carro, 9% de pedestres e apenas 1% de ciclistas.

“Praticamente 80% das ocorrências que levam a ferimentos têm participação de motocicletas, nas vias de Fortaleza”, resume Saulo Santiago de Oliveira, gerente de estudos em mobilidade segura da AMC.

Desde 2016, a capital não registrava mais de 10 mil ocupantes de veículos de duas rodas feridos no levantamento.

Segundo o gerente, sinistros envolvendo motos têm maior probabilidade de serem graves. Os analistas da própria AMC têm a hipótese de que isso pode ter relação com a velocidade.

“A gente avança na redução das mortes, mas para feridos já temos tido dificuldade maior de reduzir o número. Desde 2020, olhando o somatório, que é puxado por motocicletas, temos tido aumento no número de feridos”, percebe.

Ultrapassar o limite de velocidade permitido é, conforme análise da Organização Mundial da Saúde (OMS), fator responsável por uma a cada quatro mortes no trânsito.

No mês de maio, agentes de trânsito realizaram sensibilização com pacientes vítimas de sinistros de trânsito no Instituto Dr. José Frota (IJF), maior hospital de traumas do Ceará, sobre normas de circulação viária.

Medidas para redução

Apesar dos registros negativos, destaca Saulo, Fortaleza ainda acumula uma redução de 50% nas mortes de trânsito, avaliando a última década.

O gestor destaca como principais indutoras para isso as políticas voltadas para proteger ciclistas e pedestres, usuários mais vulneráveis do trânsito. Entre elas, estão:

  • readequação da velocidade de ruas e avenidas
  • implantação de nova sinalização para esse público, como prolongamento de calçadas e ciclofaixas
  • criação de áreas de trânsito calmo
  • fiscalização sobre o comportamento de beber e dirigir
  • palestras educativas em escolas, distribuição de materiais informativos e ações nas redes sociais

Foto de rodovia larga em Fortaleza com 3 faixas ocupadas por carros, caminhões e motos; no asfalto, há a pintura de velocidade de 50 km/h
Legenda: Redução de velocidade é apontada como alternativa para minimizar risco de acidentes graves
Foto: Fabiane de Paula

Educação permanente

Ainda sobre os motociclistas, a AMC afirma realizar abordagens recorrentes para dar orientações sobre o uso correto do capacete, o respeito aos limites de velocidade e a importância da condução defensiva.

Além disso, os condutores são convidados a se inscrever no Curso de Pilotagem Segura para Motociclistas, oferecido gratuitamente pela Autarquia. As inscrições podem ser feitas pelo aplicativo AMC Trânsito ou no site da Autarquia. As turmas têm até 15 participantes e são formadas de acordo com a demanda.

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